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Cinema em Português volta à Parada
Oana Gabriela Pauca · quarta, 4 de maio de 2016 · "Façam-se bons realizadores e dêem-nos trabalho", diz Frederico Lopes, “pai” das Jornadas do Cinema em Português da Universidade da Beira Interior, na abertura da nona edição destas, lançando o desafio aos alunos. |
João Barreta da Fonseca e Márcia Motta nas IX Jornadas do Cinema em Português |
22011 visitas No dia 27 de maio assinalou-se o início das IX Jornadas do Cinema em Português na UBI. Estas jornadas tiveram a duração de três dias e contaram com um variado leque de oradores. No primeiro dia marcaram presença Tiago Batista, Márcia Motta e João Barreta da Fonseca, do Brasil, entre outros, numa série de conferências que decorreram no Anfiteatro da Parada. Tiago Baptista, investigador do Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa e docente na mesma, bem como na Universidade Católica, apresentou um estudo intitulado "Falsificações Autênticas": sobre dois filmes de apropriação "falsos". Na sua apresentação, Tiago explicou que alguns realizadores utilizam nas gravações das suas produções cinematográficas imagens de arquivo. "As imagens de arquivo são filmagens de acontecimentos históricos e por vezes são utilizadas em filmes para recriar situações, sendo que o contexto pode ser alterado", explica o investigador. O docente esclarece que algumas imagens de arquivo podem ser utilizadas não só para remeter para situações históricas, mas também para contextualizar situações do próprio filme que está a ser realizado, como por exemplo: "se no filme surgir uma situação, seja ela qual for, que remeta para um tempo antigo onde apareça uma multidão, podem ser utilizadas imagens de arquivo de multidões a ouvir discursos de ditadores, e quem assiste ao filme nem se apercebe", conta Tiago Baptista. No entanto, o docente conta que hoje em dia, com toda a tecnologia disponível que pode ser utilizada para manipular e criar imagens, há muitos realizadores que "fabricam" as imagens de arquivo que utilizam nos seus filmes. Um exemplo que Tiago dá é o filme de Miguel Gomes, Redemption, sendo que algumas das imagens de arquivo que aparecem ao longo do filme são fabricadas para esse propósito, para parecer material de arquivo, não o sendo, na verdade. A segunda oradora, vinda da Universidade Federal Fluminense, do Brasil, foi Márcia Motta. A docente apresentou uma análise sobre dois documentários de Silvio Back: O Contestado - A Guerra dos Pelados e O Contestado - Restos Mortais. Estes dois filmes referem-se a uma guerra civil que decorreu no Brasil, na qual morreram cerca de vinte mil camponeses. "Nessa guerra foram utilizadas, pela primeira vez no Brasil, armas de guerra", conta a historiadora, cuja ocupação principal é fazer a ligação entre acontecimentos históricos e produções cinematográficas, como é o caso dos filmes O Contestado. A historiadora conta que A Guerra dos Pelados costuma ser utilizada como material didático nas escolas brasileiras nas aulas de História, de forma a explicar melhor os acontecimentos aos alunos. Já o Restos Mortais, segundo Márcia Motta, surge passados 40 anos com o intuito de relembrar o acontecimento em questão, uma vez que Silvio Back considerava que "a guerra do contestado" acabou por se tornar um tanto "invisível". Um segundo orador vindo do Brasil foi João Barreto da Fonseca, este da Universidade Federal de São João-del Rei. O professor apresentou algumas filmagens de Eduardo Coutinho, cineasta brasileiro, que representam a palavra do povo. Considera-se, segundo conta João Barreto, que Eduardo Coutinho trabalhava em torno de "um projeto totalmente marginal", sendo que o realizador procurava sempre filmar pessoas na rua, no seu quotidiano. Um trabalho de destaque foi Jogo de Cena, onde surgem histórias reais, contadas por mulheres brasileiras e as interpretações das mesmas por atrizes. A seguir a Jogo de Cena, surge Moscou que, na altura, foi visto por Eduardo Coutinho como o seu maior fracasso, mas após a morte do realizador ganhou um outro destaque, bastante mais positivo. No primeiro dia das IX Jornadas do Cinema em Português estiveram também presentes Erica Faleiro Rodrigues, do Reino Unido, José Manuel Paláez Ropero e Anderson Souza. A sessão de abertura ficou a cargo do Presidente da Faculdade de Artes e Letras da UBI, Paulo Serra, que afirma que "o cinema permite-nos ver as coisas ao vivo, por assim dizer", atribuindo-lhe um papel essencial para o desenvolvimento da sociedade. Este diz que "a memória é uma construção, e que também as jornadas de cinema são uma construção da memória do curso de cinema, da UBI, bem como das pessoas que ajudaram na construção deste curso". |
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