Jornal Online da UBI, da Região e do RestoDirectora: Anabela Gradim |
Desemprego e mudança de Governo
José R. Pires Manso · quarta, 18 de maio de 2016 · O desemprego no país e na região subiu ou baixou? E o emprego cresceu ou desceu? E na B. Interior, como se têm comportado? |
21952 visitas Segundo dados recolhidos INE através do seu “Inquérito ao Emprego: População empregada com idade entre 15 e 74 anos, ajustada de sazonalidade” e acabados de publicar recentemente havia em novembro último 4.495.400 pessoas empregadas em Portugal. Segundo o mesmo INE, a estimativa para março deste ano aponta para um número inferior: 4.475.900, ou seja, exatamente, menos 19.500 empregos. É verdade que o primeiro é um valor real enquanto o segundo é uma estimativa que a realidade pode ou não confirmar. Foi esta diferença que levou o ex-primeiro ministro do anterior governo, Passos Coelho, a afirmar e num gesto de reprovação da ação governativa de António Costa e seu atual governo, que “Entre novembro e o princípio de março, cerca de 20 mil empregos foram destruídos”, pelo que este ano não haveria razões para comemorar o 1º de Maio. A propósito desta afirmação gostaríamos de chamar a atenção dos leitores para as oscilações e coerência do discurso nos períodos em que estão no governo e naqueles em que estão na oposição, e isto independentemente dos partidos a que pertencem. Por exemplo, o atual líder do PSD e da oposição, Passos Coelho, quando, em 2012, era acusado de ter destruído postos de trabalho afirmou que “não são os Governos que criam empregos, como toda a gente sabe”/(ia) alijando assim responsabilidades pela destruição de muitos milhares de postos de trabalho, mais concretamente 203.400, segundo as contas do Público que vieram à luz esta semana (4/5), e que tiveram muito que ver, entre outras, com as muito duras medidas de austeridade e com a aprovação de alterações legislativas que precarizaram (ainda mais) o emprego que o seu governo aplicou entre 2011 e 2015. Para entender este assunto há que separar o trigo do joio pois que a evolução e explicação não são lineares. De facto, em setembro de 2015, com o anterior governo, o número de empregos era de 4.475.400, segundo o mesmo INE (e representava uma descida face ao mês anterior de quase 10 mil postos de trabalho), logo menor do que o de hoje. Mas o número de empregos subiu em outubro e de novo em novembro (P. Coelho), descendo em dezembro e em janeiro e voltando a subir em fevereiro e março (A. Costa). Mas se virmos o número dos sem trabalho, vemos que há hoje menos desempregados. E ao mesmo tempo vemos que há também menos empregos como já referimos atrás. As estatísticas mensais do desemprego do IEFP mostram que em novembro pp estavam inscritos 550.250 desempregados e em março 575.075, logo cerca de mais 25 mil. Mas estes números estão parcialmente maquilhados já que em novembro pp, havia cerca de 50 mil desempregados que não integravam as estatísticas, por estarem a beneficiar de “políticas ativas de emprego”, como os contratos emprego-inserção sendo agora apenas cerca de 15 mil, logo menos 35 mil. O atual Governo, designadamente o ministro Vieira da Silva, considera que este tipo de medidas não produz um efeito real limitando-se a retirar pessoas do desemprego, distorcendo os números, de forma temporária; segundo este ministro (Vieira da Silva) “estes contratos subsidiados pelo IEFP não passavam de empregos falsos e de estágios pagos a peso de ouro”. Havendo menos 30 mil “empregados” deste tipo, os números do desemprego até subiram, sem que tenha aumentado o número real de desempregados. O saldo entre o aumento dos desempregados inscritos (mais 25 mil) e a redução do nº de beneficiários de programas de emprego e formação (menos 30 mil) deixa até um saldo positivo de 5000 novos empregos. Em função destas oscilações é difícil extrair conclusões políticas e atirar pedras para um ou outro lado da barricada. E o que pensarão as instituições internacionais, BCE, FMI e CE-Comissão Europeia, sobre esta manipulação dos números do emprego/desemprego? A CE e o FMI chegaram a avisar o Governo de Passos Coelho de que este tipo de “contratação” estava a tornar demasiado otimistas os números do emprego em Portugal, tendo a CE acrescentado que “as políticas ativas de emprego parecem ter desempenhado um papel crucial na redução do desemprego no último ano com um aumento de 25% do número de colocados”, que “essas medidas têm de ser cuidadosamente monitorizadas para garantir que são efetivas”. Também, no final de 2014, o FMI chamou a atenção para que os efeitos das políticas ativas de emprego nas estatísticas deviam ser relativizados, pois que elas “São uma advertência contra as expectativas de que este ritmo de criação de emprego pode ser sustentado”.
E na Beira Interior como tem evoluído o desemprego? Feita esta referência ao emprego e desemprego nacional põe-se agora o problema de saber como têm evoluído, entre as duas datas atrás referidas, estas variáveis nalguns dos principais centros urbanos da BI, nomeadamente na Guarda, Covilhã e Castelo Branco a que decidimos juntar Seia, Fundão e Sabugal. Começando pela Covilhã, por ser o concelho que apresenta mais desempregados, podemos dizer que em março de 2016 havia neste concelho 3125 desempregados, a que se seguia C. Branco com 2851, depois a Guarda 2072 e Seia com 1164, Fundão 1704 e Sabugal 403. Em novembro último quando houve transição de governo o desemprego nos mesmos concelhos era de 2978 na Covilhã, contra 2468 em C. Branco, 1967 na Guarda, 1119 em Seia, 1554 no Fundão e 357 no Sabugal. Comparando os valores constata-se que de novembro para março houve, em todos estes concelhos, ou um agravamento do número de desempregados, ou uma redução do número de desempregados que deixaram de estar envolvidos em estágios e outras políticas ativas de emprego, uma forma muito usada na parte final da antiga legislatura a pensar justamente no período eleitoral de então. Em termos de características ou perfil do desempregado maioritário em março deste ano na Covilhã, Seia, Fundão e Sabugal entre ambos os sexos predominava o desemprego dos homens, enquanto em C. Branco e Guarda predominavam as mulheres. Em todos os centros concelhios referidos eram prevalentes os desempregados há mais de um ano (de longa duração) e os que procuravam outro emprego que não o primeiro. Por habilitações predominavam na Covilhã os habilitados com o ensino secundário seguidos dos do 3º ciclo do Ensino Básico (CEB), depois dos do 1º CEB, dos do superior, dos do 2º CEB e dos que têm menos do que o 1º ciclo EB. Por sua vez em C.B. predominam os do secundário, seguidos dos do 3º CEB, dos do 1º ciclo EB, do superior, do 2º CEB e dos com menos do que o 1º CEB enquanto na Guarda o grupo maioritário era o do 3º ciclo EB, seguido do secundário, do superior, do 1º CEB, do 2º CEB e finalmente dos que não atingiram o 1º ciclo. Em todos os concelhos referidos predominam também os desempregados da faixa etária dos 35-54 anos, seguidos da faixa dos 55 ou mais anos, logo pessoas já com alguma idade e experiência profissional em detrimento dos mais jovens ou com menos de 34 anos. As ofertas de emprego nestes concelhos representaram neste mês de Março 2016 apenas uma média de 4% do número total de desempregados da região, enquanto o número de colocados neste mês não ultrapassou em média 3.3% do total dos desempregados pelo que aos milhares de desempregados da região, como aliás do resto do país. Em função do que se acaba de dizer podemos concluir que não resta aos desempregados da região, nomeadamente aos mais jovens, muito mais do que esperar que por milagre apareça alguma oferta de trabalho adequada ao seu perfil ou tentar a sorte, na senda das centenas de milhares que o fizeram nos últimos anos, no estrangeiro também em crise, é bom afirmá-lo, em busca daquilo que o seu madrasto país lhes nega na sua própria terra, “neste jardim à beira-mar plantado”, segundo as sábias e melodiosas palavras de um famoso escritor inglês. |
GeoURBI:
|