Urbi@Orbi – Vereador do município e vice-presidente da câmara há alguns meses apresenta agora uma candidatura à presidência da mesma. Quais foram as razões dessa decisão?
Pedro Farromba – O principal motivo foi perceber que a Covilhã está hoje numa situação crítica em termos de futuro. A Covilhã esteve historicamente ligada a uma mono-indústria que teve o passado que todos conhecemos, o conjunto de desemprego que se veio a gerar com a deslocalização dessa atividade leva-nos até finais dos anos 80, do século passado, quando a universidade se começa a afirmar como um importante polo de formação e geradora de ideias de negocio e novos conceitos.
Foi começado a construir, com a criação do Parkurbis, um novo caminho para a Covilhã. Hoje a cidade é vista no meio empresarial, como sendo um local atrativo para a fixação de empresas de base tecnológica. Esta questão do Data Center vem ajudar a este processo e por tudo isto, a Covilhã está numa situação em que se pode reinventar, ou seja, pode encontrar um novo caminho na área das tecnologias que leve à criação de emprego, de confiança nos investidores.
Todo o trabalho feito desde 2004 tem de ser continuado e com as pessoas certas para o fazer. Dentro da experiência que fui adquirindo, do trabalho que fui tendo ao longo destes anos, dentro de todo este cenário entendi que este era um processo que não podia parar e entendi que uma das áreas fundamentais para o desenvolvimento da nossa cidade, que tem excelentes infraestruturas, com sedes de coletividades, escolas, que tem cultura, associativismo, que tem natureza, que tem saúde, mas sem pessoas tudo isto não serve para nada. Para termos aqui pessoas, estas têm de ter emprego e trabalhar. A minha decisão prende-se muito com esta dinâmica de criar emprego e dar confiança aos investidores para aqui se instalarem. Para dar continuidade a este trabalho que entendi dever ser minha obrigação candidatar-me.
Urbi@Orbi – Em várias das suas intervenções ao longo da campanha aponta o emprego como uma das áreas fortes deste projeto. Num desses episódios avança com a possibilidade de criar dois mil postos de trabalho, como pode garantir isso?
Pedro Farromba – Numa análise a 15 concelhos portugueses, feita por um trabalho que o Parkurbis tem vindo a desenvolver desde 2005 fomos percebendo que existe uma tendência de criação de emprego no nosso concelho que está patente nos números do Instituto de Emprego e Formação Profissional que nos dão garantias de uma continuidade nesse sentido. Para além disso temos já em carteira um conjunto de investidores e investimentos que temos estado a acompanhar no sentido de criar esses postos de trabalho.
A tudo isto junta-se a possibilidade de encontrar novas parcerias com a PT para dinamizar da melhor forma o investimento que aqui foi feito e esse trabalho está já no terreno. Posso adiantar que a decisão da telefónica brasileira “Oi” chamar para a sua direção o engenheiro Zeinal Bava é uma decisão muito favorável à Covilhã, isto porque, temos a possibilidade de encontrar aqui formas de instalar empresas não só europeias mas também do outro lado do Atlântico.
Esta tendência que existe levaram-me a acreditar que podemos, em quatro anos, criar dois mil postos de trabalho. Para que tal se concretize precisamos também da ajuda do poder central. Até há bem pouco tempo existia um conjunto de medidas que apoiavam a fixação de empresas nas zonas interiores do País, que com este governo deixaram de existir. Espero que este governo do PSD ou outro que venha ajude na implementação de medidas que se dediquem à captação de empresas para o interior. Se temos sido prejudicados pelos investimentos públicos, a forma disso ser minimizado é que sejam encontradas soluções para novas empresas.
Urbi@Orbi – Todo o contexto económico e social tem vindo a ser alterado ao longo dos últimos anos. As autarquias acabaram por contrair dívida e a Covilhã apresenta um elevado défice nas suas contas. De que forma encara esta situação?
Pedro Farromba – A Câmara da Covilhã foi um dos municípios que reduziu em maior valor o seu passivo. Nos últimos dois anos pagámos cerca de 15 milhões de euros de passivo. Tal demonstra uma tendência importante que não teve uma redução de investimento, pelo contrário, foram sendo adquiridos bens de capital.
O volume da dívida existe, mas dívida essa que foi feita para fazer obra e é um endividamento que diria, saudável, porque tem a ver com investimento. Obviamente que nos dias que correm todo o endividamento é preocupante e temos de encontrar as melhores formas entre um caminho de algum investimento, não tanto em equipamento mas mais nas pessoas.
Urbi@Orbi – Integra uma equipa liderada pela pessoa que conduz a autarquia há cerca de 20 anos. durante este período existe um conjunto significativo de obras por fazer. A circular à Covilhã, o aeroporto, o centro de artes, a barragem das Penhas, a ligação a Coimbra, entre outras. O que é que faltou para que tudo isto não fosse feito?
Pedro Farromba – Também sou dos que afirmo que há uma Covilhã antes de Carlos Pinto e outra depois de Carlos Pinto, isto para dizer que foi feita muita coisa. A Covilhã tem de estar grata ao que o atual presidente fez. Para algumas coisas não existiram os mesmos recursos que para outras.
O IC6 foi retirado do plano nacional de estradas. Nós temos governantes em Lisboa que mandaram fazer muitas autoestradas, onde até nem passam carros, mas acham que o resto do país já está todo servido e portanto, as estradas que temos de fazer no nosso concelho têm de ser pagas integralmente pela câmara.
