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Partidos e cidadãos sem diálogo na internet
Rodolfo Pinto Silva · quarta, 15 de outubro de 2014 · @@y8Xxv As ferramentas da Web 2.0 não estão a ser aproveitadas por partidos e indivíduos, para aumentar a participação política, refere um estudo realizado na UBI. |
Peter Dahlgren foi um dos investigadores presentes na conferência da última sexta-feira |
21973 visitas A internet e as suas ferramentas que permitem uma maior interação estão a aproximar os cidadãos dos partidos políticos? É esta a questão colocada pelo Projeto “Novos Media e Política: A Participação dos Cidadãos nos Websites dos Partidos Políticos Portugueses”, que, na sexta-feira, dia 11, promoveu mais uma conferência internacional intitulada “Participação Política e Web 2.0”. Momento para apresentação de resultados do estudo levado a cabo por 10 investigadores do LabCom, que esfria as visões mais otimistas quanto às potencialidades das plataformas online, no que concerne a participação cívica. Nem os partidos políticos analisados – os cinco com representação parlamentar – nem os portugueses aproveitam para interagir através dos espaços online, sejam websites ou redes sociais. “Apesar de os partidos terem adoptado as ferramentas participativas, elas existirem de facto e estarem a funcionar, não estão implementadas quaisquer tipos de caraterísticas dialógicas e de interação com os cidadãos que queiram entrar em diálogo”, apontou Gisela Gonçalves, como uma das conclusões do estudo. Do lado dos cidadãos, a motivação para interagir com estas organizações também não é maior, de acordo com os dados apresentados ainda por Paulo Serra, outro dos coordenadores do projeto. “Os cidadãos podem aceder aos sites para pesquisar informação, mas também raramente entram em grande questionamento de políticas ou de notícias que lá estão”, revelou Gisela Gonçalves, acrescentado que “prova que do lado das pessoas não há um grande interesse em fomentar esse mesmo diálogo”. Os poucos que fazem perguntas “e parte-se do princípio que queiram respostas”, disse ainda, “podem ter essa expetativa, mas muito dificilmente as obterão”.
“ESPAÇOS PARA MENSAGENS SEM FILTROS” Para os partidos, as ferramentas disponibilizadas online representam uma forma de fazer passar a sua informação, sem os filtros dos jornalistas. Daí que os maiores índices de diálogo se encontrem “entre os comentadores desses sites”, e, para as forças políticas, estar na internet signifique mais uma operação de cosmética: “Têm espaços de participação, como sites e social media, mas não querem perder o controlo da mensagem”. O caso português, no entanto, não é caso único e o mesmo acontece em outros países. Há apenas uma “simulação de incentivo à participação”, com objetivos “persuasivos e propagandísticos”, ainda de acordo com as conclusões. “O ideal de nova democracia na internet ainda está por vir”, sintetiza Gisela Gonçalves. Esta ideia tinha ficado já patente na sessão de abertura do seminário, quando Paulo Serra dera conta de “um certo desfasamento entre aquilo que seriam os supostos desejos de participação, quer da parte dos partidos, quer da parte dos cidadãos, e depois aquilo que efetivamente acontece”.
“FERRAMENTAS TRANSFORMADAS EM FORUNS INTERNOS” João Canavilhas, que esteve no início da conferência na qualidade de vice-reitor, mas que integrou a equipa do projeto, considera que os partidos políticos não aproveitam as potencialidades da internet e, tendencialmente, quem interage “pertence ao partido”, tornando-se estes espaços “uma espécie de fórum interno”, que “expulsa os críticos”. O estudo centrou-se na presença online em sites, blogues, YouTube e Facebook do Bloco, PCP, PS, PSD e CDS-PP. Envolveu, além da análise das ferramentas da Web, entrevistas a responsáveis pela comunicação das cinco organizações e um inquérito online a cidadãos. Os resultados serão apresentados em livro, segundo anunciou Paulo Serra. Na conferência, que teve como subtítulo “The Particiation Gap”, estiveram os investigadores Giovandro Marcos Ferreira, Joaquín Lopez del Ramo, Karen Sanders e Peter Dahlgren. |
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