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"Crise dos Refugiados na Europa" em debate
Carla Sousa · quarta, 11 de maio de 2016 · Na conferência subordinada ao tema "A Crise dos Refugiados na Europa", que teve lugar na Universidade da Beira Interior (UBI), Adriano Moreira defendeu que, nesta situação, "aquilo que começa por estar em causa é a Organização das Nações Unidas". A iniciativa surge integrada no programa de comemorações dos 30 anos da universidade e decorreu no dia 3 de maio. |
Adriano Moreira durante a conferência |
21972 visitas Para o antigo Ministro do Ultramar, a crise dos refugiados está a colocar em causa dois “pressupostos fundamentais” das Nações Unidas, nomeadamente o mundo único e a casa comum dos homens. “Eu acho que esta crise está muito fixada nas preocupações europeias, eu julgo que é preciso ir mais longe, aquilo que começa por estar em causa é a Organização das Nações Unidas, porque as Nações Unidas têm dois pressupostos fundamentais, que por isso mesmo não estão escritos, e que são o mundo único e a casa comum dos homens e nós entramos em 2016 e o mundo não está único, continua dividido por conflitos tremendos e a casa comum dos homens também está numa decadência de tal ordem que esse princípio também não está em vigor”, sublinha. Por essa razão, defende que na atualidade se vive numa situação “que não é de ordem internacional, mas sim de desordem, desde que as premissas foram falseadas”. Adriano Moreira recorda que noutros tempos a vinda de refugiados muçulmanos para a Europa para contribuírem para o desenvolvimento económico da mesma, foi socialmente bem vista, no entanto na atualidade esta atitude por parte dos europeus alterou-se. “Quando começámos a organizar a União Europeia, do ponto de vista económico, os refugiados muçulmanos foram bem vindos, mão de obra barata, sem proteção das leis do trabalho, constituindo multidões, mas não comunidades, foram amontoados ali de qualquer maneira, mas facilitando os relatórios positivos das empresas que os utilizavam”. “Quando vem agora esta invasão, logo cientificamente começámos a classificar que são refugiados, são pobres e terroristas disfarçados”, acrescenta. De resto, o politólogo assume que a autenticidade pode ser “um valor importante para presidir à reorganização internacional porque o que está a acontecer é que a diferença entre os tratados, os programas de governo e a realidade desafiante não pode ser maior, a isto chama-se falta de autenticidade, é assim que nós estamos a viver”, conclui. Por sua vez, a docente do Instituto de Ciências Sociais e Políticas, Mónica Ferro, garante que esta migração dos refugiados para a Europa era algo que já era previsível para o próprio continente, resultado de um conjunto de aspetos que acabaram por degradar as condições de vida nos campos de refugiados.“A verdade é que a Europa sabia que isto ia acontecer, isto era aquilo que nós podíamos chamar a tempestade perfeita a formar-se. Nós sabíamos que a situação nos campos de refugiados se estava a degradar, portanto a partir do momento em que não há financiamento, que os recursos próprios se esgotam é natural que as pessoas tenham pensado que não podem continuar nos campos de refugiados e portanto têm que vir em direção àquilo que lhes parece um «el dorado», que é a nossa Europa”, destaca. Para além disso, considera que nesta crise humanitária a Europa deve assumir um papel proactivo. “Podemos reivindicar que a Europa seja mais proactiva nesta resposta e podemos fazê-lo exigindo ao nosso governo, aos governos dos Estados da União Europeia, porque o que está aqui em questão não é o dinheiro, ele existe e está ser gasto, mas está a ser gasto com soluções paliativas, com pequenas operações, não está a ser gasto naquilo que devia de ser o mais importante, que era resgatar a dignidade a estas pessoas”, declara. Para além destes oradores, na conferência participou também Joana Vaz, estudante de Mestrado em Relações Internacionais. A organização do evento esteve a cargo do Departamento de Sociologia, em parceria com o Conselho de Estudantes de Sociologia (CESUBI) e com o Núcleo de Estudantes de Ciência Política e Relações Internacionais (NE CPRI-UBI). |
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