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"Das redes sociais nada escapa"
Rafael Mangana · quarta, 16 de mar?o de 2016 · UBI A Universidade da Beira Interior (UBI) recebeu, dia 11 de março, um dos mais reputados especialistas da atualidade em Comunicação Política na Era Digital. Sob o tema "Estética, Imaginário e Política", Wilson Gomes, Professor Titular da Universidade Federal da Bahia, usou o exemplo do Brasil e expôs a problemática da comunicação política nos nossos dias, numa aula aberta à comunidade. |
Wilson Gomes com o coordenador científico do LabCom.IFP e docente da UBI, João Carlos Correia |
21983 visitas Perante um Auditório da Biblioteca lotado, Wilson Gomes falou acerca do papel crescente que hoje as redes sociais têm na discussão pública sobre política, nomeadamente, no caso brasileiro, numa iniciativa promovida pelo LabCom.IFP - Comunicação, Filosofia e Humanidades. A iniciativa foi promovida pelo
LabCom.IFP - Comunicação, Filosofia e
Humanidades..
"Os ambientes digitais da chamada "internet social", a internet de ambiente e convivência digital, funcionam hoje como grande repertório de mitos, de símbolos da política, como a grande "oficina" da produção desses símbolos e desses mitos que as pessoas precisam de construir para a mobilização política, para produzir conteúdos sobre política", referiu. Na opinião de Wilson Gomes, a política, no contexto destes ambientes sociais, caracteriza-se pela massificação, "que também significa democratização", ou seja, passa a haver outras pessoas que "querem ‘jogar o jogo’ da política". Para o docente, esta particularidade potenciada pelas redes sociais "traz consigo o amadorismo, a polarização, o comportamento belicoso (de guerrilha), que é muito mais forte nesses ambientes. E, ao mesmo tempo, reflete as polarizações e a beligerância que já faz parte do ambiente político normal, reforçando essas características". O docente da Universidade Federal da Bahia deixa a ideia de que "as pessoas precisam de aprender a discutir, a divergir com civilidade", sendo que a aprendizagem para divergir com civilidade se dá "pelo próprio exercício da divergência", considera. "Pouco a pouco foram-se criando espaços onde é mais fácil e produtivo discutir, e as pessoas que gostam de escaramuças e ofensas terão os seus espaços também", acrescenta. Considerando que "é impossível, hoje, haver interação sem intermediação tecnológica", Wilson Gomes não tem dúvidas em afirmar que "das redes sociais nada escapa, funcionam como uma espécie de radar". De resto, recorda que "os novos movimentos sociais no Brasil nasceram nestes ambientes digitais ou têm fortíssima mediação destes ambientes digitais". Ou seja, a política depende destes ambientes digitais, "que são ambientes propícios para o funcionamento dos imaginários, nomeadamente, tecnológicos, a formação de convicções", sendo que, "não é importante a reflexão, o importante é produzir imagens poderosas". E vai mais longe: "A esfera política que não tenha interação fortíssima com estes ambientes, não faz sentido. Há imensas coisas escritas que as pessoas simplesmente não leem, então optam por usar agregadores de informação, marcadores de confiança que se encontram online, que frequentemente são o próprio jornalismo", lembra.
"Se reclamávamos que as pessoas precisavam de discutir política, elas estão a discutir política" Referindo-se ao exemplo das classes mais altas do Brasil, que protestam batendo em panelas a "partir das varandas dos seus apartamentos de milhões", sem saírem de casa, Wilson Gomes sublinha que "as pessoas batem com as panelas na varanda, mas marcam isso através de redes sociais, de sites que são usados para marcar esses encontros, através de comunidades. Na verdade, o que se faz à janela é a extensão do que se faz em redes digitais". Considera não haver ainda "solução para isto à priori, a solução será sempre à posteriori, uma reacomodação dos públicos nesses novos espaços. É mais fácil isso, do que imaginar que teremos uma seleção de uma elite a discutir política e uma massa que assiste. Essa representação da discussão política, serena e como se fosse uma espécie de simpósio de filósofos, não existe. Nem os filósofos discutem política assim, sem paixão e sem maldade". Wilson Gomes defende que, "se nós reclamávamos que as pessoas precisavam de discutir política, pois bem, elas estão a discutir política, ao seu modo, mas estão a discutir política. Deve haver algum ganho democrático nisso". Até porque, considera, "como essas pessoas que discutem são as que votam, pelo menos as que votarem terão discutido". Por outro lado, "esse espaço de exposição também é interessante porque aquelas posições que são extremadas, ofensivas, humilhantes e violadoras da democracia, elas também são expostas e recebem a rejeição pública. São uma forma que o indivíduo tem de testar certas ideias e recolher o desprezo público e, provavelmente, reformar as ideias". Lembrando o "grande intelectual público" Umberto Eco, Wilson Gomes considera que "este novo espaço público forma novos intelectuais públicos". Ressalvando os aspetos construtivos da tendência atual de discussão política, lembra que "estamos num momento de regresso da figura do intelectual que se dispõe a discutir política em público. Temos agora um novo público e esse público precisa de intelectuais públicos", sendo que, "voltou a ter valor o intelectual público nesses ambientes, e as pessoas discutem". |
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