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"A Gestão da Saúde no Século XXI"
Carla Sousa · quarta, 6 de abril de 2016 · Apesar da existência de doentes e profissionais mais qualificados e informados, "o sistema de saúde continua assente numa gestão que utiliza técnicas obsoletas dos anos 70, em que o chefe concentra todos os poderes, relegando para último plano a opinião dos colaboradores". Foi este o cenário da gestão da saúde traçado pelo docente da Universidade Nova de Lisboa, Nadim Habib, numa conferência proferida, no dia 1 de abril, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) da Universidade da Beira Interior, subordinada ao tema "A Gestão da Saúde no Século XXI". |
Nadim Habib na UBI |
21979 visitas De acordo com o conferencista esta situação ocorre porque “a mudança da gestão numa organização é um processo lento. As pessoas que estão à frente das organizações formaram-se nos anos 70, e por isso os conhecimentos que eles têm de gestão vêm dessa altura, muito baseada numa população portuguesa menos qualificada. A verdade é que não estamos a incentivar a formação dessas pessoas para atualizarem conhecimentos.” “Se olharmos para empresas formadas nos últimos dez anos não têm nada destes problemas, ou seja muitas das startups que orgulham Portugal, não têm nada disto, são informais, querem talento e ouvir esse mesmo talento”, acrescenta. Assim, a solução para este problema de gestão pode passar por duas opções: “ou esperamos até que as pessoas da nova geração venham, que é provavelmente o que vai acontecer, ou começamos a mudar de baixo que é para depois começar a empurrar a mudança para cima”, diz. Nadim Habib confessa que na gestão do sistema de saúde impera “uma falsa organização, porque ao tentarmos controlar as pessoas nós geramos uma confusão implícita que também evita que as pessoas tomem decisões”. Para o consultor de empresas uma gestão demasiado centrada em regras “incentiva as pessoas a desligar o cérebro, agora se eu quero tirar o máximo partido do meu talento eu tenho que tirar as regras que o matam”, explica. Noutros tempos, o modelo de Taylor “muito centrado nos empregados que só obedecem, foi essencial. No entanto, não é mais válido”, defende. Na atualidade, “o novo mundo económico é aquele que tem gente que pensa. Se o taylorismo inventou organizações complexas para pessoas simples, hoje precisamos de organizações simples para pessoas complexas”, destaca. De resto, nomeia os próprios cidadãos como os “principais causadores” das fragilidades do Sistema Nacional de Saúde. “Nós atacamos o sistema de tal forma que ele não aguenta”, admite. Deste modo, salienta que por parte das instituições responsáveis pela área da saúde não está a existir uma comunicação com o utente. “Para mudar o comportamento da população tem que se mudar a filosofia de gestão das organizações, porque só quando estas entenderem que a gestão do fluxo do doente faz parte das suas responsabilidades, é que vão começar a interagir melhor com as pessoas”. Um dos desafios futuros da gestão da saúde está relacionado “com a construção de uma rede de cuidados primários, que vai fazer com que consigamos trabalhar melhor a prevenção e evitar situações agudas”, conta. Segundo Anabela Almeida, organizadora da iniciativa, a intervenção do professor Nadim Habib “é um valor acrescentado para a formação dos alunos que lhes permite verificar que é possível melhorar e fazer diferente”. A conferência “A Gestão da Saúde no Século XXI” insere-se no âmbito da unidade curricular de Fundamentos de Gestão em Saúde, do Mestrado em Gestão de Unidade de Saúde. Para além dos estudantes de mestrado, na assistência também estiveram profissionais de saúde da região. |
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