“As Horas de Maria”, um filme realizado por António de Macedo em 1976, foi a película apresentada na quinta-feira, dia 6 de novembro, no âmbito do "Ciclo de Cinema Português - Filmes Proibidos". A apresentação do filme e da obra do realizador esteve a cargo de João Monteiro, confesso admirador da obra de Macedo. Antes da exibição do filme João Monteiro começou por apresentar o realizador, referindo que este foi "injustamente esquecido".

No filme “As Horas de Maria” é apresentada uma versão alternativa do evangelho de Jesus Cristo. Inspirado num caso verídico, o trabalho conta a história de Maria, uma rapariga cega, mas convicta de que pode recuperar a visão através de um milagre. Toda a narrativa se desenrola em torno de três personagens e no filme é ainda possível encontrar partes do documentário "Fátima Story".

Esta obra é apenas uma das que o realizador dedica a este tema, já que a sua carreira fica marcada pela batalha contra a igreja católica enquanto instituição. Um filme provocatório e inquietante que acaba por ser proibido.

Depois da projeção do filme João Monteiro falou novamente sobre o realizador e o seu trabalho e deu oportunidade aos espectadores de colocarem questões. O público não se mostrou muito participativo e acabou por ser Regina Guimarães e Saguenail, dupla que participou no ciclo de cinema no dia seguinte, a manifestar a sua opinião sobre o filme.

Regina não gostou da forma como a imagem feminina é retratada e confessa mesmo que a sua vontade era "dar um par de estalos ao Macedo". Saguenail analisou a película numa vertente mais comercial do cinema e salientou que disponibiliza todas as suas produções na Internet.

A dificuldade em produzir filmes foi também abordada na sessão. João Monteiro confessou que procura há cerca de cinco anos financiamento para fazer um documentário sobre António de Macedo, situação que, segundo o próprio, está quase resolvida. "À partida vou conseguir o dinheiro, pelo menos o apoio de arquivo que é o mais complicado”. O realizador espera por isso "que em 2015 o filme esteja acabado".

Num ciclo dedicado aos filmes proibidos, não foi possível escapar à pergunta sobre se actualmente se exerce algum tipo de censura. João Monteiro não tem dúvidas e refere que nos tempos que correm "a censura é sobretudo económica".

O moderador da sessão, que é também um dos responsáveis pelo MOTELx- Festival de Cinema de Terror, respondeu ainda a algumas questões sobre o espaço que existe em Portugal para este género. João Monteiro foi peremptório e apontou que "há espaço para o cinema Português se afirmar em quase tudo, não há nada feito". Explicou por isso que "o grande desafio é que não há uma tradição de cinema de terror Português”.  

O "Ciclo de Cinema Português - Filmes Proibidos" teve lugar entre os dias 5 e 8 de novembro e resultou de uma parceria entre o Departamento de Comunicação e Artes da UBI e o Munícipio do Fundão e contou também com o apoio da Associação Luzlinar e da Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema.