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Projeto do DECA prevê estudar edifícios em palafitas do Ribatejo
Rodolfo Pinto Silva · quarta, 28 de janeiro de 2015 · @@y8Xxv A investigação irá definir a matriz arquitetónica e o estado de conservação de cinco aldeias na margem do Rio Tejo. |
Palhota, no Cartaxo, é uma das aldeias envolvidas no projeto (Foto: Câmara do Cartaxo) |
21967 visitas Identificar e contribuir para a preservação de um estilo de construção raro em Portugal são os objectivos de um projeto que está a ser preparado na Faculdade de Engenharia da Universidade da Beira Interior e que vai ser alvo de uma candidatura a financiamento pela Fundação de Ciência e Tecnologia (FCT). O foco do trabalho serão as habitações de cinco aldeias situadas na margem do Rio Tejo, construídas no modelo de palafitas e que além da raridade, têm por trás uma cultura própria não só de adaptação das populações às condições do território, mas também da cultura avieira, que resultou de um dos mais importantes movimentos migratórios no interior do País, no século XIX. O projeto designado de SMART-PLAN-ICT Platform for Urbanistic Evaluation of Wooden Stilt-Houses prevê o estudo de 89 edifícios de cinco aldeias dos concelhos de Alpiarça (Patacão de Cima), Azambuja (Lezeirão), Cartaxo (Palhota), Salvaterra de Magos (Escaroupim) e Santarém (Caneiras). O objectivo assenta em duas vertentes. Por um lado, identificar a matriz arquitetónica dos edifícios e, depois, assinalar o estado de conservação dos elementos principais. Estes dados serão disponibilizados através de uma plataforma online, para a qual contribuirá Rui Costa, da Faculdade de Ciências da Saúde. Com isto, de acordo com João Lanzinha, um dos docentes do DECA – Departamento de Engenharia Civil e Arquitetura envolvido na candidatura, será possível “apoiar e integrar estas construções e mantê-las como memória deste tipo de edifícios”. Processo que poderá passar pela “inclusão de medidas de prevenção nos planos urbanísticos das autarquias”, acrescenta a também docente do DECA Ana Lídia Virtudes, coordenadora da equipa do SMART-PLAN-ICT. A identificação prévia destas habitações descreve-as como sendo construídas e assentes em pilares de madeira para manterem o edifício acima do nível do Tejo em período de cheias. A própria configuração das aldeias assumiu uma tipologia singular. “São muito interessantes”, explica Ana Lídia Virtudes, “porque se desenvolviam num alinhamento paralelo ao rio. Há dois casos em que os diques construídos para proteger os terrenos agrícolas das cheias acabaram por servia de rua”. A passagem do tempo teve efeitos nestas povoações, que justificam a importância do projeto. O abandono – uma das cinco está desabitada desde os anos 1980 – ou as alterações dos edifícios que continuam a ter utilização, com a introdução de outros materiais ou adaptação dos pilares originais, coloca em risco estas arquitetura vernacular original no País. “São bastantes vulneráveis e desaparecem rapidamente”, salienta Ana Lídia Virtudes, acrescentando que quando isso não acontece, estão muito alterados nos materiais e na matriz arquitectónica. “As pessoas foram fazendo alterações sem que lhes dissessem que como haviam de fazer”, refere. O projeto envolve a UBI, o LNEC e o Centro de Arquitetura e Urbanismo e Design da Universidade Técnica de Lisboa. São ainda parceiros as cinco autarquias e a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo. A cultura avieira resultou da migração de pescadores da zona de Vieira de Leiria, no concelho da Marinha Grande. No inverno, estas populações deslocavam-se para a zona do Tejo para pescar, fugindo ao mar revoltoso. No verão voltavam à zona de onde eram originários, mas com o tempo, muitos acabaram por se instalar definitivamente na zona do Ribatejo, onde formaram as aldeias avieiras.
- Notícia corrigida às 11h30 de 2 de fevereiro de 2015. |
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