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Cinema no feminino analisado em tese de doutoramento
Rodolfo Pinto Silva · quarta, 9 de julho de 2014 · @@y8Xxv A tese de Doutoramento de Ana Catarina Pereira mostrou que o cinema de realizadoras portuguesas possui uma visão feminista, ainda que a adjetivação seja rejeitada pelas próprias. |
Ana Catarina Pereira defendeu a tese “A mulher-cineasta: Da arte pela arte a uma estética da diferenciação” |
22001 visitas “A mulher-cineasta: Da arte pela arte a uma estética da diferenciação” é o título da tese de Ana Catarina Pereira, defendida em provas de Doutoramento na última semana. A investigadora analisou a estética de produções cinematográficas de realizadoras portuguesas. A tese foi defendida na segunda-feira, 30 de junho, na Universidade da Beira Interior (UBI). “Queríamos perceber se o cinema, enquanto meio de comunicação de uma mensagem, teria aprofundado a histórica divisão dos papéis atribuídos a cada género, sublinhando estereótipos e justificando desigualdades ou se, por outro lado, teria contribuído para uma defesa da igualdade de direitos, não apenas entre os sexos, mas também entre raças, culturas e classes sociais distintas”, explica a investigadora e docente da Faculdade de Artes e Letras da UBI. O trabalho partiu de 19 longas-metragens produzidas entre 2000 e 2009, por mulheres portuguesas. Na definição deste objecto de estudo, foi eleito o cinema português, por este atravessar um momento particular da sua História, “associando um gosto e interesse pessoais à própria investigação desenvolvida e ao corpo docente da Universidade da Beira Interior”. Dessas, “Solo de violino” (1992), de Monique Rutler, “Noites” (2000), de Cláudia Tomaz, “Daqui p’rá frente” (2008), filme de Catarina Ruivo, e “Aparelho voador a baixa altitude” (2002), de Solveig Nordlund, realizadora sueca naturalizada portuguesa, foram seleccionas para uma análise mais exaustiva. Como primeira conclusão, Ana Catarina Pereira, que foi orientada por Tito Cardoso e Cunha, constata que as cineastas portuguesas “realizaram 14 por cento das longas-metragens de ficção estreadas comercialmente nas três últimas décadas”, uma percentagem “mais reduzida” se fossem contabilizados todos os filmes realizados desde o início da História do Cinema português. Daqui surge uma proposta para equilibrar estes números através de medidas de discriminação positiva, “como a inserção de quotas na cedência de financiamentos e a própria criação de um festival de cinema de mulheres, em Portugal”. A investigação comprovou ainda que, apesar de não existir uma necessária correspondência entre a autoria feminina e uma obra feminista, estes filmes adquirem maioritariamente esse pendor. “Como também se comprovou, ao longo de toda a investigação, a dificuldade das realizadoras aceitarem essas mesmas designações”, acrescenta a docente de Cinema da UBI, que concluiu, a partir desta “resistência”: “Para as cineastas em estudo, é prejudicial que a sua arte seja encarada deste ponto de vista, invisibilizando ou reduzindo todos os outros traços”. Na actualidade, a investigadora conclui que “o projecto de um cinema de mulheres deixa de ser o de destruir ou perturbar a visão centrada do homem, representando as suas lacunas ou as suas repressões”. O esforço e o desafio contemporâneos “traduzem-se assim na efectivação de um olhar distinto”, conclui, “incentivando as condições de representação desse mesmo olhar”. O júri das provas foi constituído por Tito Cardoso e Cunha (Professor Catedrático Aposentado da UBI), Eduardo Augusto Ramos Paz Barroso (Professor Catedrático da Universidade Fernando Pessoa), Anabela Dinis Branco de Oliveira (Professora Auxiliar da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro), Teresa Maria Conceição Joaquim (Professora Auxiliar da Universidade Aberta) e Manuela Penafria (Professora Auxiliar da UBI).
- Notícia corrigida às 13h00 de 9 de julho de 2014. |
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