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Projeto Dez cultiva cânones
Oana Gabriela Pauca · quarta, 25 de maio de 2016 · "Cânone, cânones: o bom gosto e o bom senso" é o nome da conferência que teve lugar ontem, dia 24 de maio, no Auditório da Biblioteca Central da UBI. Onésimo Teotónio de Almeida foi o convidado de honra para conferenciar no âmbito do "Projeto Dez" da Licenciatura de Ciências da Cultura. |
Onésimo Teotónio de Almeida durante a conferência sobre o tema "Cânone, cânones: o bom gosto e o bom senso" |
21982 visitas A conferência, que teve início às 10h da manhã de ontem, veio a ser mais uma das diversas atividades promovidas pelo Curso de Ciências da Cultura e contou, desta vez, com um orador bastante conceituado, o açoriano Onésimo Teotónio de Almeida. Este veio à UBI falar sobre os cânones e a dificuldade que há em escolher as obras literárias pertencentes a um cânone a definir. Onésimo Teotónio de Almeida, docente numa das mais prestigiadas universidades norte-americanas, a Brown University, elaborou sobre o tema dos cânones literários, que são bastante debatidos nos Estados Unidos da América e referiu o livro "The Western Canon", de Harold Bloom, que apresenta a mais extensa lista de obras literárias provenientes de todos os cantos do planeta. Mas Onésimo não acredita que Bloom tenha lido todos os livros que refere e sustenta a ideia no "Cânone, cânones em reflexões dialogadas" que escreveu juntamente com a sua esposa. O docente admite ter um especial gosto pelos "cânones clássicos" que eram ensinados em aulas e conta, ainda, que o cânone nacional foi moldado num regime conservador e as marcas disso são visíveis, uma vez que autores como Aquilino Ribeiro não pertence, e de Fernando Pessoa inclui-se a "Mensagem", deixando os seus heterónimos para trás. Também o facto de autores dos arquipélagos não pertencerem à lista, a não ser aqueles que se "continentalizaram" é alvo de crítica para Onésimo Teotónio de Almeida, que conta que "há muitos escritores das ilhas que são realmente bons e que não são tão conhecidos quanto os do continente". Onésimo dá conta de que hoje em dia os jovens conhecem obras literárias, mas por vezes somente pelo nome e pelo autor. Nesse contexto, o açoriano explica que é importante que os jovens aprendam a ler literatura, e isso só poderá acontecer se estes lerem a obra. "É preferível que um aluno leia um livro e conheça bem a obra, do que leia pedacinhos de várias mas depois não saiba argumentar devidamente sobre nenhuma delas", sustenta o docente. Foi essa a sua principal mensagem, precisamente por reconhecer a liberdade existente nos dias que correm, bem como a quantidade de obras que são produzidas e às quais é dada, segundo Onésimo Teotónio de Almeida, "maior atenção do que às peças antigas, mas apenas por serem modernas e não por serem melhores". O docente considera que as antigas obras literárias estão cada vez mais a cair no esquecimento, sendo que muitas delas deixaram de ser reproduzidas e são difíceis de encontrar. "É uma vergonha, mas é a realidade", exclama o açoriano, relembrando que até há alguns anos atrás, certas obras eram de leitura obrigatória no ensino secundário, e explica que as universidades dos Estados Unidos prezam muito a leitura integral das obras a estudar. Para Onésimo, o mais importante na aprendizagem literária não é o autor da obra, mas sim a leitura da mesma, "procurando sempre entendê-la e, de preferência, conseguir desenvolver um texto com pés e cabeça sobre". Atendendo à dificuldade que há em definir um cânone a estudar, os professores universitários deverão sempre optar por autores diversificados, mas sempre de qualidade. "Não importa se é branco ou se é chinês, importa se tem qualidade", diz Onésimo sobre os critérios de escolha das obras a lecionar nas aulas, e ainda acrescenta que se deve ter "um espírito aberto e um olhar atento". Esta conferência, organizada pelo professor da casa, Gabriel Magalhães, surgiu no âmbito do "Projeto Dez" da Licenciatura em Ciências da Cultura, e visa proporcionar aos alunos referências fundamentais do mundo das artes. O docente ubiano explica que o principal objetivo desta conferência foi dar a conhecer a forma como funciona o ensino nos EUA e em especial na Universidade de Brown, realçando a "abertura de espírito com que se trabalha e o facto de exigirem que as pessoas conheçam as coisas, não que conheçam o que se acha delas". "O importante é olhar para a pintura, não se o pintor é ou não famoso; é ler os livros, não se o escritor tem renome", diz Gabriel Magalhães, considerando que "este método de trabalho deveria ser adotado pela Universidade da Beira Interior". O "Projeto Dez", que visa enriquecer o património cultural dos alunos de Ciências da Cultura, conta já com várias sessões desenvolvidas, entre elas "Dez filmes", no âmbito do cinema, "Dez obras de arte do Ocidente", no âmbito da pintura, "Dez ideias sobre Espanha", entre outros. A abertura desta conferência ficou a cargo do Magnífico Reitor, António Fidalgo e do professor Gabriel, sendo que foi feita uma breve introdução à vida e obra de Onésimo Teotónio de Almeida, que já conta com uma relação de longa duração com a universidade beirã. |
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