Jornal Online da UBI, da Região e do RestoDirectora: Anabela Gradim |
Entre um país e outro
Joana Isabel Gonçalves e Andrea Lopes Fonseca e Ana Fernandes · quarta, 20 de julho de 2016 · @@y8Xxv Aproximadamente 7400 quilómetros separam Portugal do Brasil. Cerca de nove horas de avião. Incontáveis de saudade. Vários são os estudantes que decidem partir em busca de experiência individual, através de programas de mobilidade, em estadas que podem durar de seis meses até um ano, ou até o tempo da Licenciatura. Seja a nível cultural, educacional ou social, a aprendizagem que se retira destas oportunidades é imensurável. A decisão de sair do país natal, arrumar as tralhas e ir à descoberta do novo é, muitas vezes, um factor de mudança na vida de quem opta por o fazer. A Universidade da Beira Interior é uma das instituições que anualmente recebe estudantes brasileiros para a realização destes programas, sobretudo através dos programas de bolsas de estudo Santander Universidades. |
Matheus Limoeiro, estudante intercambista do Brasil. Fotografia disponibilizada pelo mesmo. |
21983 visitas O despertador toca por volta das sete horas da manhã. O sol começa já a raiar, na linha do horizonte. Perto do céu, longe do mar, como dita o lema da cidade neve. Matheus Limoeiro, natural de Santo André, no Brasil, começa o seu dia “cedo para ir à UBI e almoçar no bar da biblioteca, depois da aula”. Depois, volta para o alojamento no qual está a residir, as residências Pedro Álvaro Cabral, onde geralmente ficam hospedados os estudantes que recorrem a estes programas de mobilidade. “Às vezes, passo pelo mercado municipal para comprar frutas frescas e deliciosas. Dedico-me à leitura de textos durante a tarde, e ao anoitecer, preparo o jantar com colegas brasileiros e estrangeiros”, conta Matheus, com um tom de voz sereno. Assim se passa um típico dia de semana para este brasileiro, que encontrou na UBI e na Covilhã a sua nova casa por seis meses. A frequentar o curso de Comunicação Social - Publicidade e Propaganda, na universidade MacKenzie em São Paulo, Matheus acredita que o programa de mobilidade “possibilita uma oportunidade enriquecedora em relação ao conhecimento e envolvimento com outras culturas” de várias formas. Ter contacto com novas experiências, conhecer novas pessoas, aprender a apreciar novas gastronomias, são situações que culminam no crescimento tanto pessoal, quanto social do indivíduo que se dispõe a conhecer uma nova realidade. A sua escolha de entrar nesta aventura recaiu sobre o facto de ter conseguido conquistar uma bolsa, que foi “financiada pelo programa Santander Ibero-Americanas”. Este programa de mobilidade em específico torna possível que se realizem intercâmbios entre o Brasil e Portugal, uma vez que são garantidas as equivalências às unidades curriculares do semestre em que o intercâmbio é realizado, assim como é concedida uma bolsa, no valor de 2,300 euros ao estudante. João Canavilhas, vice-reitor da Universidade da Beira Interior, acredita que “os programas de mobilidade (Erasmus, Santander, Fullbright e Almeida Garret) são importantes para os estudantes porque lhes possibilitam o contacto com realidades diferentes daquelas em que habitualmente se inserem”. À semelhança do programa Santander, também existem outros que proporcionam uma experiência semelhante e cujos acordos com a UBI estão em funcionamento, com universidades de outros países. Aquilo que os une é o seu objectivo. Estes programas são “processos de educação informal complementares ao processo formal que decorre nas salas de aula, contribuindo dessa forma para que o estudante enriqueça o seu currículo. Em paralelo, este contacto com outras realidades aproxima o que é diferente, tornando a sociedade mais aberta e tolerante”, realça o vice-reitor. Para Matheus, o processo de formalização da inscrição no programa Santander teve a duração de quatro meses. Haviam, no total, 15 vagas e o processo foi feito