Jornal Online da UBI, da Região e do RestoDirectora: Anabela Gradim |
Arquitetura dos sentidos
Márcia Soares e Sara da Silva Alves · quarta, 9 de dezembro de 2015 · @@y8Xxv O auditório 8.01 da Faculdade de Engenharias da UBI encheu-se de futuros arquitetos para uma conferência sobre o desenho arquitetónico na contemporaneidade. |
José Mateus na Conferência de Obras Públicas |
21977 visitas Na sua terceira visita à Universidade Beira Interior, José Mateus, um dos fundadores do ARX, trouxe consigo três projetos de obras públicas realizados pelo seu atelier de arquitetura, numa conferência que teve início no final da tarde de terça-feira, dia 2 de dezembro. Numa época caraterizada pela extraordinária velocidade da partilha da informação, José Mateus introduziu a ideia de que é preciso estar-se consciente destes benefícios, mas também é necessário perceber-se que a investigação e a atividade dos arquitetos não se pode basear no visual, mas sim em todos os sentidos, principalmente no tato, pois “o olhar não seria o mesmo se o nosso cérebro não tivesse a informação que vai sendo recolhida através deste sentido”. Desta forma impede-se que se tome “a imagem de uma forma muito superficial”, algo que afeta a arquitetura. O primeiro projeto apresentado nesta sessão foi o Centro Socio-Cultural da Costa Nova. A imagem que se tem da região são as típicas casas com riscas coloridas verticais, mas José Mateus e a sua equipa quiseram investigar o que se poderia “ter perdido pelo caminho”, descobrindo que anteriormente as casas não eram a cores, mas sim calafetadas e protegidas com uma mistura de óleo de peixe e breu, também usado nos barcos dos pescadores. Assim surgiu a ideia de se construir um edifício cem por cento em madeira, com um revestimento semelhante à mistura referida anteriormente, recuperando a antiga realidade da Costa Nova. A estrutura parece levitar sobre a areia, não criando grandes elevações, e a cobertura possui áreas com areia que criam uma relação de ambiguidade com a zona envolvente. “Quem olhar atentamente para este edifício vai conseguir decifrar as regras da sua construção”, refere o arquiteto. O Museu Marítimo de Ílhavo e os Aquários dos Bacalhaus complementam-se e foram apresentados como um todo. Sendo um edifício museológico, o trabalho com a luz adquiriu ainda mais importância e a ideia do tempo e da memória permitiu que o ARX experimentasse alguns “fascínios” adquiridos de alguns dos grandes mestres. “A história da arquitetura começa no momento em que há uma necessidade que leva alguém a pedir a alguém para desenhar um edifício para ser construído”, explica José Mateus. Neste caso era a faina maior, a pesca do bacalhau, que ganhou uma importância cultural muito grande. Para além disto, o anterior edifício não tinha capacidade para a real dimensão do museu e chegou mesmo a ser assaltado. Numa cidade que possuía poucas referências na altura, os arquitetos acharam importante que houvesse algo que se destacasse, construindo uma torre na cobertura. Já o Aquário dos Bacalhaus, que ocupa um lote vizinho, estabelece ligações entre o museu e um espaço empresarial e suscitou dificuldades devido ao facto de ser necessário passar por cima da rua e preparar a relação com uma praça situada na zona. No seu interior criou-se uma ideia de movimento através de um circuito que permitia percorrê-lo numa espiral progressiva que anda à volta do aquário. Em ambos os edifícios predominam o preto e branco. O Mercado Municipal de Abrantes foi a última obra apresentada. “Devia ser um edifício só com um piso, pois é muito usado por pessoas de idade, mas havia um grande desnível”, afirmou. Como estava em muito mau estado, não permitindo uma restauração, e como não comunicava com ambas as ruas, construiu-se um novo andar que as ligava. Deixou de ser preciso “correr à volta”, pois havia um caminho transversal. Apostou-se no branco para uma maior luminosidade e a ideia de movimento foi o motor do desenho do espaço interior. “Cada comerciante instalou os seus balcões e geladeiras. Os arquitetos não podem ser radicais nem podem querer controlar tudo. Há que dar espaço à expressão do morador”, concluiu José Mateus. Para não negar a vista da zona envolvente foi ainda construído um óculo. O facto de ter abandonado a sua carreira de docente é uma das razões pela qual José Mateus gosta de regressar às universidades e falar de arquitetura. “Sei como os estudantes precisam de ver arquitetos que vão tendo trabalho e têm uma atitude otimista perante um contexto adverso, até para perceberem que, afinal de contas, tudo é possível”, concluiu. E se o orador gostou de estar mais uma vez na UBI, os estudantes do curso ficaram igualmente satisfeitos. Carlos Matias, aluno finalista, diz que “foi apresentado um tema que foge completamente à regra e acaba por permitir voltar ao sonho, algo que tem tendência a ser suprimido nas universidades”. Margarida Tavares corrobora estas declarações, acrescentando que foi “muito importante a nível da aprendizagem”, pois o ARX “é um atelier bastante conhecido e tem projetos de renome”. “Alargamos os horizontes e melhoramos o nosso conceito de arquitetura”, concluiu a estudante. |
GeoURBI:
|