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“De zero a dez, como está a sua dor?”
Sara Ventura · quarta, 18 de fevereiro de 2015 · O Café Literário tem sido uma das apostas da Câmara Municipal da Covilhã para a dinamização cultural da cidade. Desta vez, a convidada principal foi a escritora Margarida Fonseca Santos que partilhou com o público parte da sua história de vida e a sua obra literária. |
Margarida Fonseca Santos partilha as suas histórias no Café Literário |
21997 visitas A noite começou de modo diferente na Pastelaria Leveda esta terça-feira, ao acolher no seu estabelecimento o Café Literário. O evento foi marcado pela presença da escritora Margarida Fonseca Santos que se deslocou até à Covilhã para falar sobre a sua obra literária. A noite começou com o quarteto de cordas da EPABI que presenteou os intervenientes do evento com algumas músicas. A conversa iniciou com uma intervenção de Soraia Ferreira, Psicóloga no Centro Hospitalar Cova da Beira, que fez uma breve apresentação da obra “De zero a dez”, de Margarida Santos, que tem “usado incansavelmente” nas sessões com os seus pacientes. Margarida Fonseca Santos conta já com inúmeras obras literárias para diferentes faixas etárias. Começou por criar histórias infantis para contar aos filhos, até que esta paixão pela escrita se tornou mais séria e abandonou o ensino de música para se tornar escritora a tempo inteiro. Neste café literário optou por se focar no seu último livro que saiu para as bancas em maio de 2014, mas só agora está a ter o seu auge de sucesso. “De zero a dez” é um romance que aborda a dor crónica, uma espécie de livro terapêutico onde são evidenciadas as maleficências da doença e algumas estratégias para lidar com a dor. Este é um livro “de cariz imensamente pessoal” para autora, que sofre de uma doença crónica – espondiloartrite. Este é um problema de saúde ligado à família das doenças reumáticas inflamatórias que provoca dor na coluna, nas pernas nos braços devido à inflamação das articulações, dos ligamentos e dos tendões. Margarida Fonseca tinha 36 anos quando descobriu a doença em 2000, e tem vindo a atravessar várias fases a nível emocional e físico em consequência da mesma. A obra nasceu do desafio colocado pelo seu reumatologista, uma identidade importante para a criação da história e para sobrevivência diária na sua vida. A autora descreve este livro como “uma história feita de muitas histórias” compostas por quatro personagens principais, cada uma delas inspirada em personalidades reais. Margarida frequenta uma associação de pessoas que tal como ela sofrem de dor crónica, e foi através desta que teve a oportunidade de entrevistar várias pacientes na mesma ou semelhante situação. Apesar da constante dor e das frequentes crises dolorosas que enfrenta, Margarida Fonseca fala da sua condição com tranquilidade e algum divertimento. Com os intervenientes deste Café Literário partilhou algumas situações caricatas devido à doença, e como tem sido viver com espondiloartrite. Mostrou que esta é uma constante luta diária pois “dói estar sempre cansada e cansa estar sempre com dor”, confessou. Nos vários workshops de escrita criativa que Margarida tem vindo a realizar, incentiva sempre à escrita e à verbalização daquilo que se sente, pois acredita que “ao escrever, organizamos o nosso cérebro”. O Café Literário é uma atividade que a Câmara vem organizando há vários anos, e que a partir desta edição ganhou uma nova roupagem: “O escritor convidado tem mais tempo de antena e é o protagonista principal”, explicou Telma Madaleno, responsável da autarquia. O objetivo destes eventos é trazer à cidade e aos locais mais improváveis, personalidades literárias num ambiente mais descontraído em que o autor fala do seu livro ou da sua obra literária. João Ferreira, de 22 anos, assistiu pela primeira vez a um Café Literário e foi de opinião que este “é um bom exercício de estimulação cultural, pessoal e profissional”, valorizando a oportunidade de “estar em contacto e poder falar descontraídamente com artistas literários”. Quanto à escritora Margarida Fonseca Santos, João Ferreira qualificou-a como cativante e “apesar da sua doença, canalizou o seu sofrimento para escrever o livro” de “De dez a zero”, e deste modo, “ajuda imensas pessoas que padeçam de dor crónica”.
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