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Desy: the street artist
Solange Monteiro · quarta, 2 de julho de 2014 · “Desy” é o seu nome artístico. Tem 28 anos. É natural da cidade da Guarda. Entrou no mundo da street art e do graffiti há cerca de 11 anos. |
![]() O artista urbano Desy. Foto: Hugo Branco. |
21989 visitas - Quando é que teve o primeiro contacto com o graffiti? O meu primeiro contacto foi com 16, 17 anos, com um amigo meu de Lisboa. Foi numa aldeia aqui perto da Guarda. Um contacto muito pequenino, só de fazer umas assinaturas na rua.
- Como é que nasceu essa sua paixão pelo graffiti? Nasceu nessa noite. Nasceu com a piada de ver o que era um tag, o não ser uma assinatura normal, ser uma assinatura diferente e mais trabalhada, e do meu fascínio enquanto adolescente de ver alguém mais velho fazer algo novo que eu não conhecia.
- O que é para si a street art e o graffiti? O graffiti é uma vertente do street art. A street art é um movimento que engloba muitas intervenções, sejam elas com spray ou não. Há várias intervenções que são feitas com outros materiais que não têm o spray, mas é uma vertente de street art, ou seja, a street art é intervir no espaço urbano. O graffiti tem mais aquela conotação das letras, mas se pintar uma cara também pode ser graffiti. O graffiti é tudo o que se pinta com spray, a street art é toda e qualquer intervenção artística que se passa na rua ou até em galerias.
- Qual é que é a diferença entre street art e vandalismo? Existe o vandalismo e o graffiti de rua, que é o graffiti ilegal, aquele que não é pago. Depois há a street art que passa para a galeria e que é o reconhecimento por aquilo que foi feito ilegalmente. O vandalismo, para mim, é quando alguém provoca danos a outra pessoa e se utiliza um espaço que não é nosso.
- O que é que gosta mais de pintar? É um pouco por fases, porque temos a procura de um estilo. Neste momento, de há dois, três anos para cá, gosto de retratar principalmente animais astutos, animais misteriosos que tenham a ver com sabedoria, com a noite. Atualmente, pinto mais animais. No meu trabalho de galeria, gosto mais de pintar rostos, expressões de pessoas velhas, de pessoas, no fundo, desprezadas. O trabalho que eu faço é com material que as pessoas desprezam e quero dar importância tanto ao material como às pessoas que eu retrato. Trabalho de galeria: rostos. Trabalho de rua: animais e qualquer coisa que me influencie na altura. Depois tenho os trabalhos comerciais que tenho pintar ao gosto do cliente e tenho de me adaptar um pouco.
- Quais são as suas influências? Tudo me influencia. As minhas influências vão desde os artistas que eu admiro, mas esses artistas não podem servir de influência direta porque o meu trabalho irá de encontro ao trabalho deles e não é isso que eu quero, até ao desenho de uma criança ou um grande quadro. No fundo, tudo me inspira. Claro que outros artistas e o contacto com eles é o mais inspirador.
- Tem artistas favoritos? Sim, temos sempre artistas favoritos, claro. É ingrato estar a nomear nomes de artistas, mas posso mencionar o Suso33 que é um artista revolucionário no mundo da street art, do graffiti, da intervenção. Há muitos artistas que gosto e não têm nada a ver com o meu estilo. Gosto, por exemplo, do trabalho do Damine Hirst ou do Kandinsky, quando não contribuíram nada para a minha evolução. Gosto de Ron Mueck. Gosto de muita coisa.
- Quando está de lata na mão já sabe o que vai pintar ou surge no momento? Quando vou pintar um trabalho pago, eu tenho de saber que é aquilo que vou fazer e pouco mais vou alterar. Tenho que apresentar aquele projeto e tenho de seguir pelo projeto. Quando vou pintar sozinho é a liberdade total. Há aquela ideia, mas o resto vai surgir e tropeça-se em ideias novas, vão-se criar coisas novas sem estar à procura.
- Já alguém o abordou quando está a pintar? Sim, já me abordaram várias vezes. É uma coisa engraçada. As primeiras pessoas a abordarem-me são os idosos que dão os parabéns por não estar só a riscar a parede e estar a fazer um desenho bonito. Há as crianças que são as que mais gostam, até ficam com medo, mas ficam curiosas. Depois tenho uma minoria, os adolescentes que fazem uma questão quando se sentem mais à vontade. Geralmente, quando pinto no sítio onde costumo pintar, sou sempre abordado por alguém, porque é um sítio público.
- Participou no Expand Your Mind 2014. Como foi essa experiência? Para mim foi brutal. Eu vi o Expand Your Mind em 2012, foi uma iniciativa pequena, depois em 2013 fui convidado pelo projeto do Wool que tinha parceria com o Expand Your Mind e com os alunos da UBI. Fui ao primeiro evento, mas este segundo evento foi completamente diferente. Tínhamos um armazém totalmente à nossa disponibilidade para podermos criar, a criatividade era por nossa conta, não havia projetos definidos. Foi espetacular. Acho que foi vantajoso para todos os artistas e para a organização. É pena a cidade não poder ou não querer aproveitar o que foi feito ali. No fundo está ali uma galeria e poderia eventualmente haver muito coworking.
- Que benefícios acha que este tipo de eventos trazem a jovens artistas como o Desy? Antes de mais, trazem sempre reconhecimento. Essa palavra tem que vir sempre atrás dos artistas do graffiti, porque estávamos habituados a ter a polícia atrás de nós e as pessoas a recriminar-nos e neste momento é totalmente o contrário. Estas pessoas dão-nos oportunidade e tu vais ser recebido como um artista. As pessoas estão recetivas e ao verem esses eventos, elas próprias procuram saber quem é o artista.
- Na sua opinião, que papel desempenha esta forma de expressão artística urbana nas cidades? Em primeiro lugar, expressar o sentimento de revolta, porque a maioria dos artistas de street art começa como simples jovens a pintar por querer mostrar afirmação, revolta. Depois, ao pintar na rua conseguimos expor o nosso trabalho, é grátis. Ninguém nos diz se podemos fazer ou não. A ideia é sempre ocupar a rua, mas com uma finalidade. A rua é a nossa galeria privada, que de privada não tem nada.
- Ainda existem muitas pessoas que consideram a street art vandalismo. O que diria a estas pessoas? Em primeiro lugar, diria que precisam de pesquisar. Precisam de ver o que é feito, o que é o graffiti, o que é a street art. No gafffiti tem sempre de haver os vândalos, porque ninguém nasce ensinado. Ninguém nasce com um dom de dominar uma lata de spray. É preciso separar o bom do mau, mas qualquer artista que hoje seja bom, no passado foi mau, foi um vândalo. Pintou comboios e sítios ilegais e vai continuar sempre a pintar. |
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