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“Vamos lutar por uma Universidade unida”
Rodolfo Pinto Silva · quarta, 14 de janeiro de 2015 · @@y8Xxv Francisca Castelo Branco toma hoje posse como presidente da Associação Académica da Universidade da Beira Interior. Na hora de assumir os comandos do organismo estudantil, fala do que pretende pôr no terreno ao longo deste ano: será dada atenção à ação social e à vertente pedagógica, mantendo uma aposta no desporto. O Serviço de Apoio a Idosos é um dos novos projetos |
21961 visitas – A nova direção da Associação Académica da Universidade da Beira Interior (AAUBI) integra um número significativo de elementos que fazia parte dos dirigentes cessantes. A continuidade é a linha que melhor a define? – Sim. Quando me apresentei para ser cabeça de lista foi na ideia de continuidade. Identifico-me muito com o Projeto C, com as suas conquistas e linhas de pensamento. Por isso, aproveitamos pessoas que estavam na anterior direção e outras que também estavam ligadas ao mesmo, porque tinham estado à frente dos núcleos ou integrado trabalho com o pensamento do Projeto C. Por isso, sim, é toda uma lista de continuidade.
– Por tudo isso, têm um conhecimento profundo do funcionamento da Associação Académica e também da UBI. Quais são as áreas prioritárias da vossa atuação? – Para este mandato apontamos três grandes áreas, também um pouco de acordo com toda a vertente socioeconómica que o País atravessa e, consequentemente, nós também, como sociedade integrante. Essas áreas são a ação social, o desporto e a pedagogia.
– Há mudanças concretas preparadas para essas áreas? – Não digo que sejam mudanças. Há um trabalho, e aqui entra a continuidade, que foi sendo desenvolvido em todas as áreas e que vamos manter. Nós definimos estas três por acharmos que são prioritárias nos tempos que correm. Será um trabalho não de mudança, mas de aprofundamento destas áreas.
– Fala-se muito das dificuldades que os alunos têm num quadro de problemas financeiros das famílias. Conhecem situações complicadas de estudantes que tenham mesmo de deixar de estudar por esse motivo e que sejam destinatários desse trabalho na ação social? – Tenho a certeza de que há e, mais grave ainda, é haver mais do que aqueles que temos conhecimento. Essa é a dificuldade da questão, que se verifica também na sociedade, porque acredito que seja também difícil para as instituições que apoiam as pessoas: que elas cheguem junto deles e digam que têm problemas. O nosso trabalho na ação social vai ser muito esse: divulgação dos apoios que existem para os ajudar e dar-lhes a noção de que nós estamos aqui não para recriminar, mas para caminharmos lado a lado e ajudarmos. No caso da UBI, 85 por cento dos estudantes são de fora. Portanto, por todas as despesas que têm para estar cá, é muito complicado. Há o Fundo de Apoio Social, que é uma grande ajuda, que permite aos estudantes a integração nos Serviços de Ação Social e serem remunerados pelas horas que trabalham, até ao limite do valor da propina. Foi um projeto que teve uma grande adesão e tenho a certeza de que há muita gente que não tem conhecimento da sua existência. Por isso, vamos apostar na sua divulgação. Há muita gente a abandonar e algo pior se pode passar: cada vez mais vamos assistir a isso na transição do Ensino Secundário para o Superior. Como não podem, nem sequer tentam entrar.
– Isso exige ações nas Escolas Secundárias? – O trabalho que se pode fazer nesses estabelecimentos de ensino é difícil. É muito cirúrgico. No fundo o que nós temos em mente é criar um vídeo de divulgação, não só com a parte formativa da Universidade, mas com todos os núcleos de estudantes e culturais, para dar uma boa visão do que é a vida na universidade e integrar estas formas de apoio, para lhes lançar já essa rede, essa ajuda. Dizer-lhes que temos dificuldades, há muita gente que tem, é normal, mas que podem contar com a AAUBI para os ajudar, para não desistirem de integrar o Ensino Superior.
