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FAS por ti
Alexandre Mourão Santos e José Pedro Barata · quarta, 24 de agosto de 2016 · @@y8Xxv O programa do Fundo de Apoio Social (FAS) dá apoio a todos os alunos da Universidade da Beira Interior (UBI) que comprovem alguma carência monetária e que tenham visto a sua bolsa de estudo do Estado rejeitada. Tem-se constituído, ao longo dos anos, como um apoio importante a alguns estudantes, que de outra forma não poderiam prosseguir os seus estudos. |
Bar das Engenharias - Um dos locais que recebe alunos do FAS |
21984 visitas Os alunos sabem deste programa, muitas vezes, pelo “passa palavra” entre amigos. Ivanna Pasichnyk conta que conheceu o FAS através de “uma colega da turma, que me informou sobre esta oportunidade e explicou como funcionava”. “Foi através de alguns amigos e pela internet que tive conhecimento desta oportunidade”, confessou Edgar Silva, aluno de Engenharia Informática. E que oportunidade é essa? É uma oportunidade para os alunos “conseguirem demonstrar o que valem” já que têm de saber conciliar o trabalho com os estudos na universidade. São 8:30h da manhã no Bar das Engenharias. Dona Manuela começa a preparar tudo para que nada falte aos alunos durante o longo dia de aulas. Liga-se o rádio, e começam a tocar as músicas que dão um ambiente ainda mais jovem ao local. Os bolos e salgados já estão todos expostos na vitrina, e o café para os galões já está a ferver. “Tem de estar tudo afinado para não falhar nada” refere a funcionária do bar. À conversa com Dona Manuela, enquanto é servida mais uma tosta mista, esta conta que “antigamente existiam mais funcionários, mas depois entraram para a reforma e começaram a surgir algumas falhas. É por isso que o programa FAS foi criado, para ajudar os alunos, mas também para combater as falhas existentes”. Às 10h00 chega Dona Sara, que faz uma dupla incansável com Dona Manuela. A hora do intervalo está a chegar e é preciso colocar os produtos mesmo prontos para saírem mal sejam pedidos. Chega então a hora do chamado “aperto”. Às 11h00, os alunos saem das aulas e deslocam-se até ao bar. A fila junto à caixa começa a aumentar e os pedidos começam a surgir. “São duas sandes mistas, um galão e um café para estes meninos”, grita Dona Manuela para um dos tarefeiros. Prontamente o aluno desloca-se para a copa e elabora o pedido. O cheiro característico do café e as conversas entre alunos e professores tomam conta da sala. O intervalo é curto e logo o bar fica deserto. As mesas, cheias de louça, são limpas imediatamente e a sala volta à normalidade São 12:00h. Chegou a hora de almoço e é altura dos universitários se deslocarem até às cantinas da Universidade. A do Pólo das Engenharias e da Cantina de Santo António. Centenas de pratos estão a ser servidos, e os “tarefeiros” ajudam os funcionários a atender os alunos. Uma das funcionárias da cantina chama a atenção a Cristiano por este estar a mexer no telemóvel em horário de trabalho. “São todos trabalhadores, mas por vezes é preciso chamarmos os miúdos à atenção porque fazem coisas que não devem”. Apesar disso, acrescenta que “o rendimento e a qualidade de serviço mantêm-se sempre, embora tenhamos mais trabalho quando eles não podem vir trabalhar devido aos seus compromissos pessoais”. Levantam-se as últimas pessoas, e a equipa de funcionários do refeitório prepara-se agora para almoçar, já perto das 14:30h. “Sabe bem descontrair e matar a fome depois de meio-dia de trabalho. Nunca pensei que fosse tão cansativo servir almoços numa cantina, mas estou aqui para juntar algum e obter dinheiro para o pagamento das propinas”, refere Sónia, aluna de Ciências da Comunicação e tarefeira do programa FAS. À mesma hora, no bar central da Universidade o trabalho também não pára. Os alunos e professores aparecem continuamente e os funcionários não têm mãos a medir. No entanto, nem sempre estão aqui alunos a trabalhar, o que “duplica o nosso trabalho, cansando-nos mais. Por conseguinte o tempo de espera aumenta e o serviço fica mais lento.” Por isso, “o apoio dos alunos é essencial para manter o bom funcionamento dos bares”. Em jeito de desabafo, uma das funcionárias quis quebrar o silêncio e revelou alguns momentos cinzentos que se vivem no dia-a-dia destes bares, locais onde toda a gente passa e quase ninguém dá conta da realidade ao redor: “Não fazem ideia de quantos miúdos chegam aqui e contam os trocos para poderem pagar um simples pão com manteiga”. A mesma funcionária, que não quis ser identificada, conta que “há um aluno que aparece aqui todos dias e apenas pede uma sopa para o almoço por não ter dinheiro para mais. Isso deixa-nos revoltadas e demonstra uma coisa simples: A pobreza é silenciosa!”. Os vários alunos eleitos no programa têm que se desdobrar e gerir bem o seu tempo para conseguirem conciliar os estudos e o trabalho. Sónia Miguel conta que “Na vida temos tempo para tudo. O truque está em saber gerir esse tempo da melhor maneira”. Acrescentou ainda que com isto tudo, “aprendemos a trabalhar, aprendemos a valorizar o dinheiro porque o ganhamos com o nosso trabalho, conhecemos muita gente nova, aprendemos a gerir o nosso tempo, sentimo-nos uteis e mais independentes.” Já Edgar Silva confessa que não conseguiu ter aproveitamento a uma ou outra disciplina porque o trabalho no bar “rouba tempo de estudo”. Estar num curso de engenharias traz ainda mais responsabilidades pois a partir do momento a que se falta a uma aula e não se consegue acompanhar a matéria torna-se muito complicado “apanhar o comboio”, concluiu Edgar. Passam agora 30 minutos das 18 horas. O bar das Engenharias está prestes a fechar. Dona Manuela saiu às 18h00 e hoje é dia da Dona Sara fazer fecho. Contam-se os últimos trocos e fazem-se as contas finais do dia. “É assim a nossa labuta. Todos os dias assim. É uma rotina, mas sabe bem porque nunca estamos parados”, afirma Dona Sara, já com um ar cansado. “Ainda há ali uma mesa com migalhas, não me posso esquecer de a limpar, que amanhã tem de estar impecável”, transmitiu, entre sorrisos. Uma hora antes fecha o bar central, mas o trabalho não acaba ali. A enorme sala ainda promete dar pano para mangas. O chão tem de ser lavado e a esplanada arrumada. “As pessoas que passam aqui e não trabalham nisto não têm a noção do trabalho que isto precisa” afirmou uma das funcionárias que não quis ser identificada. O dia chega ao fim. E os “tarefeiros”, a esta hora já estão em casa. O dia de amanhã ninguém o sabe e por isso há que começar a ganhar experiência e rotinas de trabalho, mesmo que seja por poucas horas e a responsabilidade não seja a maior. Há que realçar o esforço que a Universidade da Beira Interior faz em querer ajudar os alunos que mais precisam. As famílias que todos os meses fazem contas à vida ganham, assim, um balão de oxigénio. |
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