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“A frequência da Sala Aberta excedeu as nossas expetativas”
Rodolfo Pinto Silva · quarta, 16 de setembro de 2015 · @@y8Xxv A Sala Aberta da Biblioteca Central abriu há pouco mais de três meses, mas a frequência, nas últimas semanas do ano letivo 2014/15, justifica desde já a sua existência. Em entrevista, José Rosa, responsável pelos espaços da Biblioteca da Universidade da Beira Interior, avalia as alterações dos últimos meses e fala das que se preparam para este ano. |
José Rosa prevê que a Sala Aberta venha a ser exígua, dado o sucesso que antecipa para o local |
21974 visitas – A Sala Aberta foi inaugurada há pouco mais de três meses. Apesar de uma parte importante deste período se ter verificado no período de férias, a taxa de ocupação deixa-o satisfeito? – Com efeito, foi no dia 3 de junho passado que a “Sala Aberta” 24h x 24h foi inaugurada pelo reitor, António Fidalgo. A partir desse dia começou a ser possível estudar na UBI 24 horas por dia, sete dias na semana. Em termos de frequência tenho a dizer que excedeu as nossas expectativas. Durante o mês de junho e até meados de julho pude vir várias vezes, durante a noite, verificar se e como a sala estava composta. Por volta da 1h00 da manhã sempre encontrei a Sala repleta, cheia de estudantes. Em breve poderei ter números exatos, com base no acesso com os cartões, embora esses números não possam ser mesmo exatos, pois pecam por defeito, já que quando entra um estudante outros podem entrar com ele, aproveitando a porta aberta.
– A Sala, como foi dito na inauguração, era um pedido dos estudantes. A observação que fez é suficiente para justificar ainda mais a criação desse espaço? – Claro que justificam, mas os alunos – especialmente os deslocados – são quem melhor pode responder a essa pergunta. A mim, o que mais me impressionou, curiosamente, nas vezes que lá fui, além da sala cheia, foi o silêncio quase absoluto que ali reinava. Todos liam, estudavam, etc., em silêncio. Fiquei boquiaberto. Como sabe, uma das batalhas mais complexas que a Biblioteca Central teve (e ainda tem) de travar foi a do ruído: retirar o ruído das Salas de Leitura e confiná-lo às Salas de Trabalho em grupo, gabinetes, entrada, bar, esplanada, etc., de modo a haver na Biblioteca espaços diferenciados para todos. Mas agora, durante a noite na Sala Aberta 24h x 24h, não havia ali qualquer barulho, como se fossem outros os estudantes face aos que ali estão durante dia (pude verificar in loco que neste período a esmagadora maioria eram estudantes de Medicina, que ali estudavam para exames, o que talvez explique em parte). À medida que a noite vai avançando, naturalmente, a frequência vai diminuindo. Mas por informação dos seguranças, várias vezes pelas 6h00 da manhã ainda havia lá grupos de estudantes. Claro que, como disse, estes três meses de verão não são o período de maior afluência, naturalmente. Mas é para mim óbvio que a «Sala Aberta» já é, e mais ainda se vai tornar, um espaço insuficiente para a procura. É um espaço seguro, com boas condições, vigiado por câmeras, visitado de hora em hora por um segurança, com uma máquina que dá águas, sumos, snacks, etc.. Está um espaço agradável. Os estudantes das engenharias, que costumam frequentar lá (nas Engenharias) uma sala similar, diziam há tempos ao Presidente de Eletromecânica que, quando tentavam vir de noite para a «Sala Aberta», não encontravam lugar para se sentar… Em suma: a «Sala Aberta» está a ser uma boa aposta ganha.
– Tendo em conta esta espécie de período de experiência, poderá ser necessário ampliar o espaço? Há alguma perspetiva disso acontecer? – Esperemos pelos próximos meses para tirar mais e melhores conclusões. Mas prevejo que não só vai ter muita procura, pelo que já se vê, como o espaço será absolutamente insuficiente para demanda dos notívagos. Talvez a UBI possa vir a pensar noutros espaços como este, se tal for viável. Pelo menos nos espaços da Biblioteca Central será muito difícil, porque neste momento está tudo repleto e mesmo sobre-ocupado. Se observar bem tudo o que se fez, nestes quase dois anos, em termos renovação e devolução de espaços aos utilizadores da Biblioteca Central (halls, gabinetes, bar, Sala São Martinho, carrels, etc.), por tempo cada vez mais alargado, mas também nos outros polos – como a recente renovação da Biblioteca da FCSH –, houve um grande investimento financeiro, mas também humano e afetivo, na Biblioteca. É por isso que digo que no âmbito da Biblioteca já não há espaço para isso. Mas talvez noutros espaços… A AAUBI, aliás, no próprio dia da inauguração da «Sala Aberta», avançou que pretende fazer algo similar na sua sede: ter um espaço de estudo aberto até às 4h00 da manhã. E a presidente Francisca Castelo Branco reiterou depois essa intenção.
