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Ensino Superior na Covilhã começou há 40 anos
Rodolfo Pinto Silva · quarta, 18 de fevereiro de 2015 · @@y8Xxv O aniversário do início das aulas no Instituto Politécnico da Covilhã foi há quatro décadas, assinalado ontem, 17 de fevereiro. Ouvimos cinco desses alunos pioneiros daquilo que acabou por ser a Universidade da Beira Interior. |
Esta é a zona mais antiga da UBI. Foi aqui que começou o Politécnico da Covilhã |
21992 visitas A mesma pergunta foi feita a cinco pessoas: “Como imagina a Covilhã – e a região – sem a Universidade da Beira Interior (IPC)?”. A resposta, por palavas diferentes, teve o mesmo conteúdo: Não seria a mesma e provavelmente não estaria melhor. Domingos Torrão, João Barata Gomes, José Lucas, Rui Miguel e Vítor Mota integraram um grupo de 143 pessoas que fizeram parte de um grupo pioneiro que há 40 anos – assinalados ontem, 17 de fevereiro – estiveram no primeiro dia de aulas do Instituto Politécnico da Covilhã (IPC). Um momento histórico marcado pelo arranque do Ensino Superior na cidade e que representou mudanças na fisionomia da antiga “Manchester portuguesa” e na vida de muitos dos que cá vivem. As formações são diferentes, os percursos de vida também. Vítor Mota é hoje administrador da UBI; Rui Miguel e José Lucas são docentes do Departamento de Ciência e Tecnologia Têxteis; Domingos Torrão teve uma carreira autárquica na presidência da Câmara de Penamacor; enquanto João Barata Gomes esteve em diversas entidades públicas da Covilhã como o Instituto do Emprego, Serviços Municipalizados de Água e Saneamento e Parkurbis. Hoje dirige o Conservatório Regional de Música da Covilhã. Percebe-se que todos falam da UBI, enquanto ideia aglutinada das instituições anteriores – IPC e Instituto Universitário da Beira Interior – com uma forte ligação emocional. José Lucas, que esteve sempre ligado profissionalmente à Universidade, assistiu até ao abrir da porta. Recorda a manhã do dia 17 de fevereiro de 1975, quando encontrou no centro da cidade Carlos Gonçalves Melo, que viria a ser um dos elementos mais reconhecidos da instituição e, ambos, abriram a porta da nova escola superior. “Viemos a pé por ali abaixo e de facto viemos ambos abrir a porta”, conta o docente, que acabou por inscrever-se no bacharelato de Engenharia Têxtil, depois de algumas tentativas de cursar Engenharia Eletrotécnica, em Coimbra. O País vivia o conturbado período após o 25 de Abril e vários sectores da sociedade sofriam com essa instabilidade. As universidades não fugiam à regra. José Lucas ainda fez uma inscrição em Coimbra, da qual nunca teve resposta; Vítor Mota frequentou apenas algumas aulas no curso de Economia, devido à instabilidade política. “Estou na Brasileira quando Duarte Simões me diz que vai haver mesmo Ensino Superior na Covilhã nocturno. Como já trabalhava na altura e tinha pedido licença sem vencimento para ir para Coimbra, vi aqui a oportunidade de poder trabalhar no Hospital da Covilhã e conciliar estudo e trabalho, porque a minha família era de fracos recursos e essa era uma questão determinante para mim”, refere o administrador da UBI. Resume-se assim muita da importância inicial do IPC: formar pessoas da região que devido às contingências políticas não tiveram oportunidade de estudar em outros locais, ou porque a situação financeira ou profissional também impediam mudanças para outras cidades. “Para a grande maioria dos alunos da altura, se não fosse o IPC, certamente não tinha hipótese de estudar”, reconhece Domingos Torrão, que explica assim porque considera a UBI “uma grande vantagem para o Interior. Sem ela, seria completamente diferente”. Barata Gomes lembra o esforço que muitos profissionais fizeram para aproveitar a oportunidade que surgiu: “Havia alunos – do pós-laboral – que vinham de