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"Mai' uma" praxe na UBI
Liliana Santos · quarta, 16 de outubro de 2013 · @@y8Xxv O princípio do ano letivo na UBI marca o início dos rituais de acolhimento aos novos alunos: a Praxe Académica. Entrar na Academia Ubiana é quase sempre sinónimo de ser praxado, mas aceitar a tradição fica ao critério do novo estudante. |
Os cursos de Ciências da Comunicação e Ciências da Cultura numa atividade lúdica organizada pelos praxantes |
22083 visitas Todos os anos, por esta altura, as ruas da Covilhã enchem-se de estudantes vestidos de negro que se fazem acompanhar dos novos alunos. Os caloiros são fáceis de reconhecer. Alinhados, de caras pintadas e de cabeça baixa, estão prontos a obedecer à ordem de um estudante mais velho: "Cascos ao longo do corpo!", grita o Veteranum de Ciências da Comunicação. Durante cinco semanas, cerca de mil novos alunos andam pelas ruas de mãos dadas, entoam canções e gritam pelo seu curso. Dentro da Academia, a praxe Ubiana é regulada por um Código de Praxe que tem como objetivo combater todos os atos violentos travestidos de atividades praxistas. O Art 1.º do Código define Praxe Académica como "todo e qualquer uso ou tradição existentes, praticados por estudantes da UBI". No mesmo documento, o artigo seguinte define o que não constitui Praxe Académica: "todo e qualquer ato de cobardia e/ou violência gratuita, praticado por qualquer estudante da UBI, ou qualquer tipo de coação com o objetivo de obter benefício de cariz financeiro". Para a grande maioria doa estudantes da UBI, o principal propósito da praxe é acolher, integrar e dar as boas-vindas aqueles que elegeram a Academia Beirã para ingressar no ensino superior. Nuno Macedo, atual Imperatorum, órgão máximo da praxe e aluno de Bioquímica, defende a Praxe Ubiana como forma de integração dos recém-chegados ao ambiente universitário: "Sendo a Universidade da Beira Interior uma Instituição de ensino onde cerca de 80 por cento dos alunos são deslocados, a praxe torna-se essencial para que os novos alunos se integrem na Universidade, na Cidade e no seu curso". Para Pedro Bernardo, presidente da Associação Académica da UBI, a praxe será positiva "se for feita de forma consciente". O representante dos estudantes reconhece que "existe um certo mito à volta da praxe", muito à custa dos casos de abuso tornado públicos nos últimos anos. "A AAUBI, em conjunto com o Fórum Veteranum, que é entidade que regula a praxe, tenta fazer ações de prevenção junto dos estudantes mais velhos para que não se sirvam da praxe para a sua realização pessoal, mas para promover aos novos alunos uma integração real daquela que é a vida na Academia Ubiana, refere Pedro Bernardo que é uma das soluções encontradas para combater as situações de abuso. Este ano, a Associação Académica promoveu um conjunto de atividades, entre as quais o «Chorão de Molho» e o «Podium» que permitiram o desenvolvimento dos laços de camaradagem entre caloiros do mesmo curso e entre os cursos da Academia. A ideia de integração é partilhada por alguns caloiros. Cristiana Carvalho, 19 anos, é natural da Covilhã e caloira do curso de Ciências da Cultura. O curso é novo na Universidade mas nem por isso fugiu à tradição académica. "Eu já conhecia as praxes da UBI e sempre tive a perceção que elas ensinam o caloiro a dedicar-se ao curso a cem por cento", salienta a aluna. Cristiana acrescenta: "Se não houvesse praxe, certamente só conheceria os meus colegas nas aulas e ninguém teria confiança para se falar". Mas a praxe na Universidade da Beira Interior continua a dividir os estudantes: enquanto uma parte é a favor das atividades praxísticas, outros preferem dizer não à tradição. São chamados "Anti-praxe" e são protegidos pelo Código. O terceiro artigo afirma que "estão vinculados à praxe todo e qualquer estudante da UBI, podendo, no entanto, quem o quiser, declarar-se objetor de praxe (anti-praxe) sendo consequentemente banido de todos os atos académicos (Batismo, Latada, Enterro do Caloiro, Bênção das Pastas e Uso do Traje Académico). Numa entrevista ao jornal O Interior, Nuno Macedo afirma que "a média de alunos que se declara anti-praxe andará entre os 40 e 80, num universo de 1.000 a 1.200 caloiros, dependendo dos anos em causa". É também por esta altura do ano que volta a reacender-se o debate público sobre as Praxes Académicas. Bruno Nogueira, um conhecido humorista português, na sua crónica «Tubo de ensaio» da rádio TSF, veio a público criticar as praxes académicas. Cristina Couto tem 22 anos e é natural da Trofa. A estudante de primeiro ano partilha o quarto das residências universitárias com Ivanira Antónia, 18 anos, natural de Lisboa. As duas alunas de Design de Moda são anti-praxe. A primeira chegou à Covilhã decidida a não participar em qualquer atividade praxística. A segunda ainda chegou a experimentar a praxe Ubiana, mas logo decidiu que não valia a pena continuar: "Pelo que dizem, és praxado para usar o Traje Académico ou para praxar, e eu nunca tive intenção de fazer nenhuma das duas coisas". Não se sentem excluídas por não participar da praxe. "Tratam-nos de maneira diferente e olham-nos de maneira diferente por não fazermos parte do mesmo círculo, mas isso não é algo que nos incomode". Como elas existem outros tantos a questionar a organização hierárquica, o vocabulário brejeiro utilizado por estudantes mais velhos e certo tipo de brincadeiras de cariz sexual que fazem parte da tradição. A praxe na Universidade da Beira Interior termina a 23 de outubro, altura em que se realiza o tradicional cortejo da latada. Os 30 cursos da Academia Ubiana desfilam com carros alegóricos e competem pelo Troféu Latada, atribuído ao vencedor do desfile. |
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