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"A Europa e os Refugiados" na Covilhã
Carla Sousa · quarta, 13 de abril de 2016 · A eurodeputada Marisa Matias, esteve no passado dia 9 de abril, na CooLabora, para debater o tema "A Europa e os Refugiados". O evento contou com a moderação de André Barata, docente do Departamento de Comunicação e Artes da Universidade da Beira Interior (UBI). |
Marisa Matias na Coolabora |
21992 visitas Perante uma sala cheia, Marisa Matias iniciou o seu discurso dizendo que "este é sempre um tema que é difícil de falar, mas que devemos falar e não devemos calar porque infelizmente a tragédia a que nós assistimos atualmente existe sobretudo feita de silêncio ou de hipocrisias". Acrescenta ainda que "não é porque nós não tenhamos capacidade para lidar com este problema, temos todas as condições para lidar com ele, não há é vontade política e há interesses que se sobrepõem àqueles que deviam ser os determinantes da nossa vida inteira e da dignidade, enfim , de nos pormos de vez em quando no lugar das outras pessoas e de percebermos o que é que leva as pessoas a fugir ou o que é que as leva a tentarem abandonar o sítio onde vivem". A socióloga aproveitou ainda para criticar medidas que têm sido tomadas por determinados países europeus, e que têm como principal objetivo impedir ou conter a entrada de refugiados neste continente. "Nós temos esta situação vergonhosa, em que temos medidas como a construção de muros, ou de redes de segurança, ou reforço securitário, ou reforço militar, ou medidas que não interessam a ninguém, que custam todas elas muito mais dinheiro, do que custaria acolher um milhão de pessoas no território da União Europeia", considera. Para além disso, vai mais longe e refere que "todos os pilares da União Europeia foram postos em causa com a crise que não é dos refugiados, eles são o resultado da crise". Deste modo, sustenta a necessidade de se encontrarem soluções para esta situação, que se não for resolvida pode significar o colapso da Europa. "Se nós não resolvermos a questão dos refugiados a Europa não sobrevive muito mais tempo, porque uma crise financeira a que se junta uma crise económica, uma crise social, se tivermos agora uma crise identitária acabou". Tendo em conta que Portugal sempre foi um país de acolhimento de imigrantes e, ao mesmo tempo, exportador de cidadãos para o Mundo, a oradora mostra-se surpreendida pelo facto de por vezes notar um certo receio na receção de refugiados por parte da sociedade civil. "Nós somos um país de emigrantes, e também já tivemos muitos momentos na história em que tivemos que receber pessoas e nunca foi um problema, aliás tornou-nos um país melhor. Penso que a diversidade, a cultural também, é aquilo que faz do projeto Europeu alguma coisa de interessante. Portanto não sei em que momento é que nós nos transformamos agora num país em que o medo parece que tomou conta dos espaços vazios todos. São pessoas que têm dificuldades, mas sabe-se lá se não são terroristas", sublinha. "Criminaliza-se toda a gente que precisa apenas de ter uma oportunidade para continuar a viver e sobretudo precisava que tivéssemos medidas muito mais concretas e não hipócritas para evitar que os conflitos nas terras de origem acontecessem, porque ninguém gosta de ser estranho na terra de ninguém", remata. Para a eurodeputada, "nós temos que ter políticas distintas para o combate ao terrorismo, para o tratamento dos refugiados e da emigração. Misturar estas coisas todas, é passarmos a nós próprios um atestado da nossa incapacidade, de ainda sermos alguma coisa mais do que meros instrumentos ao serviço de outros interesses, que não são seguramente os interesses da maioria das pessoas, mas que são interesses financeiros e de negócio de armamento ". Assim, deixa o repto que "num dia em que nós precisemos também não podemos estar à espera que nos respondam de outra forma, porque a resposta europeia tem sido absolutamente vergonhosa relativamente à questão dos refugiados". Apesar de ter apontado todos estes aspetos menos positivos, e de assumir que não tem "muita complacência para aquilo que tem sido o comportamento das instituições europeias", em relação à questão do acolhimento dos refugiados, congratula-se com a tomada de posição do governo português no último Conselho Europeu. "Termino com uma nota de otimismo e positiva porque acho que no meio de toda esta má figura que temos feito, foi com muito gosto que vi o governo português, no último Conselho Europeu, ter a voz fora do baralho e quando pediram que recebêssemos dois mil refugiados ter sido o próprio a alargar a quota para 10 mil , contra toda a gente, todos os países e todos os governos que rejeitaram as quotas que lhes eram atribuídas e quiseram reduzi-las", confessa. A iniciativa inseriu-se no âmbito dos Clubes de Combate, que têm sido promovidos pela associação CooLabora, que pretendem a mobilização da sociedade para refletir e agir, de uma forma coletiva, em torno de causas que são do interesse público.
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