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Associação operária do Tortosendo em análise no Museu
Rodolfo Pinto Silva · quarta, 11 de fevereiro de 2015 · @@y8Xxv Desde 1912 que os operários do Tortosendo se organizavam em classe. A primeira associação desapareceu 20 anos mais tarde, levando os operários a ingressar no Partido Comunista. Momentos históricos recordados por Adélia Mineiro, no Museu dos Lanifícios. |
Adélia Mineiro |
21957 visitas Começou por ser uma associação de classe que, com o evoluir do panorama político e social, teve duas vidas e acabou “substituída” pelo Partido Comunista e sindicato têxtil. Mas os operários nunca esqueceram a sua associação dentro da qual lutaram por melhorias pessoais e profissionais. Este é um resumo da história do associativismo dos trabalhadores do sector, no Tortosendo, que esteve em análise na quinta-feira, dia 29 janeiro, no Museu dos Lanifícios da Universidade da Beira Interior (UBI). Um local apropriado para se ouvir uma história do século XX, por Adélia Mineiro, que estudou academicamente o Tortosendo no Estado Novo. Tema escolhido como resultado de velhas memórias e trabalhado através de testemunhos locais, como disse na conferência: “Eu via os operários falarem com muito apreço do Unidos e perguntavam-me porquê. E depois mais tarde, comecei a ouvir os operários, os mais velhos, falar com muita saudade e um bem que se tinha perdido: a associação de classe”. A associação já existiria em 1912, mas não tinha os seus estatutos aprovados. Cerca de 10 anos depois, o regulamento é aprovado e os trabalhadores pedem para festejar o 1º de Maio, recordou a investigadora. “A resposta foi positiva, mas que não se podia realizar nada publicamente, tanto que na Covilhã, a manifestação foi de silêncio”, contou Adélia Mineiro. A comemoração desta data foi sempre um pedido dos trabalhadores, que iam despertando para os direitos laborais. “Os operários continuavam a lutar pelo no tabelamento da mão-de-obra e pretendiam que se implementasse a jornada de oito horas”, disse a convidada do Museu de Lanifícios. Enquanto existiu a associação foi um pólo de evolução pessoal. Aos domingos, iam à associação e os mais informados faziam prelecções para formação dos operários, no sentido de que eles se interessassem e para se promoverem culturalmente. “Preocupavam-se muito que os seus camaradas se estruíssem, fossem à escola e tivessem aulas na sua associação. Eles assumem que os operários são os atores do seu próprio processo de desenvolvimento. Tudo isto é um movimento social transformador. ‘Se soubermos ler, nós podemos lutar. Nós podemos informar e lutares então pelos nossos direitos’”, explicou. Anos mais tarde, já com a associação extinta, seria o Unidos a promover esse papel, dinamizando cursos e iniciativas culturais, que contribuíram para que muitos empregados do setor têxtil “arranjassem outras profissões como empregado de escritório ou redator num jornal”, entre outras. A extinção da associação, na década de 1930, levou a que muitos operários transferissem os seus ensejos de luta para o Partido Comunista. “’Porque é que se aproximou do partido?’, perguntou Adélia Mineiro, a uma dos entrevistados, durante a recolha para a tese de doutoramento: “Porque quando desapareceu a associação eu inscrevi-me no Partido. Era o único meio para lutarmos”. Um movimento na clandestinidade, que passou para as claras, no final do Estado Novo. |
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