– Estas eleições não foram muito participadas. Como analisam esta realidade? – Na Universidade esse valor de abstenção, infelizmente, é sempre muito elevado, como acontece na sociedade. E apesar de na nossa campanha termos batalhado muito – estivemos em todas as faculdades, onde insistimos em apresentar o nosso programa eleitoral e apelar ao voto, mais do que apelar ao voto na lista C. Mas fosse qual fosse a tendência, C ou I, ou em branco, o importante era que fosse às urnas, porque é um direito dos estudantes e das pessoas como cidadãs. No fundo, acabou por ser um resultado histórico. Conseguimos aumentar levemente o número de pessoas que foi às urnas, mas ainda assim a abstenção teve um valor astronómico. Nós conseguimos tirar cerca de mil estudantes que são de mestrado – e só têm aulas ao fim-de-semana –, doutoramentos – que não estão na cidade – e pessoas que estão inscritas e que se encontram em Erasmus. Ainda assim é inexplicável. Muito da nossa luta é no sentido de dizer que votar é um direito que as pessoas têm que dizer “eu estou aqui”. Mas vai ser uma batalha muito difícil no sentido de informar que é preciso dar-lhes a conhecer que é um direito deles, que é importante e sem isso perdem o direito de se queixarem.
– Que ideias gostavam de ver implementadas na UBI? – Cada vez mais, e para contrariar muito aquela mentalidade da interioridade, precisamos de apostar na investigação. A investigação abre muitas portas para o exterior. O mundo está muito globalizado e também aqui no Interior assistimos a isso. Temos logo o exemplo do Data Center da PT, o UBIMedical, o Centro de Investigação em Ciências da Saúde… toda uma margem que se abre aos estudantes de apostarem na investigação que é logo uma porta de saída para o mundo. Desejo também que haja uma proximidade, e é nisso que vamos apostar, com a Reitoria e com os presidentes de faculdade. Porque nós, Associação Académica, que trabalhamos pelos e com os estudantes, não conseguimos nada sozinhos. Teremos uma política de proximidade atenta. Ou seja, estamos a acompanhar, mas com atenção ao essencial. Se for preciso concordamos, se for preciso discordamos e apresentamos as nossas soluções. Na AAUBI há muito um trabalho que está a ser feito, e bem feito, nos últimos anos, de ligação à comunidade e à região. No desporto, nas academias de formação, já englobamos 150 jovens dos seis aos 18 anos. Isso tem logo uma ligação direta à região que é muito importante.
– Neste aspeto, a AAUBI pode-se considerar um dos maiores clubes da cidade. Há alguma ideia nova para essa vertente? – Nas academias de formação temos, neste momento, futsal, patinagem artística e o rugby, que abriu este ano e está a crescer. Este ano queremos apostar no desporto universitário. Infelizmente, o sedentarismo também é uma caraterística da nossa sociedade e, por isso, cada vez mais é preciso que as pessoas saiam do seu conforto e saibam o que existe e sejam divulgadas as possibilidades que existem no desporto universitário. Vamos apostar na captação de estudantes, porque é uma forma de eles praticarem desporto, de estarem ativos, e ao mesmo tempo de crescerem como pessoas.
– E quanto a outras áreas como a cultura ou promoção da saúde, que foram aspetos visíveis no último ano? – Apresentamos algumas ideias que gostávamos de pôr em prática. Uma delas é a dinamização da biblioteca da sede da AAUBI. É um espaço óptimo e, se for bem tratado, pode ser mais um espaço para se estudar, complementado com o Bar, que está aberto até às 4h00. Depois, articular-nos com a Capelania. Nós temos uma capela no andar de baixo da sede e podemos utilizá-la. A Capelania da UBI tem várias dinâmicas ao longo do ano que podem usar o nosso espaço. A AAUBI também pode estar presente nessa vertente que é importante e que tem de se respeitar. Na saúde continuar com o que se fez no ano passado, no que toca a rastreios, com ajuda do MedUBI, fazendo a ligação à região com os estudantes que estão em formação. Queremos ainda pôr em prática o Serviço de Apoio ao Idoso (SAI), que já fomos mencionando ao longo da campanha. A ideia é ter uma rede de voluntariado com os estudantes para que eles possam dar 15 minutos do dia aos idosos. Por exemplo, aqui na vizinhança há um idoso que precisa de companhia. Eles estão ali uns minutos, podem ajudar com as compras, mudar uma lâmpada, etc., o que para esse idoso pode valer muito e para os estudantes também lhes faz bem crescer nessa vertente.
