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“O meu sonho é participar nos Jogos Olímpicos de 2020”
Rodolfo Pinto Silva · quarta, 19 de agosto de 2015 · @@y8Xxv Amaro Teixeira está na UBI desde 2008. Ao mesmo tempo que se licenciou e fez mestrado em Ciências do Desporto, contribuiu para a organização da equipa de atletismo da Associação Académica, como treinador. Este ano, enquanto atleta, alcançou o recorde nacional universitário nos 10 km marcha. Mas esta é a apenas uma conquista de um desportista que já competiu em outras quatro modalidades. O sonho, agora, passa pela ida aos Olímpicos. |
Amaro Teixeira (ao centro) começou na marcha para ajudar a equipa e hoje é um dos melhores a nível nacional |
21978 visitas - Ao nível da equipa de atletismo, este foi o melhor ano nos Campeonatos Nacionais Universitários (CNU) para a equipa da Associação Académica da Universidade da Beira Interior (AAUBI)? - Foi bom nas várias modalidades, mas no atletismo tivemos bastantes lugares de pódio e o terceiro lugar coletivo. Eu ainda bati o recorde nos 10 quilómetros marcha em pista. Era uma coisa que ambicionava no início de época e consegui, apesar de naquele dia estar um grande temporal, mas a chuva parou à hora da minha prova. Estava já com algum receio, porque o vento e a chuva condicionam e só podia bater o recorde naquele dia. Considero que foi muito positivo e olhar para trás e ver que agora consegui isto é uma coisa impensável. A primeira vez que fiz 10 km marcha demorei uma hora e 19 minutos e só fui para dar pontos para a equipa. Agora estabeleci o recorde universitário em quase metade do tempo, ou seja 44m54s.
- Quando foi essa primeira participação? - Foi em 2011, há quatro anos. Em 2011 e 2012 treinava para meio fundo e não para marcha e só competia para dar pontos à equipa. Tenho noção que os outros eram mesmo muito bons. Quem ganhava a prova dava-me voltas de avanço. Agora não.
- O atletismo é apenas uma das suas atividades desportivas. Quase se pode dizer que é o “homem dos sete ofícios” neste campo. Como se deu a entrada em quatro modalidades? - Pratico tiro com carabina, porque é uma coisa de família. O meu pai e o meu irmão sempre competiram nos campeonatos do INATEL. Este ano também fiz o campeonato regular, que foi em Portalegre. Pratico desde os 12/13 anos e muitas vezes ia correr e depois chegava à prova de tiro e até ganhava. Sempre gostei porque é um desporto de precisão e de concentração. Cheguei a ser campeonato nacional de juniores da Federação, em 2010, e campeão nacional da 2.ª Divisão no primeiro ano como sénior. Agora, na 1.ª Divisão ando ali pelo 10º, porque também não aposto muito. Ou se treina ou coisa ou outra e não há tempo para tudo. Quando cheguei à UBI, como gostava de badmington, conciliava com o atletismo. No xadrez não cheguei a ter treinos regulares, mas gostava de jogar e entrei num CNU e foi uma boa experiência. Em relação ao triatlo, participava em provas de demonstração nos Açores, com distâncias não oficiais. Na Covilhã, um desportista federado desafiou-me para fazer uma equipa. Fui a primeira vez com ele e gostei. Ficamos no pódio por equipas e trouxemos um prémio para a Universidade. No ano seguinte, ele já não podia ir, mas conseguimos arranjar sempre alguém. Nos últimos dois já não fui porque coincidiu com outras provas de atletismo.
- A marcha agora concentra as atenções, que objetivos tem? - O meu treinador, que é o técnico nacional de marcha, disse-me para começar a treinar e agora já falamos nos Jogos Olímpicos de 2020, se as coisas correrem bem. Era uma altura boa, porque tenho cinco anos de trabalho pela frente. Vou tentar ir no próximo ano à Taça do Mundo, depois Taça da Europa e Jogos Olímpicos. Tenho de ir progredindo e tenho-o conseguido.
- Como foi o seu percurso como federado, no atletismo? - Nos Açores competi pelo Clube Independente de Atletismo Ilha Azul. Quando vim para a UBI juntei-me ao João Serralheiro e estive no Desportivo da Bouça três anos. Depois mudei-me para o Grupo das Donas, de onde saí no ano passado, após um convite do Braga. Possivelmente não vou continuar. Para o clube, eu servia o que eles queriam, que era entrar na prova nacional de clubes, fazer os 5 000 metros e dar pontos para a formação. Para mim, são fins-de-semana que perco, dias que não treino muito, e depois é só a prova dos 5.000 metros. O meu treinador tem um clube em Leiria, virado para a marcha, com o objetivo de apostar nos nacionais de estrada, que são 20 quilómetros, uma distância olímpica, que é a meta de um marchador.
- Ser atleta profissional é uma ambição para o futuro? - Isso agrada a qualquer um, mas desde que existam os devidos apoios. Tenho noção que é muito difícil chegar a esse patamar, mas melhorar aproxima-me desse objetivo. Gostava de continuar a treinar, a ter atletas que ajudasse a evoluir e que chegassem também onde eu cheguei e mais além. Alguns já tiveram medalhas nacionais e isso deixa-me bastante satisfeito, porque na idade deles não conseguia nada de muito bom. Também gostava de dar aulas aqui. Gosto mais da Covilhã do que Lisboa ou Porto. São maiores, mas o nível de vida que se consegue cá é muito diferente. Voltar para os Açores, não estou muito virado. No Continente pegamos no carro e vamos para os sítios e lá é preciso andar de avião. É mais limitador.
