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Os refugiados e o Holocausto
Sofia Dinis · quarta, 2 de mar?o de 2016 · "O anti-semitismo não acabou. Argumentos contra os judeus continuam a existir", defendeu Liliana Reis. |
Intervenientes na 1ª sessão da iniciativa "Conversas... à volta dos Livros" |
22004 visitas A primeira sessão de 2016 da iniciativa “ Conversas… à Volta dos Livros” decorreu no dia 24 de fevereiro, no anfiteatro 7.21 da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da UBI. A obra “O Cônsul Desobediente”, de Sónia Louro, foi o primeiro livro analisado. Recomendada pelo Plano Nacional de Leitura para a Formação de Adultos, a obra é baseada na biografia de Aristides de Sousa Mendes e foi o ponto de partida para um debate sobre o Holocausto. O docente do Departamento de Sociologia da UBI, Nuno Amaral Jerónimo começou por lembrar que o Holocausto não é uma exceção. Na civilização romana, os hebreus já tinham sido perseguidos, e em Portugal, no reinado de D. Manuel I, foram expulsos do país. Para o professor, “o Holocausto só foi possível naquele contexto político e industrial. Quando Hitler tentou exilar os judeus pobres alemães, ninguém se mostrou disponível a recebê-los. A comunidade judaica já estabelecida nos EUA recusou-se a recebê-los”. O autor elucidou ainda que na época em que Aristides de Sousa Mendes desobedeceu a Salazar, passando cerca de 30 mil vistos, outros na sua posição tiveram a mesma atitude. O cônsul japonês Chiune Sugihara forneceu milhares de vistos a judeus radicados na Lituânia. A docente do Departamento de Sociologia da UBI, Liliana Reis, utilizou notícias recentes sobre possíveis defeitos nos órgãos sexuais de Hitler para alertar que aceitar qualquer tipo de incapacidade física ou psicológica como justificação para a violação dos direitos humanos é perigoso. Perante a opinião pública as psicopatias retiram características humanas aos sujeitos e por isso, responsabilidade. Hitler chegou ao poder democraticamente. Foi com a conivência do eleitorado que o chanceler deu início à ditadura. “Sempre que os líderes têm demasiado poder, existe um problema”, declarou Liliana Reis. A docente encara a chegada dos refugiados como uma oportunidade de rejuvenescer a população e acelerar a economia nacional. No entanto, a docente relembrou que existe um movimento europeu contra a entrada dos refugiados na Europa (PEGIDA) que conta já com o apoio de milhares de pessoas. Nas palavras da docente, “é perigoso considerar que todos os que não querem refugiados na Europa são burros. Há que ouvir as várias posições e debater. As coisas não são a preto e branco, são de diferentes tons de cinzento”. O docente e Diretor-Adjunto do Agrupamento de Escolas Frei Heitor Pinto, Rogério Monteiro, questionou se seria possível estudar o Holocausto sem empatia. As novas tecnologias têm vindo a roubar-nos a memória e a capacidade de comunicar sem as mesmas, o que leva ao isolamento. “Alguém que não é capaz de se colocar no lugar do outro, nunca perceberá a realidade alheia”, esclareceu o professor. Délcio Faustino, aluno do 2º ano do curso de Sociologia, considera que este tipo de debates, com vários pontos de vista, são importantes para o esclarecimento da comunidade universitária. A aluna do 2ºano do curso de Psicologia, Mafalda Melo, afirma que "como estudante de Psicologia e parte integrante da direção de uma júnior empresa social não poderia ficar indiferente a uma palestra sobre o Holocausto e os direitos humanos.” A estudante explica que encara a crise dos refugiados como “um Holocausto encoberto” por interesses socioeconómicos e como um reflexo da decadência humanitária europeia. Melo relembra ainda que “a guerra na Ucrânia continua” e que “existem campos de concentração na Coreia do Norte”, embora não se fale nisso. Esta iniciativa é promovida pelo Centro de Promoção de Leitura Serra da Estrela (CPLSE) e conta com a intervenção de docentes do Departamento de Sociologia da UBI e do Agrupamento de Escolas Frei Heitor Pinto. O debate, aberto ao público, é destinado principalmente à comunidade académica.
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