outros pontos da região. Quatro ou cinco que vinham do Sabugal onde tinham os seus empregos e para onde regressavam à meia-noite. Também vinham da Guarda e Castelo Branco. Eram pessoas com força em reforçar os seus conhecimentos, que os projetavam para uma vida melhor”. Ele próprio já trabalhava e “era impensável ir estudar para o Porto e Lisboa”. “Nem havia condições económicas”, explica, recordando que “a sociedade da Covilhã não tinha muitos recursos financeiros que permitissem a determinada classe social ter os filhos a estudar em Coimbra, Porto ou Lisboa”. Ir para o Porto, para Engenharia Mecânica, fazia parte dos planos de Rui Miguel. No entanto, a “existência de um curso de engenharia e perto da família foram determinantes” e a decisão foi rápida. O docente da área Têxtil foi o aluno número sete e salienta que não se arrepende da decisão que, admite, o “marcou muito”, por causa da “sensação de iniciar uma instituição na cidade, sabendo que os cursos tinham como uma forte orientação as empresas da região”. E acrescenta: “Estávamos a ajudar a pôr de pé uma instituição nova, algo que era inédita em Portugal, que era o Ensino Superior descentralizado, colocado no Interior. Sentíamos que eramos atores muito próximos desse processo”. A estes cinco alunos iniciais juntaram-se mais 138 para constituir as quatro turmas dos bacharelatos de Engenharia Têxtil e de Administração e Contabilidade. Uma diurna e outra noturna, em cada curso. Foram os primeiros 143 do Ensino Superior na Covilhã, por onde já passaram aproximadamente 44 mil alunos, nos últimos 40 anos. No atual ano letivo são perto de sete mil, de três graus de ensino, divididos por cinco faculdades. Realidade bem diferente de quando a escola “se restringia a um corredor”, como lembra Barata Gomes, no Pólo I, próximo de onde se encontram atualmente os Serviços Académicos. E foi neste contexto que nasceu o espírito de proximidade entre professores e alunos, que ainda hoje é uma das imagens de marca da instituição. “Como era um espaço pequeno e só havia duas turmas a funcionar ao mesmo tempo, convivíamos todos uns com os outros, porque o espaço era o mesmo”, lembra José Lucas. O mesmo se passava na relação com os professores da altura, nomes importantes do sistema de ensino nacional, como lembra o aluno número 65 daquela época, Vítor Mota: “Portugal vivia um período conturbado e o IPC aproveitou para trazer para a Covilhã muitos docentes que estavam a ser saneados noutras instituições. Acabaram por vir colaborar com o IPC e enquanto o País parava em greves, a Covilhã estudava. E seguramente que nos anos seguintes, os alunos mais bem preparados eram os da Covilhã porque para além de terem professores de eleição, tinham realmente trabalhado”. Na área têxtil, a maior dificuldade era conseguir docentes das áreas mais técnicas, situação resolvida com o apoio recebido de especialistas de Mulhouse (França) e Terrassa (Espanha). Mas nunca a qualidade do ensino esteve em causa. Domingos Torrão, João Barata Gomes, José Lucas, Rui Miguel e Vítor Mota formaram-se no IPC com o grau de bacharéis. A maior parte voltou às instituições que lhe sucederam, para concluir licenciaturas, mestrados ou doutoramentos. Para esta reportagem, João Barata Gomes voltou ao edifício da Biblioteca Central da UBI, onde, em tempos trabalhou, aquando da sua passagem pelos SMAS. Essa é outra face da UBI: a reconversão de antigas fábricas e espaços em zonas de ensino e investigação. A instituição é, a todos os títulos, “o exemplo de superação contínua de dificuldades”, lembra António Fidalgo. “Há 40 anos que estamos deste lado da Serra, a desbravar o caminho com esforço, ousadia e tenacidade, e cá continuaremos, com a mesma força e determinação, por tempo indefinido”, salienta o reitor da UBI.
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