– Como está a saúde financeira da Associação? – Não estamos mal, apesar de sentirmos o mesmo que sente a sociedade, com a crise. Mas, no fundo, considero que estamos bem. Antes do Projeto C entrar, estava realmente mau. Por isso é que eu digo que estamos bem. Estão disponíveis os Relatórios e Contas dos três últimos mandatos, sendo que o último vai ser agora apresentado. Estão disponíveis para se ver o crescimento da saúde das contas da AAUBI. Claro que o nosso objetivo é criar uma Associação autosustentável. Só que isso, como tudo, precisa de um grande trabalho de planeamento e organização e vamos lutar por isso, apesar de não ser concretizável num mandato de um ano. Mas o objetivo é esse.
– Quais são as receitas da AAUBI? – No fundo é quotização dos sócios. Temos uma quota anual – 10 euros – que, neste momento, é a mesma para novos e atuais sócios. Depois, temos algum apoio da Reitoria, nomeadamente na grande ajuda do contrato-programa que temos que renegociar. É um acordo com a Reitoria aplicado ao desporto. Nós tratamos de agilizar todo o processo de saída das equipas para as competições (alojamento, alimentação, equipamentos, tudo o que precisarem), adiantamos o dinheiro e trimestralmente a Reitoria reembolsa-nos. É uma ajuda que mexe com esse grande pilar que é o desporto. No geral, fazemos aquela gestão que acaba por se fazer nas nossas casas. Ou seja, temos estas receitas e depois é fazer a ginástica necessária.
– Têm previstas algumas mudanças nas festas académicas? – A Semana Académica e a Receção ao Caloiro são, por excelência, os eventos culturais que marcam a vida académica da AAUBI quer a nível regional, quer nacional. Para já é das coisas que só à medida que formos entrando e programando é que vão surgir as ideias para construir o que queremos desses eventos. Pensamos em manter os moldes do que tem sido feito. Ter o evento dentro do Pavilhão e, no exterior, algo que acho de extrema importância: o projeto de Medicina de alerta e ajuda na informação sobre doenças sexualmente transmissíveis e testes de alcoolemia. Ter também ao lado o “Viva a noite”, que cria um espaço “chill out”. As pessoas deslocam-se, param um pouco, saem daquele ambiente da noite e conseguem estar a conversar ou a fazer alguns jogos. As pessoas já estão habituadas a esta zona e queremos mantê-la.
– Como pensam sugerir novas políticas para o Ensino Superior? Nos Encontros Nacionais de Dirigentes Associativos (ENDA) também têm de se debater com associações de universidades com mais poder… – Temos a postura de que para mudar a nível nacional, temos de começar pela nossa casa. E, portanto, também aí na revisão administrativa-pedagógica queremos trabalhar com os núcleos, criar propostas credíveis e bem estruturadas para apresentar à Reitoria e com eles conseguir rever os currículos dos cursos e virá-los mais para as necessidades do dia a dia. Para que os alunos possam sair para o mercado de trabalho confiantes e bem formados, tendo em conta o que é pedido. O trabalho a nível nacional tem de ser feito nos ENDA. A interioridade é problema, mas acho que já foi mais. Ou seja, para além de nós, a Universidade de Évora e umas quantas outras instituições têm esta dificuldade. Estamos a trabalhar juntos nisso e a criar propostas. É muito importante irmos aos Encontros, porque também temos direito a voto, a falar e a dar a nossa opinião. Tudo isso fica registado e depois todas as conclusões e todas as propostas que são validadas e votadas e que ganham para serem remetidas à tutela têm o nosso contributo. Manter esta presença assídua nos ENDA, criar a dinâmica com as outras universidades do Interior para termos ideias credíveis é o que queremos.
Perfil Francisca Castelo Branco está este ano em Ciências do Desporto, depois de ter entrado no ano passado em Ciências Biomédicas. Tem 20 anos, e é natural da Covilhã. Frequentou a Escola Secundária Quinta das Palmeiras, onde integrou a Associação de Estudantes. Na UBI, fez também parte da direção do Núcleo de Estudantes de Biomédicas e estreia-se agora em órgãos da Associação Académica da Universidade da Beira Interior. A partir de hoje é a presidente do órgão estudantil. |
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