Jornal Online da UBI, da Região e do RestoDirectora: Anabela Gradim |
Um movimento pela Integração
Sónia Miguel e Daniela Alves e Rita Moutinho · quarta, 10 de agosto de 2016 · @@y8Xxv Criado no ano lectivo de 2015 / 2016, o GIAC é um grupo constituído por mais de 50 estudantes universitários de todos os 29 cursos da Universidade da Beira Interior (UBI) que, em regime de voluntariado, apoiam os novos alunos que ingressam na instituição. |
Logótipo do Grupo de Integração e Apoio ao Caloiro |
21982 visitas 18 de dezembro de 2015, 18.30, Covilhã. O movimento é notável. Centenas de estudantes partem, com malas nas mãos, malas às costas, percorrendo as ruas da cidade pela última vez deste ano, deixando para trás memórias, vivências, experiências, que decerto marcaram uma nova etapa das suas vidas. Pessoas, automóveis, tudo circula num movimento frenético, de cores, sons, cheiros. Está um frio agreste, tipicamente caraterístico da Cidade Neve. Estamos perto da quadra natalícia e os novos alunos entram agora de férias. Pela primeira vez desde Setembro, os caloiros tem a oportunidade de descansar depois de quatro meses de adaptação a uma nova rotina, tipologia de ensino e colegas de turma. Aquando da sua chegada, grande parte os novos estudantes foram assolados por uma repentina mudança nas suas vidas: sem o auxílio da família, deparam-se com uma cidade nova, repleta de gente desconhecida e, encaram as tão temidas praxes, pertences à tradição da Universidade. As praxes têm a duração de aproximadamente cinco semanas. Definem-se por ser um conjunto de regras e regulamentos sob as quais se regem as relações hierárquicas e sociais da comunidade estudantil, ou seja, são as normas principais que ajudam os estudantes à aprendizagem da cidadania académica e das tradições da instituição. As praxes não são obrigatórias, mas existe uma mítica ideia de que se um caloiro não participar nas mesmas é menos integrado na vida universitária, sendo que, para muitos estudantes a praxe é também a única forma que têm de, no início do ano, conhecerem pessoas e se sentirem familiarizados com o curso, a universidade e a cidade. A praxe cria amizades, integra, gera laços de companheirismo e solidariedades grupais. No entanto, só parece ser praticamente inquestionável pela maioria dos estudantes porque não existem, iniciativas alternativas no início do ano, capazes de preencher essas funções. Qualquer tipo de ativismo que queira contrariar a praxe e o que ela representa, não se faz nunca com base na hostilização das pessoas que nela participam, mas sim na criação de espaços alternativos, que preenchendo a função da praxe, podem, com tempo, esvaziar a sua hegemonia. E isso depende do trabalho de base e da capacidade de construir ideias e iniciativas nas Universidades. É neste contexto que surge o GIAC (Grupo de Integração de Apoio aos Caloiros), movimento criado por estudantes da UBI, sem fins lucrativos, cujo objetivo é integrar e apoiar os caloiros, prolongando o acompanhamento aos mais novos ao longo do seu percurso académico, não se limitando ao tempo estipulado de praxe, e dando-lhes acima de tudo a possibilidade de conhecer a mítica “Cidade Neve”. O motivo principal da origem do grupo, é o facto dos membros fundadores, ao longo dos anos passados na Covilhã, observarem que os novos estudantes, durante o primeiro e único mês de praxes, terem muitas atividades, festas, e pessoas para os ajudar e apoiar. O mesmo não se verifica quando terminam as praxes, onde esse apoio se vê reduzido bem como os eventos integrativos. Esta diminuição de acompanhamento, tem maior impacto para os caloiros das regiões autónomas da Madeira e Açores que se deslocam menos vezes a casa, mas também para aqueles que vivem mais distantes da região centro, Braga, Vila Real, Portimão, entre outros. Para estes, é uma situação difícil ficar tanto tempo sozinhos numa cidade desconhecida. São 17.30 da tarde, Gabriela Monroy, caloira de Ciências da Comunicação, encontra-se na Biblioteca do Polo Principal, rodeada de apontamentos e folhas. Interpelada acerca da sua estadia na Covilhã após o final do primeiro semestre, Gabriela solta um sorriso explicando que a Covilhã praticamente lhe mudou a vida, “foi uma espécie de aventura no início, pois era uma nova casa, novas caras, novos sítios, tudo era diferente do que estava habituada”, disse. Já quando se trata do tema família, a expressão no rosto muda. “No início foi muito difícil, principalmente quando somos muito ligados à família”, revelou Gabriela. Acrescenta ainda que o