– O que se pode dizer quanto aos restantes espaços criados no ano letivo anterior, na Biblioteca Central? Em agosto, um recém-doutorado brasileiro elogiou, por exemplo, a existência da Sala São Martinho. Têm tido uma boa ocupação, também? – Bom, já fui dizendo algumas coisas antes sobre isso. Mas posso dizer que a criação da Sala de São Martinho destinada, até às 20h00, aos alunos dos 2º e 3º Ciclos, e das 20h00 às 23h00 para todos, foi algo muito importante. De novo, os alunos é que podem falar disso melhor que nós. Mas são muitos, de facto, os que nos agradecem por mais este espaço de leitura e de estudo individual. Nesta sala, o espaço de eleição é precisamente o primeiro piso, com lugares reservados para doutorandos e investigadores da UBI. Creio que ainda há dois ou três lugares disponíveis. Quem ainda quiser, é só mandar um mail a João Videira. A ocupação tem sido razoável. Eu próprio sou um utilizador assíduo. Nota-se, naturalmente, a existência de picos de utilização à semelhança, aliás, de outros espaços na Biblioteca e na UBI.
– Que outras melhorias foram introduzidas? – A par da melhoria dos espaços para os nossos utilizadores e leitores, também temos procurado melhorar os espaços de back-office, físicos e humanos, que são fundamentais para o funcionamento de uma boa Biblioteca. Recentemente, apetrechámos uma sala de desbaste junto ao Bar da Biblioteca Central (esta sala é um lugar de recuo onde se pode manusear, tratar os livros e outros recursos, quando necessário, fora das salas de leitura); em breve, esperamos ter uma Fazinoteca aproveitando um dos gabinetes existentes nas Salas de Leitura. A docente Catarina Moura, juntamente com a responsável direta pela Biblitoeca, Sandra Pinto, e Ilda Ribeiro têm andado a tratar disso. Andámos recentemente a reorganizar o nosso Arquivo/depósito, mas muito ainda há a fazer. E a propósito elogio a magnífica equipa de colaboradores com que a Biblioteca conta, e que desde faz poucos meses integrou também os Serviços Gráficos da UBI, agora designados de Tipografia. Tem sido um bom desafio. Agradeço sempre a toda a Equipa e digo que sem eles, naturalmente, nada do que se fez poderia ter sido feito. Em março passado fizemos também uma reestruturação interna de todo o Serviço e estamos também a pensar em apetrechar outros espaços. No polo da FCSH precisaremos de nos expandir um pouco mais. Enfim, Roma e Pavia não se fizeram num dia. Costumo dizer “paulatim sed firmiter”, quer dizer, devagar e passo certo, com firmeza.
– No final do último ano letivo foram colocadas mensagens na entrada da Biblioteca. Qual o propósito das mesmas? – Não apenas da Biblioteca Central, mas nos seus três polos. Antes de responder concretamente, deixe-me recordar que desde a Antiguidade que certos lugares que eram simultaneamente espaços de cura, de culto e cultura, e de estudo (e tinham bibliotecas como os Templos de Éfeso, Atenas, Alexandria, Roma), eram Santuários que costumavam ter à entrada um mote ou um adágio inscrito em pedra. Era assim uma saudação de bom augúrio, um indicativo salutar com que acolhiam os visitantes, os peregrinos, etc.. Uma das mais conhecidas era a que estava inscrita no frontão do Templo de Apolo, em Delfos, no centro da Grécia, onde os peregrinos iam auscultar o oráculo da Pitonisa e buscar a ajuda dos médicos de Apolo, eram acolhidos pela divindade com esta admonição: “Conhece-te a ti próprio”. No frontão da Academia de Platão também estava escrito: “Aqui não entra quem não sabe Geometria”, etc.. É um pouco inspirados nessa salutar tradição de acolher os visitantes com uma saudação que decidimos colocar à entra da Biblioteca Central a inscrição «Ubi Sapientia, ibi Libertas» que à letra quer dizer «Onde há Sabedoria, há Liberdade.» No polo da FCSH colocámos a divisa «The Human Being ― The Wealth of Nations». Com isso, relembramos naturalmente a célebre obra de Adam Smith, mas notamos também que verdadeira Riqueza das Nações é constituída em primeiro lugar pelas pessoas. Nunca é demais insistir nisto num tempo em que as costas do mare nostrum estão a ficar pejadas de cadáveres, alguns de criança. A nossa região sabe muito bem, cada vez mais duramente, aliás, à medida que o saldo fisiológico decresce e as nossas escolas primárias encerram, que a riqueza das nações, das regiões e das instituições são as pessoas. No polo da Biblioteca da FCS temos em latim o primeiro dos Aforismos do fundador da Medicina, Hipócrates: “A arte é longa, a vida é breve, a ocasião fugidia, a experiência perigosa, o juízo difícil”. (“Ars longa, vita brevis, occasio praeceps, experimentum periculosum, iudicium difficile”). A ordenação concatenada das seis sentenças sintetiza bem o espírito da fraternidade hipocrática e da missão/vocação em que os estudantes de Ciências da Saúde, particularmente os de Medicina, se iniciam.
