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Noites Académicas na Covilhã
Sónia Miguel e Rita Moutinho e Ana Teresa Martins · quarta, 31 de agosto de 2016 · @@y8Xxv A Covilhã, com a sua jovem universidade, é reconhecidamente uma cidade estudantil, devido ao peso que esta população, oriunda das mais diversas partes do País, representa no conjunto da população em geral. Não admira, pois, que a vida noturna seja animada, com uma “movida” que atrai gente das cidades vizinhas. |
O Bar Académico é um dos locais de passagem obrigatória na noite da Covilhã. Foto: Tiago Pinheira |
22090 visitas 19 de Maio, Quinta-Feira, Covilhã. Está uma tarde de sol, sente-se o verão a chegar e o fim-de-semana aproxima-se. É quinta-feira e os estudantes preparam-se para ir sair, organizando um jantar onde juntam os amigos e dividem os custos entre si, tornando a refeição mais económica. As noites académicas são por tradição nas terças e quintas-feiras, havendo sempre jantares organizados pelos estudantes como preparação para a noite boémia. Estes, por norma, tendo aulas no dia a seguir, ou fazem direta ou apenas com algumas horas de sono resistem para não terem faltas às disciplinas. As noites prolongam-se, havendo convivência, álcool à mistura, e por vezes “a presença de estupefacientes”, tornando a noite divertida e vulnerável para aqueles que normalmente “não pisam o risco”. A noite continua, e após o jantar, os estudantes saem à rua, alguns já “alegres”, ou com “um grãozinho na asa”, gritando e cantando músicas de curso ou apenas na brincadeira uns com os outros. Dirigem-se ao primeiro bar, “Artbarô”, onde literalmente não há espaço pois o local, por ser pequeno, por hábito costuma estar cheio. Os estudantes vão pedir bebidas ao bar e trespassando a multidão o grupo vai-se perdendo, ficando separados entre todas aquelas pessoas. Parte do grupo permaneceu no “ArtBarô” e os restantes prosseguiram para o outro bar “Bar Académico”, mais conhecido por “BA”. Nomeando assim uma característica da Covilhã, o grupo exausto de subir as ruas da cidade, finalmente chega ao “Bar Académico”. Os jovens divertem-se, dançam e convivem com outras pessoas ganhando novos amigos. O copo na mão é um objecto constante. São cinco da manhã, e os que tinham ficado pelo “ArtBarô” chegam finalmente ao “BA” de encontro com o restante grupo, ficando novamente unidos. Em conjunto, decidem continuar a noite dirigindo-se à discoteca local “Kompanhia”, onde prolongam a diversão até às oito da manhã. O Sol começa a nascer, a música acaba, e os jovens, que na maioria se apresentam muito cansados, dirigem-se ou para casa ou directamente para a faculdade onde estudam – UBI. E assim se traduz uma noite académica.
Os anos do “Bairro Alto” Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. No tempo do “Bairro Alto”, na Rua 6 de Setembro, há cerca de quatro anos, a estreita rua de calçada, que hoje se vê vazia, era ocupada por uma enchente de estudantes, proporcionando um ambiente de vivacidade naquela zona da cidade da Covilhã. O local era o ponto de encontro que dava início à noite boémia, onde todos os estudantes conviviam decidindo para que bar se deslocariam, sempre com a presença de garrafas de vinho que os jovens adquiriam na tasca mais conhecida por “Tio Zé”. O clima nesta altura não era um inconveniente, pois estivesse frio ou mesmo a chover, o ambiente permanecia o mesmo, inclusive a quantidade de pessoas presentes. Aqui se verifica a diferença de energia relativamente aos dias de hoje, não só da resistência ao clima como ao convívio, agora menos notado. A interacção entre estudantes e respectivos cursos era mais ativa e o espírito mais académico. Cátia Moura, estudante de Engenharia Aeronáutica da Universidade da Beira Interior há quatro anos revelou a sua perspectiva sobre os “anos de ouro” do famoso local: “antes havia mais o espírito de conviver com pessoas desconhecidas, hoje reduzem-se mais ao grupo que conhecem (…) havia mais interacção entre cursos, todos os cursos na maioria se conheciam”.