sente mais falta são os simples abraços da mãe, mas garante que o mais difícil são os fins-de-semana, quando ouve as rodas das malas na rua a rolar e sabe que ao contrário dos outros não vai poder ir a casa. Testemunhos como este demonstram as dificuldades sentidas por alguns caloiros que não podem ir a casa tantas vezes como gostariam. É neste campo que o GIAC atua através da organização de eventos de dinamização, atividades de desenvolvimento pessoal e académico, roteiros pela cidade, tendo em vista combater a solidão sentida pelos novos alunos. Na página pessoal do GIAC, é deixada uma mensagem dirigida aos novos estudantes, relativamente às atividades planeadas “(...) Não somos contra a praxe académica. Somos um elo de ligação entre os rituais da academia, a universidade e a cidade. Estamos sempre disponíveis para te ajudar, com todos os meios que estão ao nosso alcance”.
Ivo Rocha da Silva, Fundador do Giac É no Jardim Público da cidade, ao findar do dia, numa conversa intimista, que o fundador do GIAC se demonstra confiante no projeto que criou “A nossa missão é ajudar os caloiros nos primeiros passos na Covilhã, dar a conhecer esta cidade mítica e acompanha-los se possível, ao longo do percurso académico”, revelou Ivo. Com vinte e cinco anos, Ivo Rocha da Silva , apresenta-se um homem multifacetado. Escritor, estudante de Ciências da Comunicação na Universidade da Beira Interior, co-fundador e presidente da BRID.JE – Junior Enterprise, e co-fundador e director adjunto do Jornal de Belmonte, colaborando também em várias publicações periódicas enquanto cronista, tendo já publicado duas obras. Ivo conta que o Grupo de Integração e Apoio a Caloiros da Universidade da Beira surgiu após uma conversa entre quatro estudantes da instituição, que rapidamente reuniram esforços e recursos humanos para colocar o projeto em prática, sendo que atualmente o grupo conta com mais de 50 membros. Quanto às atividades realizadas, o fundador explicou que o grupo marcou presença na semana das matrículas, tendo ficado situados estrategicamente no início do percurso e do processo das mesmas. “Acolhemos os novos alunos e passamos o maior número de informação possível, divulgando o nosso plano de atividades para o ano letivo”, sustentou. Ivo despede-se com uma mensagem aos caloiros.
Giac promove 1ª edição do Mostr'Art
Foi num ambiente de convívio, entre amigos e conhecidos, que decorreu no ArtBarô, bar e restaurante da Covilhã, no dia 30 de novembro pelas 22 horas, o primeiro evento organizado pelo GIAC “Mostr’Art”, em parceria com o Ubicinema e o Panorama Divergente. O evento consistiu na visualização de um filme produzido e realizado por antigos alunos da Universidade da Beira Interior: “Um funeral à chuva” e contou com cerca de 30 participantes, sendo que o principal objetivo era promover o trabalho dos alunos de cinema da UBI. Este é um filme de comédia dramática realizado por Telmo Martins. O filme é especial, principalmente, para os estudantes ubianos, pois nele são abordados locais e estabelecimentos situados na Covilhã, e também histórias caricatas que podem ser associadas a momentos vividos por muitos dos jovens, na cidade neve. À saída do evento, David Carvalho, 21 anos, aluno de Ciências do Desporto, responde com convicção que “foi bastante interessante e são precisos mais eventos destes para promover o cinema nacional e os trabalhos dos alunos da UBI”. O estudante mostra-se, por outro lado, desapontado no que diz respeito ao número de participantes e afirma que “é pena haver pouca adesão a este tipo de eventos, mas se este tiver mais edições, acredito que o número de interessados irá aumentar”. Apreensivo, confessa também que “a divulgação não foi feita da melhor maneira, talvez por isso as pessoas também não tenham aderido”. Já António Lopes, esclarece que apesar de ser co-fundador do Giac, a sua opinião será o mais imparcial possível, no que diz respeito à avaliação das atividades desenvolvidas pelo grupo. O estudante afirma que “O evento teve como objetivo não só dar a conhecer aquilo que é feito em Portugal, em parceria com várias associações e com cursos da Universidade, nomeadamente, com o curso de Cinema, como também incentivar ao convívio entre alunos de diversos cursos da UBI ”. Quanto ao número de participantes no evento, António diz que “ esta foi a primeira vez que tal aconteceu, por isso era de esperar pelo menos da parte do GIAC, uma pouca afluência ao evento” mas que, no entanto, “acabou por superar as expectativas do grupo e por isso mesmo valeu a pena”.
