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Vanessa Afonso – a mãe da pequena guerreira
Irina Candeias · quarta, 27 de agosto de 2014 · Nacional Vanessa Afonso ficou conhecida por ter criado a página no Facebook “Os aprendizes de Nonô” e também a “Associação Princesa Leonor- Aceita e Sorri”. Vanessa abraçou estes dois projetos depois de ser diagnosticado à sua filha Leonor, mais conhecida por Nonô, um tumor de Wilms bilateral, a 14 de junho de 2013. |
Fotografia de Tânia Afonso |
21958 visitas Quando nada fazia prever, Vanessa viu a sua pequena “fia”, como carinhosamente a trata, envolvida em vários exames até à chegada da quimioterapia. Vanessa deixou de trabalhar para se dedicar inteiramente à sua filha, e precisou de ajuda financeira para os tratamentos. Foi através de página no Facebook que encontrou essa ajuda, com os milhares de desconhecidos que não ficaram indiferentes à pequena Nonô. Mas também muitas personalidades conhecidas abraçaram a causa, como a cantora Aurea, Cristiano Ronaldo, David Luiz e muitas outras. Por sua vez, Nuno Gomes apadrinha a “Associação Princesa Leonor- Aceita e Sorri”, que apoia crianças e jovens com doença oncológica. Passado quase um ano, Nonô vê-se finalmente livre do maior perigo. Apesar de ter que continuar com a quimioterapia por mais dois anos, Vanessa Afonso mostrou-se confiante a agradecida, como podemos ler na página: “Sei que ainda temos caminho a percorrer e que a jornada é menos fácil mas pelo menos agora, sei para onde estamos a ir. Nunca duvidei mas não vos posso esconder que neste momento o alívio que trago na alma...É TUDO O QUE PEDI A DEUS.”
- Quando foi diagnosticado o tumor de Wilms bilateral à Nonô, alguma vez pensou que Deus a tinha abandonado? - Foi ideia da Vanessa criar a página no Facebook “Os aprendizes de Nonô”? Não teve receio de estar a expor demasiado a sua vida e a da Nonô? - De que forma o apoio dos milhares de pessoas desconhecidas ajudou neste período de quase um ano? De todas as formas. Financeiramente só nos foi possível suportar tudo com a ajuda e o apoio das pessoas. Mais tarde em termos de APLAS, só se tornou viável com o suporte, de novo das pessoas. Para terminar, o apoio emocional foi a cereja no topo do bolo. Quantas e quantas noites, não foram as palavras delas que me deram conforto, força e alento!? - Criou a “Associação Princesa Leonor – Aceita e Sorri”. Acha que teria este tipo de projeto se o cancro não tivesse abatido sobre a sua família? Não. Confesso que não. Fugia deste tipo de situações. Sempre ajudei em termos de apoio, donativos, etc, mas não queria ter contacto com esta realidade. ”Até pensar nisso é mau” era o que eu dizia. Daí eu saber que Deus tinha tudo isto bem preparado...Ele sabia, sabe SEMPRE tudo o que precisamos nas nossas vidas...até “isto”. O Cancro trouxe muito mais à minha vida do que aquilo que tentou tirar. A principal foi a noção ampliada daquilo que são os mandamentos Dele para nós, aqui na Terra : Amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos. Nunca foi suposto vivermos sós neste mundo. - A vida da Vanessa mudou radicalmente. Deixou o seu emprego, passou por uma separação, teve que mudar de casa. Onde foi buscar forças para nunca desistir? Pois se o caminho é em frente, que remédio senão continuar?! De que nos vale desistir ? Por acaso desistir leva-nos aonde temos que ir?! Se eu estivesse sozinha, talvez tivesse desistido, agora...uma Mãe não desiste! Essa foi a 1ª lição que as minhas Avós me passaram e por ela rejo a minha vida. - O Martim e o Henrique nunca cobraram a atenção que dava à Nonô? São dois miúdos fora de série nesse sentido. Também estão em idades já muito diferentes e já entendem muito as coisas. Para além disso têm um amor tão grande pela irmã que eles mesmos se colocam no papel de cuidadores. Se ela chora durante a noite, por vezes chegam junto dela ainda antes de mim. - Toda a equipa envolvida na recuperação da Nonô, é como uma família que encontraram no IPO? Sem dúvida. TODOS sem excepção. Os Médicos, os Enfermeiros, os Auxiliares, o staff de manutenção e limpeza...todos são extraordinários. Habituamo-nos a vê-lo todos os dias...a dormir as mesmas horas que nós, sem nunca nos deixarem sós. São pessoas sem tamanho. - Agora que vê a Nonô livre do maior perigo, escreveu na página que lhe devolveram a “vida da minha filha”. Será errado dizer que também devolveram a sua? Inevitavelmente. O que seria hoje a minha vida se não tivesse a minha Leonor comigo!? Ver tudo o que foi feito, o foco com que a Leonor foi cuidada...tudo, tudo, tudo me faz estar tão grata a cada um deles. - Quem era a Vanessa antes do dia 14 de junho de 2013? Quem é agora? Eu era uma mulher focada no próximo objetivo, no que ia fazer a seguir. As coisas para mim duravam o tempo que o calendário as permitia durar. As prioridades estavam completamente invertidas. Primeiro o dever e as responsabilidades, depois o Amor, a Família e o demais que houvesse. Como desculpa dizia-me a mim mesma que se não houvesse dinheiro para pagar as contas, não havia mais nada. Mentira! Quando a saúde faltou, aí sim, se percebeu o que era realmente importante na vida. Nada do que tinha era suficiente. Onde queria ir já não importava. Tudo isso me fez como que embater numa parede de betão a 200km/h. Foi doloroso na medida em que tive que colocar toda a minha vida e como fazia o que fazia, em causa. Ao tomar essa consciência, abri espaço para aprender muito do que ainda me faltava aprender, mesmo que ainda tenha ficado aquém de tudo o que preciso saber. Hoje faço por estar mais assente, mais consciente, mais presente em tudo o que faço. Procuro ouvir mais, receber mais. Ainda falta fazer tanto para ser quem percebi que poderei ser. - Neste momento, qual o seu maior sonho? Amar, ser amada e viver em paz. Se conseguir, quero ainda voltar a não falhar com os que amo e que me amam também. |
GeoURBI:
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