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Documentário produzido na UBI premiado em festival internacional
Rodolfo Pinto Silva · quarta, 20 de maio de 2015 · @@y8Xxv “Trama”, realizado por Luísa Soares, venceu o mais importante galardão da MIFEC: Mostra Internacional de Filmes de Escola. Trata-se de um documentário centrado no papel da mulher, no contexto da indústria têxtil da Serra da Estrela. |
A curta-metragem de 21 minutos recupera a memória de um sector com grande importância na região da Serra da Estrela |
21998 visitas As mulheres e a indústria têxtil do concelho de Seia são as temáticas do documentário “Trama”, realizado por Luísa Soares, que arrecadou o principal prémio da MIFEC: Mostra Internacional de Filmes de Escola. O trabalho, realizado no âmbito do mestrado de Cinema, na Universidade da Beira Interior (UBI), tem 21 minutos e faz uma homenagem às antigas operárias do sector têxtil, tendo convencido o júri do certame que decorreu no Porto. Produzido em 2014, como projeto de final de 2º ciclo, com orientação de Vasco Diogo, venceu o Grande Prémio MIFEC – e o galardão para Melhor Documentário. O júri desta 12ª edição do certame promovido pela Escola Superior Artística do Porto (ESAP) foi constituído por Manuela Cernat (UNATC - National University of Drama and Film, da Roménia), Anabela Oliveira (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro), Rita Capucho (Cineclube de Avanca), o Rob Rombout (realizador holandês de documentários independentes) e a docente moldava Anastasia Coda. Estes elementos ficaram certamente impressionados pela reconstrução da memória histórica e a preocupação estética que definem a realizadora e estão presentes no trabalho que concorreu com outros 50 filmes, provenientes de 14 países. Luísa Soares manifesta-se naturalmente “satisfeita” com este “reconhecimento importante” alcançado para o seu segundo filme, que está neste momento a concorrer a diversos festivais de cinema nacionais e internacionais, com “perspetivas interessantes e já com alguns pré-contactos”. Licenciada em Artes Plásticas pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto e natural de Coimbra, Luísa Soares acabou por abordar um tema importante da região onde fez mestrado. A realizadora explica que se tratou de uma escolha baseada num interesse antigo e de um contacto continuado com despojos industriais na zona da Serra da Estrela. “Durante um largo período de tempo, juntamente com o diretor de fotografia do filme, Pedro Sousa Raposo, percorremos os lugares, antigas fábricas de lanifícios. Estivemos, recolhemos arquivos perdidos e sentimos os espaços agora vazios. E ao sentir os espaços interessou-me pensar em quem os habitou, os viveu, os encheu”, conta. Além dos espaços, o filme foca as pessoas, “acima de tudo”, e a memória, o arquivo, a identidade local e a ligação coletiva a uma indústria que se deslocalizou. “Olha, através das minhas escolhas, para uma comunidade intimamente ligada a uma atividade industrial”, explica, acrescentando que “o olhar que é mostrado no filme é também o olhar das trabalhadoras, das muitas mulheres que trabalharam nas fábricas agora em ruínas, a forma como se vêem hoje, como olham para trás e como sentem o passado”. Espelhos de uma realidade, de uma comunidade e representantes de uma memória coletiva que junta todos, independentemente de questões de género, segundo a autora, que trabalha atualmente na área das artes visuais, enquanto faz pesquisa para o próximo filme, no qual manterá a linha documental e experimental. “Interessa-me sobretudo pensar nas ligações e interpenetrações entre Arte e Cinema, nas conceções teóricas e estéticas, mas também na linguagem, na experimentação e nas abordagens utilizadas”, refere. O documentário já tinha sido exibido na edição deste ano dos Prémio Sophia, organizados pela Academia Portuguesa de Cinema, e distinguido com o Prémio do Júri para melhor filme no UBICinema, festival onde os alunos da Universidade apresentam os seus trabalhos de final de licenciatura ou mestrado. Além de “Trama”, a Universidade da Beira Interior concorreu com outra curta-metragem, mas de ficção. Intitulada “Ao redor” é da autoria de Hélder Faria e foi igualmente produzido como projecto de mestrado, que terminou e defendeu em outubro. É um filme sobre violência doméstica, visto da perspectiva do agressor, tendo recebido alguns elogios da parte do júri, nomeadamente no que concerne à fotografia, os planos-sequência, a montagem e o argumento. “Penso que os dois filmes são, coincidentemente, bastantes comprometidos, em termos políticos e sociológicos, por recorrerem a temáticas tão atuais, que revelam a invisibilidade e as dificuldades do sector operário feminino (no caso do “Trama”), e o dia-a-dia de uma família disfuncional, no qual a violência se instala (no caso do “Ao redor”)”, salienta Ana Catarina Pereira. Para a docente de Cinema da Faculdade de Artes e Letras da UBI, ambos os filmes partilham outras características como serem “muito pensados”, que “não revelam apenas bons conhecimentos técnicos e competências artísticas, mas também uma narrativa baseada em valores, capacidade de observação e sensibilidade”. A 12ª edição da MIFEC: Mostra Internacional de Filmes de Escola teve lugar entre os dias 12 e 16. Atribuiu os prémios Grande Prémio MIFEC, Prémio Especial do Júri, Melhor Filme Português, Melhor Argumento, Melhor Realizador e Melhor Documentário. A edição deste ano entregou ainda o Prémio Aurélio da Paz dos Reis a Sérgio Fernandes e Rob Rombout, pelos seus percursos artísticos, que contribuiram para dignificar as artes cinematográficas. O MIFEC tem como objetivo promover o encontro anual das mais importantes escolas de cinema, nacionais e internacionais, através da exibição e competição de filmes, workshops, masterclasses e debates entre alunos e professores das várias instituições envolvidas. |
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