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"As humanidades são fundamentais no mundo em que vivemos..."
Rui Reis · quarta, 28 de janeiro de 2015 · UBI Presidente do Departamento de Letras da Universidade da Beira Interior (UBI), Paulo José da Rocha Osório leciona as principais unidades curriculares ligadas à linguística do Português na Licenciatura em Estudos Portugueses e Espanhóis. Investigador ativo, com vários trabalhos publicados na área da linguística, o docente da UBI recebeu o Urbi et Orbi para uma entrevista sobre o seu mais recente trabalho, que foi publicado na conceituada John Benjamins Publishing Company. |
Paulo José da Rocha Osório (Foto: UBI) |
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na os novos desafios e recebeu-nos para tal no seu gabinete pessoal.
A última publicação do professor do departamente de Letras da UBI foi na conceituada John Benjamins Publishing Company, onde colaborou com dois professores da Universidade do Porto. Juntos publicaram um capitulo intitulado: “ Communicating Certainty and Uncertainty in Medical Supportive and Scientifc Contexts.” Communicating Certainty and Uncertainty in Medical Supportive and Scientifc Contexts.”na os novos desafios e recebeu-nos para tal no seu gabinete pessoal. "Communicating Certainty and Uncertainty in Medical Supportive and Scientifc Contexts". É este o título do último trabalho do docente da UBI, Paulo Osório. O capítulo, que resulta de uma investigação realizada em conjunto com dois professores da Universidade do Porto, foi o ponto de partida para a entrevista com o Urbi. A investigação, os novos desafios de futuro, profissionais e da área da linguística, e ainda o novo acordo ortográfico foram alguns dos temas abordados durante a entrevista.
Urbi et Orbi: Na generalidade a coleção John Benjamins Publish Company é dirigida a quem? Paulo Osório: Em princípio, dirigida a um público universitário altamente especializado. Na área das humanidades é uma das mais conceituadas editoras. Urbi: O capítulo em co-autoria com os professores da Universidade do Porto foca qual tema? P.O.: É o tema sobre o modo como se desenvolve a escrita científica médica, ou seja, os médicos quando fazem os seus relatórios têm um modo especifico de escrita e obedece a determinados cânones. Nós pegámos em alguns relatórios médicos em inglês e fizemos a análise, digamos assim. Urbi: Como surge essa parceria com os professores da Universidade do Porto? P.O.: São colegas com quem vou trabalhando na área e, portanto, a parceria surge assim de uma forma a partilhar interesses científicos comuns. Urbi: A comunicação médico-paciente nem sempre é fácil, esta publicação encontrou alguma técnica de comunicação que facilite o trabalho do médico? P.O.: Tem havido efetivamente bastantes estudos na área da linguística que trabalham a relação (médico-paciente). Não é o objetivo desta publicação, mas há muitos que trabalham a relação médico-paciente no que respeita ao discurso. Tem havido muita coisa nessa área, não é fácil mas tem facilitado o entendimento do que deve ser esse diálogo entre médico e paciente. Urbi: Qual é então o objetivo desta sua última publicação? P.O.: É mais um objetivo de estudo das preocupações médicas, isso é uma área mais ao nível escrito. Há outras publicações de outras pessoas que têm que ver com a relação da interação oral entre médico e paciente. Este estudo é sobre a questão da escrita médica, mas há de outras áreas. Este é um texto dessa natureza, mas há outras áreas no livro. Urbi: Além desta última publicação colaborou nalguma publicação recentemente? P.O.: Sim, publiquei no Brasil, nos EUA e em França. Tenho publicado regularmente sobretudo em termos de linguística, sendo que os meus estudos se centram mais na área do português do Brasil. Urbi: Têm surgido rumores que dão conta que irá presidir a Associação Internacional de Linguística do Português, pode avançar mais pormenores sobre o assunto? P.O.: Esta é uma associação que congrega vários países, em que o objeto principal de trabalho é a linguística do português e é uma associação internacional. Portugal tem uma associação, a Associação Portuguesa de Linguística e esta é uma Associação Internacional da Linguística do Português. A primeira direção era da Faculdade de Letras de Lisboa, depois da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a seguinte foi da Universidade Fluminense depois da Universidade de Macau. Agora, convidaram-me a mim para presidir a associação, cargo que aceitei porque também é bom para a própria Universidade da Beira Interior e vai ao encontro dos parâmetros de internacionalização hoje exigidos. Urbi: Quais serão as suas funções como presidente desta associação? P.O.: A organização científica da associação, projetar alguns congressos internacionais que partirão sempre da UBI. Dar também resposta, no fundo, aos vários anseios científicos dos diferentes enquadramentos linguísticos. No fundo, congregar os vários linguistas. Urbi: Acha que há um descrédito das "letras" em relação a áreas das ciências, mais práticas? P.O.: As pessoas têm no fundo um interesse maior pelas áreas das ciências, mas isso também é, da minha perspetiva, um pouco erróneo. As humanidades são fundamentais no mundo em que vivemos - o saber pensar, o saber conhecer, o saber falar, o saber escrever - enfim, são áreas fundamentais também para o avanço da ciência. Urbi: Em particular, no caso da UBI, como estão as "letras" no que toca ao mercado de trabalho? P.O.: O Departamento de Letras tem feito um grande esforço no sentido de promover as "letras", tanto na UBI como fora dela. Até aqui as pessoas seguiam a área das letras, iam numa perspetiva de darem aulas, mas há todo um mundo, o mundo editorial, ou a tradução por exemplo, para as quais as "letras" dão saída. Muitas vezes, os empregos não se circunscrevem à nossa zona geográfica. É preciso ir para grandes meios ou mesmo para o Estrangeiro. Uma área em que os nossos alunos podem ter uma grande expansão é o ensino do Português no estrangeiro. Urbi: Considera então que é utópico um recém-licenciado ensinar português em Portugal? P.O.: É assim, está um bocadinho sobrelotada, à semelhança de todas as áreas de ensino, mas há efetivamente outras saídas profissionais que não o ensino. O ensino é uma saída importante, e, por exemplo, na área do Espanhol continua ainda a haver saída. Urbi: Como professor na área da linguística do português, o que acha do novo acordo ortográfico? P.O.: Eu fui sempre contra o acordo ortográfico, muito embora o acordo seja em princípio uma realidade que vai imperar. Lembro que Angola não ratificou ainda o acordo. Eu não vejo grandes vantagens no acordo ortográfico, embora quem o tivesse pensado tenha sido numa perspetiva de maior internacionalização da língua, mas, neste momento, já não resisto ao acordo ortográfico. Portugueses e brasileiros não têm dúvidas quanto ao texto escrito, as dúvidas surgem na oralidade. Ora, o que o acordo ortográfico visa incidir é na questão da escrita, e nesse nível não há problema que necessite resolução. E é bom que estejamos cientes de que há uma submissão dos portugueses aos brasileiros em termos linguísticos, e em linguística o número também conta, e eles numericamente são muitos mais falantes do que nós. Com este acordo, nós perdemos muito mais do que eles.
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