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Viajar para além das grades
Rafael Mangana · quarta, 10 de fevereiro de 2016 · O escritor e ilustrador Pedro Seromenho deslocou-se, no passado dia 3 de fevereiro, ao Estabelecimento Prisional da Covilhã para uma sessão de sensibilização à leitura, através da comunicação oral da sua própria história de vida e da elaboração simultânea de uma ilustração. Perante uma plateia de cerca de 50 pessoas, o autor aproveitou para transmitir algumas mensagens para o futuro dos reclusos da instituição. |
Pedro Soromenho contou um pouco do seu percurso de vida, perante uma plateia atenta. |
22018 visitas "Lá fora a vida está sempre a correr e esta é uma forma de estarmos sempre atentos a tudo e estar em contacto com o exterior". Nélson foi um dos cerca de 50 reclusos do Estabelecimento Prisional da Covilhã que tiveram a oportunidade de ter um dia diferente em torno da escrita e da ilustração. A iniciativa foi "muito boa", porque "aprendemos com estas histórias e com estas coisas novas que aparecem, até porque a literatura está sempre a evoluir e nós temos que optar sempre por ler algo que nos interesse", revela. "Tudo o que possamos ler e nos ocupe o tempo aqui dentro é bom". A ideia é corroborada por Paulo, que sublinha que "ler é um dos hobbies que nós temos aqui e que nos permite trespassar estas paredes. Infelizmente estamos rodeados de circunstâncias completamente diferentes e todas as iniciativas são mais que bem-vindas", defende. Com uma tela, lápis e muita imaginação, Pedro Soromenho conseguiu prender a atenção de toda a plateia. Depois de ter sido economista, aos 30 anos decidiu mudar radicalmente de vida e há 10 que é escritor e ilustrador. Esta mudança foi o ponto de partida para uma tarde diferente no Estabelecimento Prisional da Covilhã. Revelando ter vivido uma experiência "totalmente nova", o autor explica que por se tratar de um “público diferente, foi um registo de comunicação diferente, mas o importante a retirar deste pequeno momento em que estivemos juntos foi transmitir-lhes a minha paixão, o meu percurso de vida, a minha mudança da Economia para a ilustração e, sobretudo, fazê-los viajar, transportá-los durante alguns momentos para um mundo diferente". Pedro Soromenho explica que tentou chegar aos reclusos "através da ilustração que fiz, da comunicação por palavras, tentei pegar neles e transportá-los e fiquei surpreendido quando vi uma plateia tão concentrada, curiosa por querer saber mais e, depois, com perguntas tão interessantes". Consciente da importância da sua presença para "melhorar o dia" de pessoas que vivem a maior parte do tempo isoladas do mundo exterior, o autor refere que "o que trouxe foi a predisposição para fazê-los viajar e terem um momento agradável, rodeados de livros, de histórias e de ilustrações para, por momentos, esquecerem a rotina e acreditarem que ainda têm um caminho para percorrer". De resto, a mensagem chegou aos destinatários. "Não senti que estivessem ali por estar, senti que estavam a absorver as minhas palavras e a mensagem. Claro que depois a decisão cabe a cada um e cada um terá as suas prioridades e o caminho a percorrer, mas espero que tenha servido de inspiração para, pelo menos, alguns deles. Isso já seria uma missão cumprida", revela. A socialização é mesmo, segundo o responsável máximo da instituição, o principal objetivo deste tipo de iniciativas. "A ideia é termos um projeto educativo abrangente, de forma a que o processo de socialização seja mais fácil", refere Luís Couto. O diretor do Estabelecimento Prisional da Covilhã acredita que "a vinda destas pessoas vai melhorando e requalificando esse processo educativo, com o objetivo de termos uma grande ação de sensibilização para a leitura e para a escrita, que achamos importante neste processo de reabilitação que pretendemos". A iniciativa foi dinamizada pelo Centro de Promoção da Leitura da Serra da Estrela (CPLSE), na sequência de uma outra atividade ocorrida em novembro passado, "numa interação lúdico-pedagógica com alguns dos livros que existem no fundo documental da prisão", explica a coordenadora do CPLSE. "Eles ficaram com alguma curiosidade e da próxima vez quando voltarmos vamos ver se eles pegaram nesses títulos". Sílvia Melchior sublinha a importância deste tipo de atividades, para "fomentar a leitura, para termos cidadãos mais ativos, mais responsáveis e mais interventivos quando saírem, na perspetiva da reinserção social".
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