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Estudo de terapia para doentes de AVC vale “Medalha de Ouro” a investigadora da UBI
Rodolfo Pinto Silva · quarta, 28 de janeiro de 2015 · @@y8Xxv Raquel Ferreira trabalha no Centro de Investigação em Ciências da Saúde numa nova forma de recuperar os vasos sanguíneos de doentes de AVC. Está na UBI há cerca de um ano e o trabalho foi reconhecido com uma das três “Medalhas de Honra L'Oréal Portugal para as Mulheres na Ciência”. Fomos conhecer a investigação e o percurso de alguém que considera estar “muito bem na Covilhã”. |
Raquel Ferreira, aos 33 anos, já investigou em Portugal, Holanda e Estados Unidos. |
21988 visitas Raquel Ferreira tem um trajeto inverso a muitos cientistas portugueses. Formou-se em Braga, de onde é natural, andou pelo estrangeiro, mas voltou para Portugal. E não fez este regresso para um local qualquer. Apostou no Interior, na Covilhã e na Universidade da Beira Interior (UBI). É desde 2013 um dos elementos do Centro de Investigação em Ciências da Saúde (CICS), onde desenvolve uma nova terapia para a recuperação de doentes vítimas de Acidente Vascular Cerebral (AVC). O estudo que está a desenvolver na Faculdade de Ciências da Saúde valeu-lhe, na última semana, a “Medalha de Honra L’Oréal Portugal para as Mulheres na Ciência”. Segunda-feira, 9h00. Raquel Ferreira já se encontra num dos laboratórios do CICS a preparar os elementos que vão ser necessários para mais um passo no estudo que desenvolve. Desde abril do ano passado que esta licenciada em Biologia Aplicada, pela Universidade do Minho, e doutorada em Coimbra, procura, como elemento da equipa Brain Repair Group, confirmar na UBI os indícios já encontrados de que é possível usar o ácido retinóico e as células de doentes de AVC para reparar vasos sanguíneos no cérebro e, dessa forma, favorecer a criação de neurónios. “Nesta fase do trabalho, o que podemos concluir é que esta formação ajuda a reparar as células dos vasos que foram sujeitos a um ambiente semelhante ao que acontece no cérebro. Portanto, nós achamos que estamos no caminho certo”, explica. Lembra, contudo, que o trabalho se encontra “numa fase preliminar”, como é normal em ciência, mas pronto para avançar com as colheitas de sangue e com o desenvolvimento do modelo animal, onde serão feitas experiências mais complexas.
NOVA TERAPIA ENTRE CINCO A 10 ANOS Se tudo correr como esperado e o estudo feito na UBI contribuir para melhorar a recuperação das pessoas vítimas de AVC, a terapia poderá ser aplicada num prazo de “cinco a 10 anos”, prevê a investigadora. “Parece muito, mas é o processo natural que acontece. Porque depois têm de ser feitos testes de segurança nesta formulação para ter a certeza de que quando passar para o indivíduo não tem quaisquer riscos”, explica. Com sucesso e sem riscos, o tratamento vai permitir que o doente tenha maiores possibilidades de recuperação sem recurso a terapias que resultam eventualmente em efeitos secundários, ao contrário do que acontece atualmente, como salienta Raquel Ferreira. Por outro lado, pode ainda estar a caminhar-se para uma forma de recuperação que vai além dos problemas decorrentes do AVC. “Posso depois estende-la a outras doenças onde ocorra qualquer fragilização ou lesão nos vasos sanguíneos”, explica a investigadora, referindo-se a doenças onde ocorram lesões nos vasos sanguíneos. Há ainda a perspetiva de utilizar as propriedades anti-inflamatórias do ácido retinóico. “Isto tem muito potencial”, sublinha.
PRÉMIO PARA CONTINUAR INVESTIGAÇÃO Raquel Ferreira foi uma das três premiadas deste ano com a “Medalha de Honra L’Oréal Portugal para as Mulheres na Ciência”, que incluiu um prémio monetário de 20 mil euros. Apaixonada pela investigação desde uma experiência na Holanda, destina a verba ganha para a continuação do trabalho científico. Permitir-lhe-á contornar as possíveis dificuldades de financiamento ou agilizar a compra de materiais: “Ter esta mais-valia dos 20 mil euros dá-me tranquilidade de saber que se o financiamento este ano não for possível ou na quantidade que eu espero, dá-me sempre a possibilidade de não parar e continuar a trabalhar no meu projeto. Ou então tão simples como: quando as universidades fecham a contabilidade, durante dois ou três meses não tenho possibilidade de fazer encomendas. Se eu tiver algum percalço, posso disponibilizar esta verba para isso”.
DOS ESTADOS UNIDOS PARA A COVILHÃ Mas quem é Raquel Ferreira? Tem 33 anos. Terminada a formação inicial em Braga, começou um périplo que a levou a fazer um estágio em Amesterdão, na Holanda, doutoramento na Universidade de Coimbra, e viajar para os Estado Unidos, para a Universidade de Southern California, onde conheceu as diferenças entre a mentalidade americana e europeia. Foi aqui também que se iniciou no tema da vasculatura cerebral. Veio então para a FCS, motivada por trabalhar com a investigadora Liliana Bernardino, que coordena o Brain Repair Group, que já a tinha orientado no passado. “Achei que vir para a UBI fazia todo o sentido”, salienta. Encontrou então condições que a deixam satisfeita com a escolha. Quem ouve Raquel Henriques pode muito bem concluir que se está perante uma defensora do Interior e da Covilhã, cidade pequena, mas onde gosta de viver. Local onde conjuga a qualidade de vida com as condições do CICS, que compara com outros centros de investigação, para contrariar ideias feitas. “O problema é que a maior parte das pessoas nunca saiu do próprio instituto. Se calhar há alguém de Coimbra que acha que o Interior não tem nada a ver ou pessoas que estão no Interior e que acham que em Coimbra é que vão ter as melhores condições. E quem diz Coimbra diz outros sítios. Se as pessoas realmente tirassem algum tempo para conhecer os vários institutos que existem em Portugal, eu acho que muitas ficavam absolutamente sem reação ao conhecer as condições que nós temos aqui”, defende. E acrescenta: “Já passei por alguns centros de investigação, alguns de topo que em termos de estruturas e funcionamento são excelentes, mas este não fica a dever nada aos institutos que temos em Portugal”. O CICS é “recente, tem equipamento novo” e só não teve melhor classificação que “Muito Bom” na avaliação da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) “por ser jovem e não ter tido ainda tempo para mostrar mais serviço”, considera. De resto “aqui tudo funciona e funciona bem”. Ao longo da conversa com o Urbi@Orbi o trabalho no laboratório continuou. A entrevista foi em algumas ocasiões interrompida para avaliar o estado em que se encontrava a experiência que centrava as atenções de Márcia Fonseca, colaboradora de Raquel Ferreira naquela manhã. Um trabalho de equipa que certamente também contribui para a satisfação de uma investigadora que está na Covilhã e na UBI há quase um ano, mas resume essa experiência – neste caso de vida – em duas frases: “Eu aqui estou bem. Estou mesmo bem”. |
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