– Há mais alguma melhoria preparada para este ano? – Mais que anunciar novidades previamente, acho que devem ser elas mesmas a «anunciar-se» na altura certa… Bom, ainda existem alguns espaços na Biblioteca Central que requerem atenção especial, como a chamada “Sala de Doações”. Mas as coisas têm de ser muito bem ponderadas. E é preciso intervir também ainda em outros espaços, no piso -1 das Salas de Leitura, conseguir mais algum mobiliário; no polo da FCSH pensar nalgum alargamento de retaguarda para guardar as muitas teses que temos… Enfim, há que manter o que está (bem) feito, mas ainda muito que fazer. Mas a intervenção mais importante que esperamos fazer nos próximos meses tem a ver com outro “espaço”, este agora “virtual”. Refiro-me ao UbiThesis, onde a Biblioteca tem, mas não exclusivamente, responsabilidades especiais a propósito do fluxo das teses. Para começar, temos de mudar o nome porque UbiThesis enviesou e centrou a política de autoarquivo da UBI apenas nas teses. Ora tão ou mais importante que as teses, hoje, no âmbito da construção de índices de investigação, é o autoarquivo dos trabalhos dos nossos docentes e investigadores. É por esse eixo que passa hoje cada vez mais a política nacional da FCT (RCAAP) e a política europeia (OpenAire) para o Open Access. Muita coisa está a mexer neste domínio. Neste momento, e até dia 16, o nosso Repositório está a ser migrado para um novo software. Depois disso concluído, vamos mudar o nome do Repositório para uBibliorum – Repositório Digital da UBI, que é uma designação mais abrangente, e “lavar a cara” em termos de página. Entretanto, é preciso redefinir uma política, procedimentos, fluxos e aspetos informáticos, entre outros., coisas que estamos a tratar com o vice-reitor para a Investigação, Paulo Moniz, e o vice-reitor para o Ensino, João Canavilhas, já que os Serviços Académicos são um «nó» decisivo no fluxo das teses; o Paulo Gomes e a Paula Fonseca, do SI… Enfim, é um grupo alargado. Como é uma questão complexa e relevante de política científica, que tem vindo a ser regulada por alguns Decretos-Lei, e tecnicamente um assunto transversal a vários Serviços da UBI, tem de ser tratada com ponderação. No próximo dia 29, vai haver uma Sessão na UBI (de manhã na Reitoria; de tarde na Biblioteca) uma iniciativa neste sentido onde vão estar os responsáveis nacionais do RCAAP, e também Eloy Rodrigues, da Universidade do Minho (que foi pioneira nisto), e que é neste momento o Presidente da Confederação Mundial de Repositórios de Acesso Aberto (COAR).
– Estão a chegar os novos alunos, uma palavra para eles? – Quero saudar vivamente e dar as boas-vidas a todos os novos alunos que a acabam de chegar à UBI, pois são também novos leitores da nossa Biblioteca. E a propósito, há um livro de Georges Steiner, magnífico e que recomendo, que se chama “Silêncio dos Livros”, no qual se fala também “desse vício ainda impune” que é o ato ler – ato sempre subversivo e revolucionário. E lembrar também a “Biblioteca de Babel”, de J. L. Borges, esse famoso lugar de vertigem… Gostava que a nossa Biblioteca também se tornasse para os nossos alunos num semelhante “lugar de perdição”. Retomo apenas as palavras do Poeta que estão à entrada da nossa Reitoria: “E outra vez conquistemos a Distância, do mar ou outra, mas que seja nossa”. |
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