- Como se conciliam os estudos com essa prática desportiva intensa? - É uma questão da pessoa se organizar. Há quem diga que não tem tempo. Tenho atletas nos ensinos Básico e Secundário que pedem para não treinar, porque têm de estudar. Como é que neste ensino têm falta de tempo? É uma questão de organização e não é assim tão difícil treinar e estudar.
- Que significou receber o Prémio Percurso Desportivo na Gala do Desporto deste ano? Foi o corolário de uma grande temporada? - Sim, é o primeiro prémio que recebo a nível individual. Tinha já sido homenageado como treinador em dois anos e o galardão de equipa do ano também foi atribuído ao atletismo. É realmente uma coisa que me deixa muito satisfeito e resulta do que tenho evoluído a nível de tempos e também espelha aquilo que tenho feito na Universidade, porque como atleta e treinador tenho estado sempre envolvido no desporto.
- O atletismo é uma aposta forte na AAUBI? - Tem sido desde que cheguei à UBI, em 2008. Até aí, pelo que vi no historial dos anos anteriores, houve medalhas, mas normalmente iam às provas um, dois ou três atletas. Tive a preocupação que fossemos mais e o calendário de atletismo não é só uma prova ou duas, são várias. Procurei que levássemos um atleta para cada prova e que fizéssemos mais especialidades. No primeiro ano que estive cá, fomos 10 a uma competição e depois aumentamos. Atualmente vamos 20 e cumprimos quase o programa todo, à exceção de uma prova ou outra, principalmente no sector feminino, que cá não é muito forte. Vai aparecendo uma ou outra atleta federada, com alguma experiência, mas é um sector que é complicado ter gente. No masculino têm aparecido sempre bons atletas e outros que surgiram através do desporto universitário. Tem sido positivo.
- Os resultados têm aparecido. - Na pista ao ar livre ficamos em terceiro por equipas, à frente de universidades que têm mais alunos e que também já nos ganharam. Mas eles têm melhores condições do que nós, porque estão ao pé de grandes clubes, como é o caso de Leiria, que está próximo de um grande clube que acolhe muitos atletas, ou o Porto, que já é seis ou sete vezes seguidas campeão nacional coletivo. Porquê? Eles levam às provas 40 atletas e têm lá clubes à volta, nomeadamente uma parceria com a Escola do Movimento, que ajuda muito.
- A equipa da AAUBI é composta por quantos elementos? - Devemos ser entre os 30 ou 40. A competir nos campeonatos, depende. Por exemplo, no de estrada e de corta mato vão sempre menos, porque é só masculino e feminino e há só uma prova. Às provas de pista, como envolvem mais especialidades, já vamos no mínimo 20 e menos de 30.
- Tem sido fácil atrair atletas para a modalidade, dado o sacrifício que exige? - Em termos de vontade e disponibilidade da pessoa exige muito. Temos atletas que treinam sete vezes por semanas e às vezes até fazem preparação bidiária. Um estudante tem o hábito de sair com os amigos e há atletas que nem querem sair porque estão cansados do treino, que exige muto sacrifício. Há pessoas que não querem ou não conseguem.
- O desporto é uma atividade que é aconselhada a todas as pessoas. No caso do universitário, que ganha um atleta? - Os atletas que lá tenho dizem que os faz sentir mais relaxados. No fim de um dia de aulas vão lá e aliviam um bocado o stress. Também se cansam, mas ficam sem pensar nas preocupações do dia-a-dia. É uma maneira de criarem um grupo. Temos um coletivo que se conhece bem e têm acontecido situações de pessoas que começaram relacionamentos porque se conheceram lá. Há amizades que ficam e isso é mesmo importante. Muda um bocado a vida das pessoas e é como se fosse uma família. É uma coisa que devem experimentar. Não digo que seja o atletismo, mas fazerem algum desporto. Através dele conheci quase Portugal inteiro e até o estrageiro. Não vou de férias, vou competir, mas dá para ver alguma coisa.
- A AAUBI e a UBI dão boas condições à equipa? - As outras modalidades precisam de mais apoio da estrutura que o atletismo, para material. Nós temos o nosso empenho, o nosso material e a pista. Mas a Universidade tem sempre atenção para nós, quando pedimos ofícios para poder treinar. Nunca me disseram que não podia levar este ou aquele atleta, confiam nas minhas escolhas. A UBI sempre nos proporcionou as deslocações e isso é o fundamental, porque não é muito barato levar uma equipa de 20 pessoas a uma prova, às vezes com dormidas, transporte e alimentação.
Perfil Amaro Teixeira é natural da Ilha do Faial, nos Açores e tem 26 anos. Esta na UBI desde 2008. Praticava atletismo desde os 13 anos, mas sempre direcionado para meio fundo. Na Covilhã, fez licenciatura e mestrado em Ciências do Desporto, que terminou em outubro de 2014. Pondera agora fazer doutoramento na UBI e, se tal acontecer, já tem tem uma decisão complementar: “Ainda correrei mais umas vezes com a camisola da Universidade”. |
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