Jornal Online da UBI, da Região e do RestoDirectora: Anabela Gradim |
A um clique do sucesso
Filipa Silva e Tatiana Vicente e Emanuel Macedo e Rita Sanches · quarta, 27 de janeiro de 2016 · Há quem viva dos lucros gerados pelo YouTube e até quem receba milhões graças ao canal. Por cá, os utilizadores usam a plataforma como "hobby". |
21977 visitas Numa tarde atípica de dezembro, Fábia Maia está sentada no miradouro das Portas do Sol, local privilegiado em que a cidade da Covilhã forma um quadro apetecível de ser contemplado. Com a serra do lado oeste a querer tapar o sol das cinco da tarde, a youtuber, com a sua guitarra, começa por cantar a Drunfos, de Allen Halloween. As 117 mil visualizações conquistadas num ano por esta música fizeram dela a sorte na vida de Fábia. A voz própria e crespa de Halloween é substituída por uma suavidade, mas ao mesmo tempo rouca, onde cada palavra é absorvida de uma maneira que é difícil não tocar a quem ouve. Inicia a conversa por admitir que nunca teve nenhum segredo para atingir as 500 mil visualizações do seu canal no YouTube. É ela própria, descontraída, animada e apaixonada pelo hip hop, exatamente como se mostrou na entrevista. Para além da licenciatura em Ciência Política e Relações Internacionais, que irá servir como um “plano b”, a estudante da Universidade da Beira Interior dedica parte do seu tempo a cantar para uma câmara de vídeo. “Tudo começou numa brincadeira”, recua a 2013, ano em que os seus amigos não deram outra hipótese, senão colocar o seu primeiro acústico na internet. Desde aí que nunca mais parou. Do rap old school ao hip hop, a artista da melhor versão de Drunfos, dita por muitos, tira partido de tudo o que lhe é presenteado por esta comunidade, sejam críticas construtivas ou “elogios em demasia”, como descreve. O YouTube permite a Fábia, assim como a todos os usuários, carregar e compartilhar vídeos em formato digital através de poucos cliques. Depois do vídeo gravado e editado, se necessário, basta fazer login na conta do Google, iniciar o upload e em poucos minutos está disponível a 7 mil milhões de pessoas. Apesar de vários usuários terem milhares de seguidores, há quem não tenha por hábito subscrever os canais a que acede. Já a anoitecer, a jovem artista de 22 anos faz agora uma pausa. É tempo de cantar a Beleza Artificial do Valete, que retrata a facilidade com que as mulheres se deixam seduzir na noite e do valor que dão hoje em dia ao corpo em detrimento da personalidade. Dela fazem parte algumas palavras grosseiras e até termos pouco comuns, o que indica a descontração que Fábia mostra neste fim de tarde, mas não só, que leva na sua vida. De um modo diferente, Luísa Lopes também entrou no mundo dos “vídeos caseiros”, como ela própria diz. A estudar Engenharia Mecânica, a paixão pela make up, pelos outfits e todo o universo feminino despertaram nela o bichinho de instalar uma câmara no seu quarto e começar a dar dicas de moda e beleza para um público virtual e imaginário. Ao contrário de Fábia, Luísa é tímida e revela que “dar o passo de querer e fazer demorou uns dois anos a criar o canal”. No entanto, a timidez é um medo que se vai perdendo e um ano de filmagens e uploads para o YouTube fizeram dela uma utilizadora com mais de 10 mil subscritores. Na serra do Pilar e com uma vista única para a cidade do Porto, Luísa escolheu a companhia do namorado e de uma amiga de longa data para conversar, desta vez sobre o que realmente acontece por detrás de uma câmara. Deixou a postura rígida que adquire quando trabalha para o canal, o que envolve uma maquilhagem muito mais exagerada e um outfit relacionado com o tema em questão, e passou a uma atitude mais intimista e descontraída, como Fábia tenta sempre transparecer. “O YouTube não é assim tão fácil quanto nós passamos para aquela lente em círculo. Gastamos muitas horas por detrás disso”, assume a