Jornal Online da UBI, da Região e do RestoDirectora: Anabela Gradim |
À procura do jornalismo do futuro
Rodolfo Pinto Silva · quarta, 28 de maio de 2014 · @@y8Xxv Investigadores e profissionais debateram os desafios com que se defrontam os meios de comunicação tradicionais na atualidade. Fazer melhor jornalismo pode ser uma solução. |
Responsáveis editoriais de televisões portuguesas estiveram na UBI para falar de jornalismo |
21976 visitas O tema apontava as coordenadas do debate: informação e televisão, numa altura de mudanças no universo mediático. “A televisão já não é o que foi e ainda não é o que será”. A afirmação de Anabela Gradim, docente de jornalismo da Universidade da Beira Interior (UBI), circunscrevia-se ao meio televisivo, mas podia aplicar-se a praticamente todos os temas que motivaram, ao longo de um dia, a reflexão de académicos e profissionais, na Faculdade de Artes e Letras (FAL). A evolução tecnológica reuniu consenso num aspecto: é uma das grandes responsáveis pelas alterações que obrigam o jornalismo a reconfigurar-se. E quatro representantes de televisões nacionais – as três ‘grandes’, RTP, SIC e TVI, a que se juntou a Correio da Manhã TV – diagnosticaram problemas e apresentaram caminhos para tirar o jornalismo da encruzilhada em que se encontra.
Imprensa escrita em risco Na era da informação ubíqua, “a imprensa escrita em Portugal não está saudável”, disse Octávio Ribeiro, diretor do jornal Correio da Manhã e da Correio da Manhã TV. “O mercado está a encolher de forma aguda. É uma doença gravíssima que ataca os jornais. O negócio do papel exige pessoas e tempo para chegar aos sítios, tendo-se ressentido imenso da crise. Quanto menor for a procura, menos capacidade vamos ter de gerar receitas para termos equipas com a dimensão adequada para fazer bom jornalismo”, acrescentou o responsável. Uma parte da solução foi apresentada por Pedro Coelho, jornalista da SIC. O também docente apresentou uma receita: jornalismo de qualidade. Mesmo admitindo que as audiências “são o ganha pão dos meios” e estas preferem o “entretenimento”, defende que o público reconhece e se mobiliza em torno dos bons produtos. “As pessoas sabem distinguir o trigo do joio. O futuro do jornalismo pode passar pelo jornalismo de investigação, porque os trabalhos que a SIC tem feito têm tido audiências muito interessantes e, de alguma forma, conseguem ressarcir o custo de produção dessas reportagens”, defendeu.
Novos modelos de consumo Mas muito além dos conteúdos, há a dificuldade de adaptação aos novos modelos de consumo de informação. Apesar de grande parte da televisão ainda operar em modelos estabilizados há várias décadas, há profissionais que admitem a desadequação. Em primeiro lugar, ao nível dos dispositivos. “O primeiro ecrã já não é o televisor, mas sim o iPhone, o iPad, ou o computador. Estou completamente a par do que se passa do mundo e ainda não vi um bocadinho de TV. Fui acompanhando as notícias pelo telefone”, disse Alexandre Brito, coordenador do Telejornal da RTP, que foi mais longe na análise da audiência: “A geração mobile é consumidora de informação on demand. Não é passiva, não tem paciência para estar mais de uma hora a ver um telejornal com um alinhamento que alguém está a escolher por eles, com notícias que muitas vezes não lhes causam qualquer interesse”.
Sensação ilusória de saciedade Desinteresse que pode muito bem resultar daquilo que José Alberto Carvalho chama de “ilusória sensação de saciedade de informação”. O diretor de informação da TVI entende que as pessoas “pensam que aquilo que chega pelos meios virais do Facebook é suficiente”. E quando “vão ao Google, procuram algo que já sabem”. Isto pode resultar no fim de uma vertente do jornalismo que é a de “despertar as pessoas para aquilo que elas não sabem sequer que desconhecem”.
Apesar dos problemas, José Alberto Carvalho está otimista. “O mundo está prestes a descobrir que precisa desesperadamente e, mais do que nunca, de jornalistas. Desde o jornalismo de investigação, para o qual não sei se há muita gente com disponibilidade para pagar, como para todo o tipo de jornalismo. Talvez haja menos espaço para o que estávamos habituados. Mas as profissões foram definidas em função da tecnologia disponível. O jornalismo é um caso paradigmático disso”, conclui.
Organização de alunos do terceiro ciclo “A informação na era da Televisão Ubíqua” decorreu na terça-feira, dia 20, e foi organizada por um conjunto de estudantes de doutoramento em Ciências da Comunicação, com o apoio da Faculdade de Artes e Letras. Durante a manhã, contou com intervenções de João Canavilhas (vice-reitor da UBI), Paulo Serra (presidente da FAL) e Manuela Penafria (presidente do Departamento de Comunicação e Artes), na sessão de abertura. François Jost (Université Paris III, Sorbonne Nouvelle) foi o Keynote Speaker, que antecedeu o primeiro painel onde participaram Felisbela Lopes (Universidade do Minho), Miriam Rossini (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Pere Masip (Universitat Ramon Llull (Barcelona)) e Alba Silva Rodríguez (Universidade de Santiago de Compostela), com moderação de João Carlos Correia (UBI). |
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