por fases. Primeiro, candidatou-se ao programa pelo site, e só então é que passou para o resto do processo. O maior obstáculo que sentiu, durante este processo de inscrição, centrou-se no pouco tempo disponível para a entrega dos documentos que lhe foram pedidos. A UBI, em Portugal, é uma das universidades “que apresenta várias vantagens a nível de programas de mobilidade”. A Covilhã, em comparação com cidades maiores, apresenta benefícios para se realizar um intercâmbio desta dimensão. João Canavilhas considera que alguns dos benefícios transversais de vir estudar para a Covilhã, são “o contacto com uma cultura diferente, um processo de ensino-aprendizagem de grande proximidade entre alunos e professores, laboratórios em todas as áreas ministradas e um ambiente de estudo imersivo”. Para Matheus, a cidade neve é “encantadora e diferente de São Paulo”, onde estuda. Uma das questões que mais o deixa satisfeito é o facto de ver serviços de “utilidade pública, como a saúde e o transporte, por exemplo, funcionarem bem, e de como há boa oferta de diferentes tipos de comércio e serviços aos moradores”. Este tipo de intercâmbios proporciona, além da experiência em si, uma imensurável troca de culturas entre o estudante que vem para Portugal e as pessoas com quem se relaciona. Matheus considera que este país, “apesar da proximidade linguística, é diferente e rico em diversos aspectos singulares, como a arquitetura, a arte, a história, a gastronomia, entre outros”. Variantes essas que lhe foi possível vivenciar presencialmente na sequência da vinda para o país, para realizar o intercâmbio. Relativamente às pessoas, também elas surpreenderam o jovem estudante. Matheus “estava receoso de sofrer algum preconceito por conta das diferenças na forma de falar, de vocabulário e, também, por questões culturais”, mas deparou-se com pessoas que são muito “solícitas, simpáticas e educadas”, como descreve. Já Natália Claudino, também estudante brasileira a realizar intercâmbio, do curso de Arquitetura e Urbanismo, na Universidade Fundação Mineira de Educação e Cultura, tem algo a acrescentar a esta opinião. “Senti que os portugueses não gostam muito de conversar com os estrangeiros. Nós brasileiros somos realmente muito calorosos, gostamos de pessoas, de ajudar o outro, de comunicar com qualquer pessoa e nesse ponto eu senti que os portugueses são um pouco diferentes”, revelou a brasileira. Com uma energia mineira contagiante, Natália conta que “o intercâmbio a nível profissional vai ser excelente, pois a maior vantagem é que no mercado de trabalho no Brasil, um estudante que possui um intercâmbio no currículo, já tem maiores chances de subir na carreira”. Desta forma, salienta-se a importância da realização destes programas de mobilidade que existem com o intuito de não só proporcionar uma experiência única ao estudante, como também de o ajudar profissionalmente. Realizar este programa do Santander, representou, para Natália, uma oportunidade de crescimento que lhe poderá “trazer apenas benefícios diante de conhecimentos e experiências vividas em outro país, de diferentes culturas e tendo um ensino em uma diferente universidade”. Para ela, a maior decepção tem sido “alguma falta de interesse dos alunos para com as aulas e a falta de presença dos mesmos”. Assim sendo, uma das grandes variantes entre o Brasil e Portugal é, sem dúvida, o ensino. São dois países com desenvolvimentos distintos e prioridades também variáveis. Na perspectiva de Matheus, que sempre se interessou bastante pela qualidade de ensino das universidades, “as diferenças entre o ensino superior brasileiro e o português são maioritariamente didáticas”. Para ele, “a formação nas universidades brasileiras diverge entre um pólo direcionado ao mercado profissional e outro à academia”. Por outro lado, em Portugal, “há um equilíbrio muito bem estruturado entre essas duas características, o que permite aos alunos a escolha de qual