A rede do Ensino Superior, financiamento, ação social e abandono escolar foram os grandes temas do Encontro Nacional dos Dirigentes Associativos (ENDA) que trouxe à Covilhã associações académicas de instituições de todo o País. Um encontro organizado pela Associação Académica da Universidade da Beira Interior (AAUBI) que decorreu ao longo do último fim de semana, dias 14 e 15, antecedido de um debate, na sexta-feira, onde estas questões estiveram em análise.

Um programa prévio à reunião dos estudantes que juntou à mesma mesa Gonçalo Velho, do Sindicato Nacional do Ensino Superior (SNES), Vítor Mota, administrador da Universidade da Beira Interior (UBI), e João Queiroz, ex-reitor da academia covilhanense. Três responsáveis com três abordagens diferentes, mas onde ficou vincado que o ensino superior precisa de afinações.

Principal mudança na ordem do dia: a reorganização da rede. O tema esteve entregue ao dirigente sindical, que defende a adaptação da organização do ensino superior às novas realidades do País e do mundo. “Portugal não é uma ilha”, lembrou Gonçalo Velho, defendendo que “qualquer reorganização que seja feita tem de ter em conta a realidade global, para projetar este mesmo ensino superior para o futuro”.

Para o dirigente sindical, “não há ensino superior a mais, mas pode ser discutida a rede”. No entanto, ela tem que acontecer “num tempo para pensar o que é o País a médio e longo prazo”, algo que pode não acontecer ao ser feito numa lógica imediata. “Por isso, nos assustou muito que esta proposta tivesse surgido num contexto de crise”, disse Gonçalo Velho.

As perspetivas dos estudantes também devem ser tidas em conta. “Os alunos olham para nós e querem ter respostas. É importante perceber o que é que estas pessoas gostavam que o ensino superior fosse e parece-me que é bastante diferente de algumas propostas de orientação que nos foram colocadas recentemente pelo secretário de Estado”, disse o também docente, defendendo que “hoje há a tendência para a questão da inspiração, a capacidade de cativação e menos para as velhas linhas hierárquicas e verticais”.

Muitos desses alunos vão para as universidades e nem sempre têm capacidade económica para continuar os estudos. Sobre o regulamento de bolsas falaram Vítor Mota e João Queiroz.

Os problemas são gerais e as universidades estão “cada vez mais sensibilizadas para esse problema”, explicou Vítor Mota, que deu como exemplo o Fundo de Apoio Social da UBI, que colmata as carências dos alunos não contemplados com bolsa de estudos. O processo resulta de um regulamento “orientado para o mérito”, explicou, considerando que é um critério “muito pouco inclusivo em relação à situação atual de crise”.

João Queiroz que foi presidente do Conselho de Ação Social do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP) defende que o limiar que define a atribuição de bolsas devia ser alterado, mas admite que é uma negociação difícil.

“Dizer que um aluno tem que ter sucesso escolar é indiscutível, apesar de termos feito ver à tutela que há estudantes que não têm apoio por causa desse limiar. E era difícil, por um lado, lidar com os casos problemáticos que temos nas universidades e, por outro, contrariar os políticos que diziam que moralmente era inaceitável que um aluno não estivesse obrigado a uma fasquia de aproveitamento”, sublinhou.

Os plenários dos dirigentes associativos prolongaram-se por sábado e domingo, de onde saíram propostas que não foram ainda tornadas públicas e “que irão ser remetidas ao Ministro da Educação e Ciência”, Nuno Crato, disse o presidente da AAUBI, Marco Saldanha, à Rádio Clube da Covilhã.