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A Filosofia das Humanidades
Rafael Mangana · quarta, 16 de dezembro de 2015 · Continuado "Humanidades e os Limites do Humano" foi o tema inaugural da conferência internacional "Rethinking Humanities", que teve como oradores o belga Gilbert Hottois, Leonel Ribeiro dos Santos e André Barata, naquele que foi um painel desenvolvido em torno da Filosofia. |
A Filosofia foi a área das Humanidades em foco no painel inaugural |
21967 visitas Professor Emérito de Filosofia Contemporânea na Universidade Livre de Bruxelas, Gilbert Hottois abordou os conceitos de "Transumanismo" e "Pós-Humanismo", enquanto "movimentos de ideias que projetam aquilo que será o futuro do homem". Sob o tema "Rostos de Trans / Pós-Humanismo tendo em conta a questão do Humanismo", Hottois esclareceu que ambos os conceitos "imaginam o desenvolvimento da Humanidade, no quadro da Teoria Evolucionista de Charles Darwin, como um melhoramento material das capacidades humanas, do corpo humano". Para tal, deu alguns exemplos, como a implantação de elétrodos no cérebro para aumentar a memória, ou de próteses dos órgãos da visão, e dos problemas éticos e filosóficos decorrentes dessa evolução. Destacou ainda a possibilidade de não haver evolução, mas antes o desaparecimento da Humanidade, devido a crises. "Pode haver esta evolução, mas pode também não haver, porque a Humanidade tem demasiados problemas que não consegue resolver, e pode desaparecer antes disso acontecer", advertiu. Leonel Ribeiro dos Santos falou sobre o Humanismo e o significado das Humanidades na sua génese. "HUMANUS-HUMANITAS – Studia Humanitatis: Para uma reavaliação do significado filosófico do Humanismo dos séculos XIV e XVI" foi o tema apresentado na comunicação do docente da Universidade de Lisboa. "Tratar do Humanismo - mesmo que seja só um aspeto da cultura do Renascimento - não é uma tarefa cómoda, pela sua grande diversidade e por suscitar diferentes interpretações", adiantou. Partindo do Renascimento, estabeleceu as diferenças entre as várias correntes de pensamento em torno do Humanismo. "Alguns defendem tratar-se de um movimento estético-literário de restauração e imitação dos modelos da Antiguidade Clássica Latina e Grega, em ruptura com a Cultura Medieval. Seria um movimento culturalmente inovador", explica. "Outros valorizam esse movimento como sendo pedagógico-cultural", prossegue, sublinhando, sob esta perspetiva, a importância da descoberta da imprensa por Gutenberg. Por outro lado, destaca que o homem outrora "tipográfico", deu lugar a um mais ligado às tecnologias. "Já não lemos livros, lemos textos em outros dispositivos", lembra. "Há uma tecnologia que vem potenciar uma mudança na difusão da cultura, alterando a sua natureza", defende. Leonel Ribeiro dos Santos destacou ainda a linha de pensamento humanista que segue, "a restauração de um novo paradigma de pensamento, que chamo de racionalidade de tipo retórico, assente no reconhecimento da importância antropológica e até teológica da linguagem e, por conseguinte, ganham aqui relevância as disciplinas que da linguagem se ocupam", diz. O painel fechou com a intervenção de André Barata. O docente da UBI apresentou a comunicação intitulada "Os limites do ser humano significa os limites da Filosofia", onde fez uma reflexão sobre a utilidade da Filosofia e das Humanidades. André Barata sustentou que "os limites do humano são os limites das humanidades", defendendo que "a aceleração do tempo social não é apenas uma consequência do progresso tecnológico, mas também um aparelho global de imersão, um movimento imparável no qual estamos de tal forma imersos que a nossa capacidade para colocar questões se afoga". Para o docente, "as humanidades devem reencontrar a sua centralidade". Aquele que é, também, o atual Coordenador de Doutoramento em Ciência Política da UBI, sublinha a necessidade de "estabelecer outra relação entre Filosofia e Ciência, em vez de submeter as Humanidades a uma característica científica, promover um esclarecimento mútuo, como acontece em áreas como a Neurociência, e promover contributos tecnológicos como forma de criar novos pontos de vista sobre a experiência humana".
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