área de atuação pretendem exercer no futuro”. Uma caracterísca que, para Matheus, atribui ao Brasil um ponto positivo no que diz respeito ao ensino é o facto “das universidades portuguesas serem pagas, inclusive as públicas, diferentemente das brasileiras”, refere. À semelhança de Matheus, também Maria Clara Queiroga, estudante de Bioengenharia na UBI, veio para Portugal estudar por acreditar que esta experiência lhe iria abrir horizontes. A peculiaridade da vinda desta brasileira para Portugal centra-se no facto da mesma não o ter feito através do programa de mobilidade Santander Ibero-Americas, mas sim concorrendo pelo Exame Nacional de Ensino Médio (ENEM). Este é outro método disponibilizado pelas universidades, com o intuito de promover experiências de estudos em outros países. Este método tem a característica de ter a duração total do curso, ou seja, a inscrição é feita como se se estivesse a concorrer para o ensino superior através dos exames nacionais de Portugal. Maria Clara optou por frequentar a Universidade em Portugal pois “queria experiências novas e longe de todos os que conhecia”. Segundo Maria Clara, o intercâmbio é uma forma de sair da “zona de conforto e enfrentar situações que nunca enfrentaríamos próximos aos nossos pais, nos forçando a amadurecer e criar responsabilidades, além de ampliar nossos horizontes”. Existe uma grande troca cultural quando alguém viaja de um país para outro. Não só é uma viagem física, mas uma viagem social, de cultura, de saberes. É uma viagem individual, onde o indivíduo que se dispõe a tal começa a conhecer-se a si mesmo de uma forma nunca mais antes vista. Torna-se um cidadão mais ativo no mundo, torna-se um cidadão do mundo. Tanto Matheus, como Natália e Maria Clara, acreditam que estudar fora do país de origem abre caminhos para que se ampliem perspectivas, futuros, e se conheçam novas visões. Não se trata apenas de ir estudar para fora, trata-se, sim, “de realizar uma viagem tanto espiritual, quanto física, que modifica o indivíduo que a completa”. “A aprendizagem é a minha fonte de crescimento tanto profissional quanto como ser humano, e o contato com pessoas e culturas diferentes me despertaram o anseio por desvendar o novo e agregar valor para minha vida como um todo” conta Natália, com os olhos a brilhar. Desta experiência os três brasileiros levam muitos momentos, muitos ensinamentos, muita bagagem e lembranças. Maria Clara, que ainda tem alguns anos para estudar cá em Portugal, aprendeu que “o mundo está aí para nós conhecermos, e não passarmos uma vida no mesmo lugar, fazendo sempre as mesmas coisas, em uma rotina interminável”. Já Matheus está convicto que a maior aprendizagem que pôde tirar desta experiência, que para ele chega agora ao fim, após seis meses, é o diálogo multicultural. “Além de conviver diariamente com colegas portugueses, também mantive contacto com muitos estrangeiros e pude, assim, desconstruir estereótipos acerca de outros países”, acrescenta. Desta forma, visualiza-se a veia transformadora que um intercâmbio pode proporcionar. No caso do exemplo abordado, o do Brasil, apesar da língua falada ser próxima, existem vários factores, entre eles a gastronomia e até o próprio ensino, que são distintos. Quando se toma, então, a tal decisão de partir em busca do novo, está-se verdadeiramente a entrar num barco em que seguir a navegar é a única opção para alcançar terra firme. Os programas de mobilidade oferecidos pela universidade visam o crescimento social e individual do estudante e oferecem vantagens de um futuro com várias perspectivas. Entre a saudade e chamadas intermináveis para casa, conhecem-se não só diferentes realidades, como se criam amizades com pessoas de outros países. Educam-se pessoas para se tornarem cidadãos do mundo, para o conhecerem e expandirem horizontes. Criam-se lembranças e interiorizam-se ensinamentos para uma vida. |
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