Jornal Online da UBI, da Região e do RestoDirectora: Anabela Gradim |
"A minha praxe foi fantástica"
Carina Alves · quarta, 3 de setembro de 2014 · @@y8Xxv Nuno Filipe Santos Gonçalves Macedo, 31 anos, estudante na Universidade da Beira Interior desde 2000, é o responsável máximo pela praxe na academia beirã. Numa época em que a praxe volta a ser tema de discussão em Portugal, em que se questiona o que verdadeiramente significa esta tradição, tão enraizada pelas universidades de todo o país, fomos conhecer o órgão máximo da praxe na UBI, o imperatorum, assim como os princípios nos quais assenta este ritual de entrada na Universidade. |
O Imperatorum batiza os caloiros. Créditos: Pedro Lopes |
22217 visitas - Como é feita a eleição do Imperatorum, de quanto em quanto tempo, e porquê? A eleição do Imperatorum é feita quando aquele que ocupava o cargo se demite ou é demitido ou quando acaba o curso. É eleito no Forum Veteranum, que se reúne e o elege. Qualquer pessoa que tenha estatuto de Senadorum, ou seja, 6 ou mais matrículas na UBI, e estar a licenciar-se ou ter tirado licenciatura na universidade pode ser eleito. Caso não haja ninguém a candidatar-se é feita uma sugestão pelo Forum que depois é votada. Neste caso a minha eleição foi por sugestão do Forum. - O que faz o Imperatorum da UBI? A principal função do Imperatorum é fazer com que o Código de Praxe seja aplicado, isto é, fazer com que a praxe corra dentro daquilo que são os usos e tradições desta academia e que não haja abusos, de forma a que tudo corra bem para que os caloiros tenham aquilo que todos nós tivemos: uma boa praxe, divertida e integrante. - Que peso tem para si assumir um cargo tão importante na praxe? Na época de praxe tem um peso bastante grande e importante na minha vida pois uma boa parte do meu dia é ocupada com funções que advêm desse cargo. Mesmo no resto do ano continua a ser importante, porque há sempre atividades que têm de ser feitas e coisas que têm de ser previamente preparadas. Acima de tudo tem o peso da responsabilidade porque o Imperatorum, como costumo dizer, tem 6 mil filhos. - Quais são os princípios básicos por que se pauta a praxe da UBI? O princípio básico da praxe ubiana, e penso que de qualquer outra praxe, é o bom senso. Se houver bom senso tudo o resto corre bem. O objetivo da praxe é fundamentalmente integrar os alunos, pois nós basicamente temos o papel de lhes apresentar a cidade e a universidade e apresentá-los à comunidade em que vão viver durante o tempo que estarão na Covilhã. Por exemplo, nesta academia sensivelmente 80% dos estudantes são de fora, logo é fundamental que eles se conheçam entre eles e também nos conheçam a nós praxantes. Como é claro a praxe é dura, e ao início é complicado em termos de horários quanto à praxe e latada, é bastante desgastante, mas se houver bom senso tudo corre bem. - Acha que os alunos têm consciência dos seus direitos e deveres enquanto praxados e praxantes? No que respeita aos alunos enquanto praxados, apesar de ser um esforço que nós fazemos todos os anos há muitos caloiros que não lêem o código de praxe. Apesar de estarmos sempre a insistir nessa ideia e de sublinhar bem isso desde o início da praxe, há muitos caloiros que não sabem os seus deveres e os seus direitos porque não lêem. A nível de praxantes há, infelizmente muitos que também não lêem e então acreditam nos mitos urbanos que há e por vezes cometem erros por causa disso, mas a generalidade tem noção e sabe perfeitamente acerca dos seus deveres e daquilo que podem fazer ou até onde podem ir. - O comportamento dos praxantes da UBI está a seguir a conduta básica do código de praxe da universidade? Sim, felizmente sim. Já desde 2007 que não temos nenhum problema grave. Na generalidade corre todos os anos tudo bem. Quando há algum problema a grande falha é mesmo a falta de bom senso pois são abusos que quando se chama à atenção de quem o cometeu a pessoa corrige. Os estudantes são todos novos, muitas vezes agem sem pensar, e às vezes há problemas que vêm daí, da falta de consciência. Fora isso na grande generalidade a nossa praxe corre sempre muito bem. - Segundo o prefácio do código de praxe da UBI “A folia que marca a cidade da Covilhã transforma todo e qualquer estudante que por ela passa naquilo que seria impossível acontecer noutra qualquer cidade”. O que é que a Covilhã tem a nível de praxe que as outras cidades não têm? De que forma a praxe ubiana é assim tão marcante? A nossa praxe é a praxe mais curta do país. Enquanto as outras academias têm praxe até à Queima das Fitas, a praxe da UBI é só até à Receção ao Caloiro. Isto dá-lhe uma intensidade muito grande. Até mesmo outras pessoas que vieram para cá estudar e já tinham passado por academias com muita tradição académica como Porto ou Coimbra, gostam da praxe ubiana por causa disso mesmo, da intensidade. Em apenas 5 ou 6 semanas os alunos são obrigados a conhecer a cidade e a conhecer-se uns aos outros. É um período muito curto onde a praxe é diária e por isso mesmo obriga a um convívio muito forte. É verdade que tudo isto tem um lado mau porque eles andam cerca de um mês e meio completamente esgotados e cansados, mas o ambiente que se vai criando é sinceramente muito bom. - “Resultado do trabalho e esforço dos veteranos em educar e inserir os caloiros em toda a dinâmica universitária surge a praxe na UBI”. De que forma ela se foi alterando até aos dias de hoje? Todos os anos com a entrada de novos caloiros a praxe se vai alterando porque todos os anos entram pessoas novas com necessidades e características