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"Desporto: um património comum"
Oana Gabriela Pauca · quarta, 20 de abril de 2016 · No âmbito das comemorações do Dia Internacional dos Monumentos e Sítios, assinalado a 18 de abril, o Museu de Lanifícios, em parceria com a Universidade da Beira Interior, organizou uma conferência intitulada "Desporto, um património comum". Este evento teve lugar no Auditório do Núcleo da Real Fábrica Veiga e contou com a presença de três oradores, sendo eles João de Jesus Nunes, Carlos Miguel Saraiva e Pedro Martins. |
Jorge Torrão, António dos Santos Pereira, Carlos Miguel, Pedro Martins e João de Jesus Nunes durante a conferência "Desporto, um património comum". |
21974 visitas A cidade da Covilhã é conhecida pela indústria dos lanifícios, mas o desporto também faz parte do património da "cidade-neve". Assim, nesta segunda feira, celebraram-se os maiores feitos do desporto covilhanense que, antigamente, jogava ao lado da indústria de lanifícios. João de Jesus Nunes esteve presente na conferência que decorreu na Real Fábrica Veiga para contar o longo percurso do maior clube de futebol da cidade serrana, o Sporting Clube da Covilhã (SCC). A 2 de junho de 1923 fundou-se o SCC como oitava filial do Sporting Clube de Portugal, contando na altura com setenta sócios. João de Jesus explica que o futebol mantinha estreitos laços com a indústria dos lanifícios "porque quando começou a aparecer o fenómeno do futebol e a admiração por esta modalidade, as equipas eram constituídas, maioritariamente, por operários ou por elementos de grande poder económico". Desta forma, começou a surgir uma rivalidade entre "ricos" e "pobres", segundo conta João de Jesus, sendo que um dos clubes que mais simpatia recebeu por parte do povo era o "Estrela Futebol Clube", cujos membros eram dirigentes da classe média e média alta. "O futebol era, na altura, uma maneira de divertimento. Ir à bola era como ir beber um copo", diz João de Jesus Nunes. "A bola" jogava-se na Várzea (Canhoso) e os "rapazes da bola" treinavam toda a semana no Calvário. Para os jogos oficiais, as equipas e as pessoas que quisessem assistir deslocavam-se a pé para o campo da Várzea, por caminhos de terra batida. "A rivalidade entre equipas formadas por operários e equipas formadas por dirigentes era visível e tornava as competições muito mais entusiasmantes", conta João de Jesus. Nessa altura, segundo o historiador do SCC, os jogadores compravam a bola que utilizavam para os jogos, bem como todo o equipamento necessário para jogar. João de Jesus Nunes compara o futebol, mais precisamente o que diz respeito ao SCC, à indústria dos lanifícios: "São ancestrais", diz o historiador. A primeira equipa do Sporting Clube da Covilhã era mais conhecida por "o grupo dos ricos" e o primeiro presidente do clube foi José Jacinto Ferreira. João de Jesus conta que o SCC foi fundado no seio de uma grande greve que decorreu na altura na cidade serrana, a "greve das oito semanas". Em 1936, ao perceber a necessidade que havia de existir um verdadeiro campo de futebol, e com a ascensão do "desporto rei", José Lopes dos Santos Pinto constrói o Estádio Municipal Santos Pinto, onde começaram a decorrer os jogos oficiais do SCC, algo que se veio mantendo até aos dias de hoje. Carlos Miguel Saraiva deu a conhecer algumas das personagens que mais impacto tiveram na história do SCC e alguns momentos marcantes. Assim, segundo Carlos Saraiva, Ernesto Cruz foi o maior presidente na história do clube covilhanense. Durante o seu mandato o clube subiu, pela primeira vez, à primeira divisão. Ernesto Cruz foi o sócio número sete do Sporting Clube de Portugal. Na Covilhã, era conhecido pelo sucesso que detinha na indústria dos lanifícios. Carlos refere ainda António Estrela dos Santos, pois foi um dos principais fundadores do SCC e Fernando Lopes da Costa Alçada, que conseguiu que o Sporting da Covilhã atingisse grandes vitórias durante o seu mandato. Na época de 1956-1957 o SCC chegou, pela primeira vez, à final da Taça de Portugal, no dia em que festejava o 34º aniversário. Carlos Miguel conta que o clube serrano perdeu frente ao Benfica por três bolas a uma, mas conseguiu impressionar ao derrotar adversários como o Futebol Clube do Porto. "Como muitos jogadores que passaram pelo Sporting da Covilhã eram operários das fábricas de lanifícios, as firmas pagavam, muitas vezes, as deslocações dos operários que quisessem ir ver os jogos do SCC e davam dispensa do trabalho para que estes fossem apoiar o clube amado", conta Carlos Miguel Saraiva. Neste momento, o Sporting Clube da Covilhã encontra-se em 14º lugar da segunda divisão, após ter perdido a subida à primeira divisão para o Tondela, na época passada. Pedro Martins, diretor e proprietário do "Tribuna Desportiva", jornal desportivo regional, fugiu um pouco ao tema do futebol e dedicou-se, maioritariamente, ao atletismo, mas não se esqueceu do Sporting Clube da Covilhã. "Acompanho o SCC há 27 anos e posso agradecer-lhe, pois já me levou a correr o país todo, incluindo as ilhas", diz Pedro Martins, acrescentando que "é sempre uma referência no Tribuna Desportiva". Segundo Pedro Martins, o distrito de Castelo Branco, bem como toda a região do interior, "precisa de mais desporto além do futebol". O jornalista faz referências ao Grupo Desportivo da Mata (GDM), que esteve na primeira divisão de futsal durante seis anos e cuja equipa de juniores B está em primeiro lugar na sua série, continuando na corrida para a Taça Nacional de Futsal. Relativamente ao atletismo, pelo qual Pedro Martins apresentou maior entusiasmo, este refere alguns nomes de atletas covilhanenses que "podem vir a ter um grande futuro, desde que tenham apoio e a cabeça no sítio". Entre os nomes que Pedro Martins referiu contam-se Samuel Barata, natural da Covilhã, que corre pelo S.L. Benfica e que ganhou, no domingo passado, dia 17 de abril, o segundo lugar na prova "Vivicita Genève" na Suiça. Também Inês Reis, do Penta Clube da Covilhã, foi referida pelo jornalista, uma vez que foi vice-campeã nacional de marcha este ano e foi convidada para realizar um estágio na Seleção Nacional de Atletismo, e Simão Pereira, do Fundão, que ficou em quinto lugar no Campeonato Nacional de salto em altura, na categoria dos juvenis. Pedro Martins faz um apelo a toda a comunidade covilhanense e à Câmara Municipal da Covilhã para que "apoiem estes jovens que têm um futuro brilhante pela frente e são bons naquilo que fazem, mas nem sempre têm possibilidades". O vereador da cultura, Jorge Torrão, adepto e jogador de voleibol, também esteve presente para as celebrações do Dia Internacional dos Monumentos e Sítios. Até ao dia oito de maio está disponível, na Real Fábrica Veiga, uma mostra documental aberta ao público sobre o Sporting Clube da Covilhã. |
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