youtuber de moda, segurando os cabelos que teimavam em voar por causa do vento que se fazia sentir. Assim como Luísa, Samanta McMurray, agora na outra metrópole do país, dedica muito tempo a preparar cada vídeo que partilha. Entre as saladas, os sumos verdes e as sementes em todo o lado, usa o seu canal, de nome Eat Love, para revelar as receitas mais deliciosamente saudáveis que conhece. A receita a mostrar é apenas o primeiro passo de um processo elaborado: “Faço um setup do ambiente que quero criar, escolho o styling todo, desde os pratos aos acessórios que possam criar um ambiente bonito e tenho sempre cuidado com a roupa que uso”, conta-nos. Para o futuro, a usuária, que descreve o seu canal na frase “simple, quick and healthy recipes all made with love!”, pretende ter mais tempo para se dedicar ao YouTube, mas, neste momento, o facto de se ocupar com os seus livros, dar workshops de cozinha e trabalhar com fotografia, fazem com que ela necessite de “mais umas Samantas” para ajudá-la a concretizar os seus objetivos. Depois de apagar um cigarro, Fábia Maia retomou a conversa por dizer que não há uma preparação rigorosa antes de cada vídeo que publica: “eu estou no meu quarto, lembro-me que quero fazer um cover, ponho uma camarazinha a gravar e é só isso”. São apenas 15 os vídeos que já publicou no seu canal, mas foram suficientes para conquistar mais de 2 mil subscritores, homens e mulheres, crianças e adultos. Com a fama surgem as opiniões: umas positivas, outras nem tanto. No início, a preocupação com as críticas era grande, hoje afirma que se conhece como pessoa e como artista e que as ideias alheias lhe são irrelevantes. Conta com o apoio dos amigos, da família e dos artistas de quem faz covers, estes últimos incentivam-na e, por vezes, partilham os vídeos nas suas páginas pessoais. Com o mesmo desejo pela música, Tiago Braga revela as experiências que se têm proporcionado por ser membro do maior site mundial. Em pequeno ouvia Pedro Abrunhosa e a famosa banda de pop rock - The Corrs - e, com oito anos, já ambicionava cantar para muita gente. O YouTube foi o meio que lhe permitiu realizar o seu sonho. Uma atuação com um grupo de amigos da escola, com o equipamento que tinha em casa e com a voz especial que todos lhe gabavam decidiu arriscar e partilhou o seu primeiro vídeo, que agora está disponível a 20 mil subscritores. Para além de revelar que não existe nenhuma fórmula milagrosa para ser bem-sucedido e que, para tal, nem sempre podemos fazer tudo o que idealizamos, Tiago diz já ter feito covers de artistas com quem não se identificava, com vista a “ desviar mais tráfego para o canal”. Por cá, o principal motivo da adesão aos vídeos online é o entretenimento. Mostrar quem são ou o que fazem de melhor é o objetivo, os lucros ficam para segundo plano. O introvertido Tiago, a descontraída Fábia, a cuidadosa Samanta e a doce Luísa ilustram-no bem: o reconhecimento dos seguidores é vital para o sucesso. No entanto, esta plataforma é o pote de ouro de muitos. Felix Kjellberg, conhecido como PewDiePie, é o mais bem pago deste mundo. Doze milhões é o total que fatura num ano, graças ao talento nato de entreter as pessoas. Inscrito desde 2010, para além dos 41 milhões de seguidores, os seus vídeos já foram vistos por mais de dez biliões de pessoas. O sol já se pôs, é noite na cidade neve. É quinta-feira e Fábia não descura uma saída com os amigos. Misturados com os planos atuais e a curto prazo, estão ambições maiores para o ano de 2016: um álbum de originais com a colaboração de Jimmy P e Valete, dois famosos rappers com os quais mantém amizade. Fábia avança, de guitarra às costas, em direção a casa e consigo leva alguns sonhos concretizados e este em especial, que o YouTube lhe proporcionou. Ainda será muito falada esta jovem que começou por um acaso. |
Palavras-chave/Tags:
Artigos relacionados:
GeoURBI:
|