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José Mariano Gago
Tiago Sequeira · quarta, 22 de abril de 2015 · @@y8Xxv
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21954 visitas Morreu José Mariano Gago. Não sou particularmente adepto de elogiar as pessoas (apenas) quando deixam de estar entre nós ou de as elogiar, sem merecimento, nestas ocasiões. No entanto, o Prof. Mariano Gago mereceu a minha profunda admiração, enquanto cientista, mas essencialmente enquanto político de ciência. Tive ocasião de lhe o transmitir aquando do 24º Aniversário da UBI, numa das poucas vezes que tive o privilégio de falar com ele. Portugal tem tido em democracia um conjunto de políticos de ciência com um vasto curriculum académico, de mérito internacional. Entre Ministros e Presidentes da FCT, têm sido muitos os intelectuais e professores de prestígio. Nenhum, no entanto, se igualou ao Prof. Mariano Gago como reformador das políticas científicas e de ensino superior em Portugal. Alguns aliás, mostram uma dissociação clara entre o seu mérito científico e a sua capacidade de promover políticas públicas coerentes nesta área. Pelo contrário, Mariano Gago deixou uma marca positiva e indelével na ciência e no ensino superior. O aumento do investimento em ciência, a avaliação por pares e padrões internacionais de unidades de investigação e de projectos, a reforma da estrutura das universidades (através do Regime Juridico das Instituições de Ensino Superior – RJIES, da reforma do Estatuto da Carreira Docente Universitária, da nova regulamentação do Titulo de Agregado para dar apenas alguns exemplos) são elementos do seu legado. Com as leis que assinou como Ministro, passaram para o texto da lei, pela primeira vez em Portugal, a necessidade de excelência na investigação, os padrões de comparabilidade internacional e a necessidade de combater a endogamia nas instituições científicas e universitárias. Reconhecedor do papel central da ciência e da Universidade (e da ligação entre ambas) no desenvolvimento, ao deixar o cargo de Ministro, Mariano Gago deixou Portugal com instituições reformadas, modernas e próprias de um país desenvolvido. Intelectual de craveira, foi simultaneamente um homem frontal que, com lucidez e sapiência, enfrentou aqueles que se opunham às reformas que ameaçavam benefícios instalados, para colocar o seu país entre os que mais investiam em ciência e tecnologia. As suas qualidades não dividem o pais pelas simpatias partidárias, como se pode verificar pela análise das reacções à sua morte. Mariano Gago visitou oficialmente a UBI pela última vez por altura do seu 25º Aniversário. O seu discurso de 18 minutos ilustra a lucidez com que analisou o sistema de ensino superior em Portugal. Não deixou de apontar desafios que por serem difíceis, são incómodos. Certo de que não distorço a sua visão, saliento as seguintes ideias. Reflectindo nas dificuldades por que passa uma instituição de ensino superior recente e inserida fora dos grandes centros urbanos, disse “Qualquer organização e por maioria de razão uma organização científica e académica está constantemente a necessitar de uma injecção de energia organizada contra a 2ª lei da termodinâmica, contra o aumento da entropia que a todos nos condena, se não tirarmos das interacções com outros, designadamente com aqueles que são melhores que nós, as forças, as capacidades para melhorarmos.”. “A investigação como base absoluta da definição dos critérios de qualidade das instituições novas, académicas, parece-me o único elemento que, contra ventos e marés, é necessário reforçar sempre, o que, em organizações novas, só se conseguirá em estreita cooperação com instituições de investigação de maior qualidade, porque existentes há mais tempo e com mais recursos humanos, físicos e históricos acumulados.” “Hoje em dia, a aposta clara dos estudantes na exigência científica e na investigação e a resistência a todos aqueles que lhes dizem que o que é preciso é saber ensinar bem, não é preciso saber investigar para isso; a resistência absoluta a essas vozes só pode vir neste momento dos melhores professores e investigadores mas sobretudo, dos estudantes. E para isso as universidades têm que se bater para ter os melhores estudantes que puderem.” Estou triste porque nos deixou um Homem que deu muito ao país mas que poderia ainda dar muito mais! Num momento em que a política científica em Portugal precisaria novamente de Mariano Gago!
- Escrevo sem as adaptações decorrentes do Acordo Ortográfico. |
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