Jornal Online da UBI, da Região e do RestoDirectora: Anabela Gradim |
Trabalhador-Estudante
Carina Alves · quarta, 30 de julho de 2014 · @@y8Xxv Terra da indústria da lã e berço dos descobrimentos de quinhentos, a Covilhã define todos os anos o futuro daqueles que a foram conhecer para lá estudar. A cada ano lectivo a cidade neve recebe mais de mil novos jovens estudantes que um dia hão-de partir com outra realidade. Aqui se formam e se tornam homens e mulheres. Aqui, muitos conhecem a realidade de trabalhar para cumprir o objectivo com que chegaram, o curso que um dia tanto os há-de orgulhar. |
Pólo I da Universidade da Beira Interior. |
21991 visitas Na cidade em plena serra onde outrora se vivia a azáfama dos lanifícios trocaram-se as antigas fábricas têxteis para dar vida às cinco faculdades da Universidade da Beira Interior (UBI). Situada na parte sudeste da Serra da Estrela e porta também do ponto mais alto de Portugal Continental, a Covilhã vive agora dos que dela fizeram a sua casa longe da sua família. Surgida em 1986, todos os anos a universidade beirã acolhe mais de mil novos alunos. Vindos de toda a parte do país e das ilhas juntam-se à família ubiana que já conhece de cor a boémia cidade do interior, a universidade, os professores, as pessoas e as tradições. Palco de muitas histórias académicas e de gentes que se misturam com outras gentes, a conhecida cidade neve não foge também ela ao marasmo económico que o país conhece já há algum tempo. Os incentivos do Estado ajudam a que os jovens se formem e permaneçam na cidade ainda que as saídas para o litoral se mostrem uma melhor alternativa. Os velhos alunos vão dando lugar aos novos mas a história repete-se, os gastos e os encargos que uma vida universitária traz são sempre superiores ao esperado. O momento de crise que se atravessa exige cada vez mais cuidados por parte das famílias e dos alunos que são obrigados a procurar outras alternativas para não abandonarem os seus cursos.
Fundo de Apoio Social Combater as desistências e criar uma universidade mais solidária de forma a estar cada vez mais perto dos alunos era um dos maiores projectos da academia. Cientes das dificuldades que muitos alunos atravessam, nasce assim no ano lectivo de 2012/2013 na Universidade da Beira Interior o Fundo de Apoio Social (FAS). “O Fundo de Apoio Social é um fundo que se caracteriza por ajudar alunos carenciados e aqueles que por alguma razão não foram contemplados com bolsa de estudos e que necessitam de ajuda financeira por exemplo no pagamento das suas despesas associadas à universidade”, explica Victor Mota, administrador da UBI e dos Serviços de Acção Social. Inicialmente este fundo era destinado apenas a alunos bolseiros mas tal como noutras instituições de Ensino Superior, a necessidade de ser mais abrangente viria a revelar-se, passando a funcionar também como uma alternativa a quem não consegue aceder a uma bolsa de estudos. Entre os sectores da alimentação, desporto, alojamento, gráficos, vigilância e bibliotecas da instituição se distribuem os alunos que dão geralmente 10 horas da sua semana a este trabalho. Foi a necessidade de se criar um mecanismo de apoio regulamentado e de ajuda a alunos carenciados deu forma a um projecto que no ano lectivo anterior ajudava 80 jovens estudantes. “Este fundo para além de suprir carências económicas ajuda também no ponto de vista de socialização ao trabalho, permitindo aos alunos perceber o que os aguarda no futuro”, explica Victor Mota.
Trabalhar para estudar Adília, João e Augusto são três dos 120 alunos que este ano trabalham na universidade através do Fundo de Apoio Social. Distribuídos por dois pólos da universidade e pela biblioteca os três jovens começam a conhecer a realidade dos horários e das responsabilidades. “Sou bolseira desde que entrei na UBI mas perdi a bolsa este ano. Como não tinha oportunidade de estudar sem essa ajuda uma amiga minha que já tinha trabalho no FAS informou-me deste projecto e decidi candidatar-me”, conta Adília Nunes. A aluna de Bioquímica há três anos, encontrou no FAS a oportunidade de concluir a licenciatura que viu ser posta em causa quando este ano perdeu a bolsa de estudos. Entre as aulas e o trabalho que requer uma vida universitária, Adília dispensa todas as semanas 10 horas do seu tempo livre para trabalhar no bar da Faculdade de Engenharias e desempenhar o trabalho de qualquer outro funcionário. Desde servir alunos e professores, limpar e preparar refeições, a aluna vê neste trabalho a possibilidade não só de “amadurecer como pessoa para um trabalho futuro” mas também a hipótese de garantir a conclusão do seu curso. “Fui muito bem recebida pelos funcionários quando vim para aqui. O ambiente é agradável e consigo facilmente trocar de horário sempre que é necessário devido a aulas ou frequências”, conclui a aluna. Augusto Domingues, também estudante da UBI há três anos é mais um dos alunos que faz parte do projecto do FAS. O aluno de Ciências da Comunicação desempenha funções nos Serviços Gráficos da Faculdade de Artes e Letras. “Decidi candidatar-me a trabalhar na UBI porque vi reduzida a minha bolsa de estudos este ano. Desta forma não vi outra alternativa senão esta e este trabalho é de facto uma forma de angariar dinheiro para conseguir pagar os meus estudos”, diz Augusto.
Ganhar autonomia Bolseiros ou não, o projecto tem-se mostrado uma grande vantagem para todos os jovens estudantes que dele beneficiam pois encontram um apoio para os seus estudos, alimentação e despesas. “Para além da ajuda financeira penso que com este trabalho começamos a ganhar alguma autonomia e percepção daquilo que é gerir o dinheiro que nós mesmos ganhámos. Uma coisa é gerir aquilo que os nossos pais nos dão, outra é gerir aquilo que nós ganhamos com o nosso esforço, e isso é muito bom pois dá-nos outra realidade daquilo que nos espera quando entrarmos no mercado de trabalho”, explica Augusto. Na Biblioteca Central, entre livros e estantes encontramos o João. Aluno de Biotecnologia, João Duarte muda quotas e arruma livros no trabalho que encontrou como solução para pagar as propinas. João perdeu a bolsa de estudos no ano lectivo anterior e o FAS foi a solução encontrada para continuar a estudar. “Tenho possibilidade de escolher o meu horário e como só tenho aulas à tarde consigo trabalhar aqui de manhã, ir às aulas de tarde e ainda estudar depois das aulas. Consigo conjugar tudo e é óptimo porque consigo pagar os meus estudos e tirar esse encargo aos meus pais”, afirma João Duarte. Crise, desemprego, cortes nas bolsas e aumentos nas propinas são os quatro termos mais associados ao panorama das desistências nas universidades. A situação é real e grave, o ensino afinal parece que não é para todos. Uma instituição cada vez mais credível e mais próxima dos alunos faz da UBI uma academia que aposta no futuro da sua comunidade estudantil e que visa continuar com o projecto que está a ajudar mais de uma centena dos seus alunos. A localização no interior revela-se um grande problema quando se fala em atrair os jovens para a cidade da Covilhã ou até mantê-los cá. No início vêm com medo, na despedida choram-se os esforços dos pais, as noites em claro, as frequências e os exames, as noites boémias. Os amigos. Afinal valeu a pena.
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