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Já não interessam as rosas
Marta Pereira e João Maria · quarta, 28 de janeiro de 2015 · Gabinete de Apoio à Vítima da Covilhã já atendeu 540 pessoas, sendo que a maioria são mulheres entre os 35 e os 45 anos. |
A sede da Coolabora está localizada na zona baixa da Covilhã, num discreto bairro residencial |
21952 visitas “Eu sei que ele está arrependido, enviou-me flores”. Esta atitude passiva perante a violência doméstica é um dos principais problemas a serem combatidos para a diminuição dos casos omissos e é também um dos principais motivos que guiam o funcionamento da Coolabora. Localizada numa zona discreta da Covilhã, o que coincide com a atitude das vítimas de violência doméstica, a cooperativa é uma organização não governamental de consultoria e intervenção social que atua na Beira Interior desde 2008. Graça Rojão, presidente da instituição, refere, com orgulho, que o apoio dado pela Coolabora vai muito além da violência e passa também por situações de abandono e dependência química. No que diz respeito à violência doméstica, o trabalho em relação às vítimas passa muito pelo apoio psicológico e jurídico que destaca ser “gratuito e confidencial”. Para o melhor funcionamento da intervenção social, a organização mantém um conjunto estratégico de relações com a Câmara Municipal, Centro de Emprego, Centro de Saúde e com a GNR. Muitas vezes as vítimas toleram a agressão devido a dependência económica, a questão dos filhos e porque existe ainda o sentimento de vergonha e de culpa que estão muito enraizados em quem sofre as agressões. A relação do casal que convive com a violência passa por várias fases. Inicialmente pela fase designada de “lua de mel”. Segue-se um aumento da tensão, que antecede a fase de agressão. Posteriormente vem a rutura, culpabilização e, por fim, a reconciliação. Está-se perante um ciclo vicioso que só vai terminar a partir do momento em que a vítima fizer a denúncia. Na região da Beira Interior, zona onde a Coolabora intervém, o número de queixas aumenta ano após ano. Em termos de enquadramento legal, a violência doméstica é, há 15 anos, um crime público, significando isto que a denúncia pode ser feita por qualquer pessoa que seja testemunha ou que tenha conhecimento de algum caso. Para Graça Rojão, este facto é de extrema importância para a proteção das vítimas. “Ser um crime público faz com que as pessoas percebam que aquele velho ditado ‘em briga de marido e mulher não se mete a colher’ não é bem assim. Qualquer testemunha pode denunciar e a vítima mesmo que queira, não pode desistir do processo”, explica. Tema cada vez mais retratado pelos meios de comunicação, ganhou recentemente destaque artístico na Covilhã ao ser encenado numa peça teatral no Teatro das Beiras. Denominada de “não interessam as rosas”, o espetáculo baseia-se num fato verídico de violência doméstica em que a vítima perdoou o marido várias vezes até decidir não mais aceitar seus pedidos de desculpa. Segundo a responsável da Coolabora, essa intolerância das vítimas à violência reflete-se no aumento do número de queixas. Salienta ainda que isto não significa, “de forma automática”, que os casos tenham aumentado. Segundo os dados, a Coolabora atendeu na Covilhã, nos últimos três anos, 540 pessoas e realizou 2250 atendimentos. Sendo que a grande maioria das vítimas são provenientes do concelho. Todos os anos a cooperativa de intervenção social atende, em média, uma centena de novos casos. |
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