Covilhã e as outras cidades Há um desafio que quem sai à noite na Covilhã tem de encarar: o subir e descer das ruas inclinadas e graníticas. Isto apresenta-se como uma desvantagem comparativamente às outras cidades, pois é visto como um obstáculo para quem quer usufruir da noite, exigindo esforço físico acentuado. Mas considerada uma cidade pacata, é possível também retirar várias vantagens que se destacam, desde a baixa criminalidade em relação a cidades maiores, até aos baixos custos dentro dos estabelecimentos e transportes, e à proximidade entre os estabelecimentos noturnos que evita o uso de transportes públicos. Abordado na Praça de Táxis, na zona do Pelourinho da Covilhã, Manuel Costa, taxista há 8 anos, em horário de trabalho, manifestou a sua revolta relativamente à concorrência desleal entre taxistas, afirmando que se praticam preços que “não são leais ao trabalho e às políticas tabeladas que o estado impõe”, facto que beneficia as “carteiras” dos estudantes. Marco Raposo, estudante de Engenharia Informática da UBI e natural de Lisboa revela que “em Lisboa é tudo muito caro, não é seguro, e é tudo longe. Tudo bem que há a UBER, mas não é o Félix.(…) em Lisboa ou sais e és assaltado, ou sais e és assaltado, não há alternativa, enquanto que na Covilhã podes estar na rua até às horas que quiseres. A Covilhã é uma cidade dedicada aos estudantes”. Já Sónia Miguel, natural de uma vila no interior, Proença-a-Nova, estudante de Comunicação da UBI, admite entre risos que “a noite na minha terra não é má, é um ambiente com pessoas que conhecemos na nossa vida toda”, contudo regista uma desvantagem: “O que é mau nisso é que vemos sempre as mesmas pessoas e já nos conhecem sendo que se tivermos uma atitude diferente do normal, julgam-nos”. A jovem desta maneira sobrevaloriza a “Cidade Neve” dizendo que sendo uma cidade estudantil há sempre possibilidade de conhecer novos rostos e o ambiente é mais descontraído e sem preconceitos. Sendo uma cidade pequena, é possível promover novos “djs”, nomeadamente os que são estudantes, como é o exemplo de João Mamede, estudante de Aeronáutica da UBI que conseguiu criar um estatuto devido ao seu estilo diversificado e inovador na noite académica. “A noite da Covilhã permitiu lançar o meu trabalho no mercado competitivo (...) a energia na cidade é muito boa, aderem bastante.”
Álcool, drogas e rebeldia De acordo com informação recolhida junto de estudantes universitários da Covilhã, verificou-se que num total de quinze pessoas, em média seis consomem frequentemente álcool. Ninguém revelou consumir somente drogas, mas sete admitiram o consumo esporádico de ambos. Apenas duas pessoas confirmaram não consumir nunca nenhuma destas substâncias. Hugo Carvalho, estudante de Informática na UBI, revelou já ter assistido a episódios caricatos: “Já vi pessoas a consumir drogas na noite (…) e acho que a situação se agrava em alguns locais, onde até já fui abordado por pessoas que queriam saber onde podiam adquirir o produto”. Covilhã, sendo uma cidade pacífica, não tem a popularidade negativa no que toca a vandalismo e destruição de propriedades públicas, destacando apenas uma desvantagem apontada pelos moradores locais, o barulho. “Eu compreendo o espírito académico dos nossos jovens, pois vivo numa cidade dedicada aos estudantes universitários. Mas de facto, ao morar num prédio onde alunos da UBI residem é caso para falar. Já várias vezes interrompi jantares de estudantes pelo barulho exagerado fora de horas”, afirma a idosa Maria Luísa, residente na Covilhã, num tom indignado. Os dois eventos mais marcantes na noite académica são constituídos pelas semanas de Receção ao Caloiro e pela Semana Académica. Durante os dois eventos a rotina repete-se: início da noite com um jantar entre amigos marcado pela bebida em abundância, depois um caminho cheio de cantorias e gritos constantes dos jovens até ao destino final, o pavilhão da Anil. Em ambos os eventos costumam ocorrer idas dos jovens às urgências do Hospital Cova da Beira devido aos exageros praticados.
A noite por quem a faz Muitos são os estabelecimentos que a Covilhã proporciona para usufruto dos seus jovens, sendo que existe uma certa competitividade entre os mesmos. Como forma de dinamizarem os seus espaços e aumentar o lucro são realizadas festas temáticas que tornam a noite mais atraente e viva. Exemplo disso são as festas de curso que os alunos da UBI organizam. De entre os estabelecimentos nocturnos há que realçar a discoteca “Kompanhia” que goza de certo prestígio, tal como afirma Ivo Benedito, coordenador de relações públicas na discoteca: “Por norma os nossos dias de abertura são quinta, sexta e sábado. Obviamente que à quinta-feira, sendo uma noite tipicamente académica, mobilizando os estudantes para que a noite corra bem, a afluência dos estudantes torna-se bastante considerável. Conseguimos mobilizar uma cidade inteira para a “Kompanhia” e o público é 99% académico”. A versatilidade da discoteca é outro ponto importante para o seu angariar de público, afirmando ainda Ivo que “sexta-feira temos um registo por norma mais alternativo, em que abrangemos público mas nem tanto académico, é a noite de mais público geral. Sem dúvida atraímos muita gente da Covilhã e arredores.” |
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