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Alunos experimentam realidade dos cuidados de saúde de São Tomé
Rodolfo Pinto Silva · quarta, 10 de junho de 2015 · UBI O projeto “Querer e Fazer” está promover a ida de alunos de Medicina a São Tomé Príncipe, onde contactam com uma realidade bastante diferente da portuguesa e adquirem uma experiência que vai além do que aprendem nas salas da universidade. Cerca de 30 já foram, desde novembro, e até ao final do ano as vagas já estão preenchidas. Um projeto que tem subsistido com ajuda de privados. |
Ana Delgado (à direita) já esteve em São Tomé. Margarida Santos irá viver a mesma experiência. |
21975 visitas Mais de três dezenas de alunos do Mestrado Integrado em Medicina estiveram desde novembro de 2014 em São Tomé e Príncipe, no âmbito do projeto “Querer e Fazer”, que está sedeado na Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade da Beira Interior (FCS-UBI). Os estudantes vão em grupos de cinco, durante um mês, para as unidades de saúde daquele país africano, onde têm oportunidade de contactar com uma realidade diferente daquela que vão encontrar em Portugal, enquanto profissionais. Oportunidade, pois, para acrescentarem uma outra forma de aprendizagem à universitária e, ao mesmo tempo, participarem numa iniciativa social. Os interessados em ter esta experiência são muitos e, até final do ano, estão já programadas todas as deslocações do projeto, que irá ser alargado a estudantes de Ciências Farmacêuticas. A mais-valia do contacto com os doentes é destacada de quem já esteve em São Tomé e Príncipe. Ana Delgado, no quarto ano – tal como todos os estudantes que foram até ao momento – trouxe na bagagem a experiência que resultou de “uma componente prática muito grande”, fruto da independência que é dada pelos profissionais africanos. “Muitas vezes tínhamos os doentes por nossa conta”, explica. Ter os doentes por sua conta, numa unidade hospitalar onde existiam poucos médicos e as enfermeiras tinham um papel tão importante como os clínicos, implicava “auscultar, ver o estado do doente, se era necessário prescrever mais exames, se a medicação estava bem ou se era precisava de alguma alteração”. E até prescrever, mesmo que não sentisse total confiança. “Mas tínhamos lá médicos e perguntávamos qual seria o melhor medicamento, tendo em conta o contexto daquela situação”, refere. “Pensamos que sabemos imenso porque vimos de Portugal, um país desenvolvido, mas depois chegamos lá e vemos que não. Eles sabem, estão lá para nos ensinar e nós aprendemos muito, vendo o que eles fazem naquele contexto específico. É muito importante”, resume. Ana Delgado já foi, Margarida Santos faz parte dos que vão. Também no quarto ano, vai cumprir o mesmo calendário dos colegas que viajaram até África. Na primeira semana percorrem as consultas materno-infantis, na segunda experimentam os vários serviços do único hospital central que há no país e, nas duas últimas, percorrem os postos de saúde dos distritos da periferia, para conhecerem como é que se prestam cuidados a este nível. “Não estou muito assustada. Estou mais entusiasmada que assustada”, conta. “Espero chegar lá de desenrascar-me com o que tiver. Sei que há situações mais complicadas e outras em que terei de me socorrer um pouco às enfermeiras e médicos e à minha experiência. Acho que vai ser extraordinário”, perspetiva. Expectativas: “Aprender muito. Espero mudar algumas coisas e conseguir levar para lá alguns conhecimentos que já tenho e adquirir novos, também. E muita prática principalmente”. A ideia da aquisição da prática é fundamental. “Às vezes há falta de material que aqui é tão usual”, salienta João Luís Baptista, o médico que começou a dinamizar o projeto na Universidade Nova de Lisboa e o trouxe para a Covilhã, quando se tornou docente da FCS-UBI. Os exames complementares de diagnóstico são mais limitados e a prática com que os alunos se deparam é “aquele que existia há 40 ou 50 anos”, além das doenças típicas de um continente diferente, com os seus problemas próprios. “Para nós é claro em termos de estrutura de currículo. O mundo mudou e hoje é global. Quando tirei o meu curso era impensável que alguém me entrasse no consultório e dissesse que tinha acabado de chegar o Afeganistão ou de qualquer outro sítio, com umas borbulhas na pele. Os estudantes ao terem contacto com uma patologia que não temos cá, no contexto em que ela se gera, faz deles mais médicos”, salienta, acrescentando a vantagem da “parte humanitária”, o “aguçar-lhes o apetite” para lidarem com outros povos. Uma forma de também descobrirem o seu caminho futuro. “Tenho três tipos de alunos”, explica o coordenador do projeto: “Os que saem destas missões a dizer que nunca mais querem saber disto, outros a pensar que se calhar vai ser a sua vida e outros ainda que hoje estão na UNICEF ou nos Médicos Sem Fronteiras. Acho que por isso também valeu a pena”. Independentemente da semente que fica a este nível, o projeto é um sucesso e a prova disso são os muitos interessados em participar, até de outras universidades. Mesmo tendo os estudantes de custear a viagem, e o projeto viver de patrocínios para ajudar aqueles que têm maior dificuldade em pagá-la, a adesão é grande e surpreendente, no entender de João Luís Baptista. Uma forma de dar resposta a este desejo será alargar a participação a outros Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa, nomeadamente Guiné Bissau, Moçambique e Angola, “mas ainda nada está assente”. Certo é que a experiência será alargada aos estudantes de Ciências Farmacêuticas, com uma missão específica: trabalhar a educação para a saúde, junto das escolhas primária. Como explica João Luís Baptista, “podem perfeitamente fazer manuais para os professores do ensino básico de como promover saúde”, e trabalhar os “âmbitos farmacológico, de nutrição e de prevenção de determinadas doenças nas crianças, neste caso”. |
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