Jornal Online da UBI, da Região e do RestoDirectora: Anabela Gradim |
Olhos que mentem
Sofia Rustrian Fonseca e Mariana Saraiva e José Gonçalves · quarta, 18 de fevereiro de 2015 · A anorexia nervosa tem uma taxa de incidência elevada nas mulheres mais novas. Através do testemunho de uma jovem a braços com o problema, vai-se à procura de conhecer melhor este distúrbio alimentar. E que visão têm outras mulheres desta questão? |
Depressão e stress são dois dos reflexos da anorexia nervosa |
21968 visitas “Já lá vão três, quase quatro anos. A cadeira é sempre a mesma. Nela já sentei os meus ossos e, agora, orgulho-me de dizer que sento o meu corpo”. Esta reportagem baseia-se em afirmações como esta, feitas nas redes sociais e no testemunho na primeira pessoa de alguém que viveu e vive na pele o problema. Este caso real tem como personagem Paulina Rustrian Fonseca. Com a ajuda desta estudante do Ensino Superior, podemos entender, de uma perspetiva diferente, o que é a anorexia nervosa. Dos transtornos alimentares, é o que mais tem levado pacientes adolescentes, geralmente do sexo feminino e cada vez mais jovens, a procurar ajuda. O problema resulta de uma perturbação significativa da percepção do tamanho. A anorexia nervosa caracteriza-se pela limitação da ingestão de alimentos, devido à obsessão de magreza e o medo mórbido de ganhar peso. Provoca uma perda de peso acima do que é considerado saudável para determinada idade e altura. Os seus doentes podem abusar de dietas ou exercício físico, com o intuito de evitar ganharam mais uns quilos, nunca reconhecendo o seu transtorno alimentar. “O pior do mundo. Essa palavra não devia existir no dicionário, nem no nosso vocabulário. Por norma, uma pessoa anorética terá montes de problemas em redor dela e nem se apercebe. Por isso, essa palavra nem sequer devia existir”, diz Maria Otília Martins, mulher de uma geração diferente de Paulina, mais velha. As causas ainda são complicadas de decifrar, mas “dizer os motivos que levam a tal prática é difícil, porque cada caso é um caso”, refere Adriana Ribeiro, estudante da Universidade da Beira Interior (UBI). “Normalmente penso que tem que ver com a ideia que a pessoa tem de si, do seu próprio bem-estar de não se sentir bem no seu próprio corpo. Também aquilo que capta do exterior, o meio em que cresce. Mas, é um pouco difícil dizer quais são os motivos”, acrescenta. Contudo, as causas mais visíveis são a depressão e o stress, que podem surgir após uma dieta normal para redução do peso e a perturbação psicológica grave do adolescente que necessita de aceitação por parte dos outros, devido aos ideais de beleza “magra”, sendo o que está “na moda”. Atualmente “as crianças têm uma ideia errada do que é beleza, vêm o que está na moda e, por isso, quem está nesse mundo, aquilo de que sofre é de anorexia e não de outra coisa. No fundo existe uma falsa imagem daquilo que é beleza, hoje em dia”, desabafa Anabela Carvalho, também aluna da UBI, acrescentando: “Consultas, consultas, que vão tirando pensamentos e receios, criando expectativas e ambições de vida. E penso... será que irei sentir falta?”. O tratamento deste distúrbio alimentar passa, essencialmente, por ser ambulatório visto que, em geral, os pacientes são mulheres jovens e estudantes. O afastamento total das suas vidas seria muito prejudicial para a cura. “Talvez, mas quero ir ao hospital porque parti um braço, porque me doía a barriga, por coisas banais e não porque tenho um distúrbio alimentar”, conta Paulina Fonseca. Em casos mais extremos, os profissionais recorrem ao internamento. Esta ação ocorre quando há más condições psíquicas ou físicas, quando a doença perdura há vários anos ou porque o tratamento ambulatório foi mal sucedido. “No dia em que ouvir ‘então damos-lhe alta’, poder gritar, sorrir, chorar, agradecer a todos os que me acompanharam desde o início, outros desde meio, até ao fim e festejar... festejar até me doer tudo, mais uma vitória, uma alegria, mais um momento”, refere ainda Paulina. A taxa de mortalidade de anorexia nervosa é de aproximadamente 10 por cento, uma das maiores a lista de transtornos psicológicos. “Dizem que cada um tem a sua beleza, mas eu ainda não a encontrei, ou atingi a minha. Já fui infeliz por isso, ainda me ressinto por vezes, mas já me dei conta de que nada serve lamentar-me por não ter sido dotada dessa qualidade. Só tenho a dizer, sejam felizes com o que têm e não se arrependam daquilo que são! Valorizem-se porque cada ínfima célula tem a sua importância para o todo que cada um constitui”. Um conselho de quem sofreu deste problema e conhece a satisfação de o começar a ultrapassar. |
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