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Tecer o futuro
Maria Inês Valente · quarta, 16 de mar?o de 2016 · Cultura Dia Internacional da Mulher celebra recordações de uma vida e a luta contínua por direitos e por uma sociedade igualitária. |
Grupo de Mulheres da Manta pela Igualdade partilha as suas histórias |
21999 visitas “Tecendo igualdades”, uma cerimónia conduzida unicamente por mulheres, ditou as comemorações do Dia Internacional da Mulher no dia 8 de março no anfiteatro da Parada na Universidade da Beira Interior. O evento, organizado por Catarina Sales de Oliveira e Ana Catarina Pereira, teve como propósito “recordar a origem e o significado histórico do Dia Internacional da Mulher e, nesse sentido, refletir sobre o presente e formar o futuro”. Segundo Catarina Sales, professora do Departamento de Sociologia, desde que surgiu o projeto Plano de Igualdade de Género, UBIGUAL, que tentam sempre assinalar de alguma forma a importância deste dia, porque mesmo vivendo em democracia, continua a não existir uma sociedade igualitária em Portugal. O Grupo de Mulheres da Manta pela Igualdade teve uma intervenção fundamental no decorrer da cerimónia. Recordar as suas memórias dos tempos de fábrica, como era ser mulher naquela altura, refletir como é ser mulher hoje e falar de alguns aspetos que vivenciaram e que ainda hoje vivenciam foram os pontos centrais dos seus discursos. Madalena, membro do Grupo, aborda a questão salarial do seu tempo. Recorda que quando trabalhava numa fábrica têxtil em Gouveia o seu salário era de 1350 escudos e que o do seu colega era de mais 400 escudos, ou seja, 1750 escudos. Por sua vez, a sua colega e amiga Bina teve sempre funções mais ligadas ao “mundo dos homens” e quando foi para a fábrica ocupou um cargo de chefia. A ex-colaboradora afirma que tentou sempre lutar pelos direitos das mulheres dentro da empresa, bem como pelos direitos de todos os funcionários da fábrica, uma vez que no seu tempo “a porta de entrada dos funcionários era diferente da do pessoal administrativo”. E Bina conta com orgulho que conseguiu alterar essa norma. A Manta pela Igualdade, que já tem cerca de 20m de comprimento, é elaborada com o objetivo principal de, como o próprio nome indica, “tecer igualdades” e “mostrar a memória feminina das mulheres que trabalharam nas fábricas, uma vez que pouca coisa sobrou a nível físico e material das fábricas de Gouveia”, explica Isabel Silva, psicóloga do Grupo Aprender em Festa de Gouveia. Inês Basílio, membro do Grupo de Mulheres da Manta pela Igualdade, conta que o que lhe dá mais tristeza é o facto de haver pouca juventude a interessar-se pelo trabalho que desenvolvem e a participar na Manta. “Queremos incentivar os jovens a ter boas recordações daquilo que fazíamos antigamente, porque senão não vão ter lembranças, recordações para contar às gerações seguintes”, acrescenta. A exibição do documentário “Trama”, que retrata as mulheres e a indústria têxtil do concelho de Seia, realizado por Luísa Soares, ex-aluna da Universidade da Beira Interior, fez a ponte com as histórias recordadas pelas ex-funcionárias das fábricas de Gouveia. O evento contou ainda com a apresentação do livro “A Mulher-Cineasta”, fruto da tese de doutoramento de Ana Catarina Pereira, professora do Departamento de Comunicação e Artes, bem como com um debate conduzido por Adélia Mineiro, recém-doutorada com a tese sobre o movimento operário no Tortosendo, no período do Estado Novo. No final da cerimónia, totalmente alusiva ao Dia Internacional da Mulher, a opinião foi geral: ainda existem, de facto, muitas igualdades para tecer, como confirmam Isabel Silva e Catarina Sales. “Deve haver uma partilha no que toca a tudo. Os filhos são de ambos os elementos do casal, a loiça para lavar é de ambos os elementos do casal… tudo isso tem que ser uma partilha, não um espírito de ajuda. Tem que ser algo que se faz com naturalidade”, acrescenta Ana Catarina Pereira. |
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