Balanço do projeto GIAC
O GIAC, é um grupo muito recente, constituído por jovens voluntários que disponibilizam um pouco do seu tempo, para reuniões pedagógicas e planeamento de atividades úteis à formação e convivência dos caloiros. No início do ano letivo o GIAC definiu como principais atividades a realizar, o foto paper “Caloiros na cidade”, onde os caloiros iriam ter um mapa por onde se guiariam e descobririam sítios diferentes da Covilhã, ao mesmo tempo que teriam oportunidade de visitar os polos todos pertencentes à UBI. Segundo Paulo Pinheiro, cofundador do grupo, ”o foto-paper é uma das atividades mais importantes que o GIAC vai realizar pois, como decorrerá no segundo semestre, permitirá aos caloiros perceberem se já conhecem a beleza e a arte da Covilhã”. Com alguma amargura acrescentou, “os estudantes andam tão concentrados na sua vida, nos estudos, nas atividades extracurriculares que acabam por chegar ao final da licenciatura e conhecem pouco da cidade que os acolheu, não chegando sequer a visitar os polos todos que a UBI tem, e o GIAC quer, portanto, contrariar isto”. Apesar de toda a vontade e iniciativa que o grupo sempre demonstrou, o número de atividades realizadas pelo GIAC ficaram um pouco aquém das espectativas. Os estudantes organizadores não conseguiram realizar tudo o que tinham previsto. Tempo e disponibilidade são as fraquezas apontadas. Mafalda Melo, a terceira cofundadora, afirma com dubiedade que “Não foi difícil querer dispor tempo ao GIAC, no entanto foi por vezes complicado doar esse mesmo tempo”. Com alguma desilusão, a estudante expressa: “o que dificultou mais esse objetivo imposto aquando da criação do grupo, foi precisamente a falta de tempo de cada um dos coordenadores, culminado com a época de praxe que acabou por retirar tempo tanto aos caloiros, como aos membros do GIAC, também pertencentes a este ritual académico”. Já quanto ao feedback, Mafalda mostra-se entusiasmada e revela “é muito positivo pois, o GIAC tem conseguido responder a todas as dúvidas dos caloiros, do início do ano letivo até agora”. Esperançosa, a estudante promete que o ano 2016 irá ser em grande e que muitas serão as surpresas preparadas. Algumas das atividades agendadas para o novo ano civil são, a conferência “Estou na universidade, e agora?”, um encontro de entidades que pretende fomentar a aproximação dos alunos à cidade e também o Fórum GIAC: “Academia & cidade”. O “Speed- meeting” é talvez a atividade mais aguardada pois trata-se de um conceito original que foi criado nos Estados Unidos, onde os participantes terão a oportunidade de conversar com desconhecidos durante dois minutos, podendo depois trocar contactos com os mesmos para mais tarde socializar e quem sabe criar novas amizades ou até amores. O balanço deste projeto revela-se positivo. A par das dificuldades, os desejos continuam a existir e são estes que comandam este movimento de integração. Até lá é tudo uma questão de organização, é tudo uma questão de tempo. |
Palavras-chave/Tags:
Artigos relacionados:
GeoURBI:
|