novas. Ao contrário do que muita gente diz e pensa, a praxe é um fruto da sociedade. Todas as pessoas que estão cá na academia e na praxe vêm da sociedade e quando entram cá, como é claro, têm já o seu carácter e os seus hábitos, aquilo que nós lhe passamos com a praxe, todos os valores e todas as tradições não são coisas que lhe impomos, são coisas que eles adaptam a si mesmos e ao seu carácter. Desta forma todos os anos existe uma alteração a nível de praxe pois todos os anos entram pessoas que vão dar algo de novo à academia e à praxe. Conforme essas pessoas vão avançando nos estatutos da praxe e vão entrando novas é claro que as coisas ganham sempre outra dinâmica e outra forma. É bom sinal e é sinal que a praxe está viva. - A praxe tem sido um assunto bastante debatido nos últimos tempos. Tem sido acusada de ser algo humilhante e dispensável. Qual é a sua opinião acerca das últimas notícias que envolvem a praxe? Eu acho que a única coisa dispensável foi o exagero dos media e da sociedade em relação a esses assuntos, pois aproveitaram-se de duas tragédias que aconteceram que foi a queda do muro no meio de uma rua e o acidente na praia do Meco, e em vez de se falar nas vítimas que foram as pessoas que morreram, que eram jovens com a vida toda pela frente, esqueceu-se tudo e só se falou mal da praxe. A praxe não é humilhante, o limite da praxe é o limite do caloiro porque ele tem sempre a opção de dizer que não, ao contrário de muita gente que os transforma pelo que pensa e diz em seres irracionais sem opções de escolha. Os caloiros quando entram aqui têm todos 18 anos e se ainda não os têm nesse mesmo ano os completam, logo são pessoas que já são independentes, maiores de idade e com direito de voto, já podem matar pelo país e morrer pelo país. É ridículo que se pense que eles não têm possibilidade de escolha. Infelizmente, aqui como em todo o lado, há falhas e acidentes na praxe, mas estes acidentes que houve e que foram tão noticiados não foram culpa da praxe. Num caso uma onda acidentalmente apanhou 6 pessoas que se encontravam em actividades da praxe, mas não foi a praxe que interferiu com a natureza e criou a onda. Noutro caso foi apenas um muro público que ruiu. É bastante triste que se associe diretamente isto com uma atividade com tanta tradição. - Tem conhecimento de algum abuso mais grave feito por praxantes a caloiros nesta academia? Neste momento cada vez mais tentamos evitar a praxe física por ser muito cansativo e porque se podem magoar. Os abusos surgem por exemplo quando os caloiros só deviam estar a fazer uma determinada atividade cansativa durante 5 minutos e estão por exemplo 10, e quando existe a praxe noturna, em que se levam caloiros para casa com o intuito de limpar e arrumar. É só nisso e são raros casos. Considero que nem são bem abusos, são coisas que não deviam acontecer é um facto, mas são apenas coisas que pecam pelo exagero pois a praxe da UBI não tem há muitos anos nenhuma situação mais grave para resolver, sempre correu tudo dentro dos parâmetros normais. Os únicos e últimos problemas mais graves que tivemos foram em 2007, foram duas situações que foram resolvidas pelo Forum, tanto é que numa delas quando os pais da caloira contactaram a reitoria nós já os tínhamos informado. - Para além de estar “aprovado por lei”, o código de praxe da ubi é considerado por muitos o código mais organizado das academias portuguesas. Em que é que isto ajuda a criar a praxe? O facto Código de Praxe estar aprovado por lei é claro que nos ajuda muito porque temos as regras bastante bem claras e definidas, as pessoas sabem o que podem e não podem fazer. Temos pessoas que as aplicam e as fazem aplicar, e a nossa tradição nunca foi uma tradição de humilhação mas sim de integração. Os alunos desta universidade até há pouco tempo atrás era difícil irem a casa, iam escassas vezes. Apesar de haver pessoas que agora facilmente vão todos os fins-de-semana, quando eu entrei havia pessoas que iam a casa apenas nas férias. Como é claro, sentindo-se tão longe de casa, ainda que agora seja costume irem lá mais vezes, é claro que isto tanto a nível de praxe como a nível académico cria um espírito enorme de união e integração. - Apesar de se considerar a latada o momento alto da tradição académica ubiana e manifestando muitos alunos a vontade de um cortejo académico de finalistas, porque é que na UBI, ao contrário de quase todas as outras universidades, se dispensa essa mesma tradição e toda a componente da queima das fitas? Qual é o simbolismo daquilo que aqui se conhece por bênção das pastas e porque motivo se dispensam de acessórios alegóricos a esse dia? Relativamente à Latada é importante porque a nossa praxe é uma praxe de integração dos caloiros e sendo a Latada inserida na Receção ao Caloiro, que é o ponto alto daquilo que preparamos para eles, é claro que se torna um marco na praxe ubiana, não fosse até com ela que a praxe acaba. Relativamente ao Cortejo Académico de Finalistas, é de facto uma lacuna que temos, mas é uma situação que nós vamos tentar ainda este ano que se crie uma tradição para os finalistas. Apesar de estar definido no Código de Praxe na sessão nona não é uma tradição que se cumpra aqui, mas que faremos o que pudermos para que se comece a criar. - Se tivesse de descrever apenas numa frase o que foi ocupar este cargo o que diria? Este cargo permite ver o melhor da praxe e pessoalmente estou nele e aceitei-o porque a minha praxe foi fantástica e eu quero dar isso aos caloiros. |
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