Já a questão do aeroporto é quase igual. Este é um projeto regional, mas já tem todas as suas condições aprovadas e agora quem vier a seguir, se entender que deve fazer o novo aeroporto, deve tentar encontrar as verbas públicas, ou público-privadas, no sentido de o construir, se se perceber que essa pode ser uma vantagem para a região. Acredito que nos pode trazer mais-valias. Termos um aeroporto face ao que temos aqui e esperamos vir a ter de investimento estrangeiro é muito importante. Temos de analisar o tráfego aeroportuário regional noutros países que têm vindo a ter um decréscimo, como é o caso de Espanha que tem vários aeroportos que estão a funcionar muito mal.
Em relação às outras obras, temos a barragem, que ainda está em cima da mesa, quanto ao teatro a Covilhã tem agora uma estrutura dos covilhanenses, que antes não tinha. Se for eleito, a cultura será uma área de desenvolvimento pela modernização do teatro.
Urbi@Orbi – Como é que acompanhou todo este processo de reestruturação das freguesias?
Pedro Farromba – Diria que deforma triste, porque se começou pelo sítio errado. Temos municípios neste País mais pequenos que o Tortosendo ou o Teixoso e têm presidentes de câmara, vereadores, assembleias municipais, etc. O que deveríamos encontrar nesses municípios formas de se juntarem a outros e criarem departamentos comuns, sem perder a identidade das pessoas e minimizando assim o impacto financeiro que na teoria esta lei vai trazer. Isto porque, como as coisas foram feitas, esta lei não vai poupar dinheiro.
O que se fez foi tentar ir pelas entidades que têm um peso político mais fraco, embora sejam as que estão em maior número, com uma claríssima concordância dos partidos que estão no arco do governo, e tentar tirar o primeiro ponto da democracia que é o contacto com as pessoas. A democracia não se faz sem este contacto e os presidentes de junta são um elo fundamental nisto tudo. Não se trata apenas de um administrativo que está por ali, mas sim a pessoa que trata dos problemas dos seus cidadãos. Independentemente da agregação de freguesias, se for eleito, vão continuar a existir as mesmas que funcionavam até aqui.
Urbi@Orbi – Assume-se agora como um candidato independente, mas acaba por ter o apoio do CDS/PP. Como chegou a esta ligação um vereador eleito nas listas do PSD?
Pedro Farromba – Em novembro do ano passado conversei com o atual presidente da câmara e informei-o de que iria apresentar um projeto que não estivesse apenas ligado a um partido. Acho que há pessoas válidas em todos os partidos, bem como, pessoas válidas que nunca estiveram em partido nenhum e os últimos tempos têm vindo a ser prova de que os partidos não estão a conseguir o seu objetivo, não representam os cidadãos, mas representam as pessoas que estão dentro dos próprios partidos. Daí que, mesmo antes de existir qualquer decisão do partido ao qual pertencia, PSD, assumi que a minha candidatura seria um projeto independente.
Depois disso fui convidado para uma reunião em Lisboa onde o doutor Jorge Moreira da Silva me disse que o PSD iria apoiar a minha candidatura. Foi uma informação transmitida também ao atual candidato do PSD, ao presidente da Câmara da Covilhã, ao presidente da distrital de Castelo Branco do PSD e ao presidente da concelhia da Covilhã, do PSD. Também a distrital de Castelo Branco, do CDS, me indicou o apoio ao projeto que lidero. Aceitei esse apoio porque todos são importantes.
Mas bastaram dois dias para tudo se inverter, muitas pressões de muitas entidades, personalidades importantes ligadas ao financiamento e à organização do PSD, levaram a que tudo fosse mudado. Desde esse dia não soube mais do partido e pedi a desvinculação do mesmo. Deixa-me, este processo, a certeza de que os partidos precisam de mudar. A forma como estamos organizados politicamente tem de mudar. Os partidos já não são representativos, as pessoas já não acreditam nos partidos e aquilo que quero com esta candidatura é promover um projeto plural. Não precisamos, nem dependemos de ninguém que está em Lisboa, o próprio financiamento da campanha não é partidário, a nossa independência é total porque não estamos condicionados por ninguém.
Urbi@Orbi – No futuro, deixando os partidos, de que forma olha para estes movimentos independentes?
Pedro Farromba – As pessoas já não se reconhecem nos partidos. Estão hoje a liderar os dois principais partidos duas pessoas cuja experiência profissional é nula, sempre viveram nos partidos, crescerem nestes, têm os seus vícios. Para gerir o País precisamos de pessoas que tenham a sensibilidade de gerir coisas, de ter a responsabilidade de pagar ordenados ao fim do mês, de coordenar as pessoas do ponto de vista operacional e que tenham a capacidade estratégica de pensar o País a dez ou 15 anos. Temos tido poucos dirigentes com a capacidade de olhar o País como um todo. As pessoas estão completamente desacreditadas dos partidos e dos políticos, em geral.
Urbi@Orbi – A existência de duas candidaturas à direita, vai trazer maior divisão ao eleitorado tradicional?
Pedro Farromba – O segundo elemento da minha lista foi até há bem pouco tempo deputado na assembleia municipal, eleito pelo Partido Socialista, daí não entender a minha lista como sendo do PSD ou mais de direita porque há pessoas do PSD, do PS, tem pessoas do PCP, tem pessoas sem nenhuma ligação partidária, e não entende que haja essa ligação. Represento uma lista independente, de pessoas independentes que querem o melhor para a sua cidade.
Urbi@Orbi – Já estão conhecidas as listas à câmara e também a diminuição no número de vereadores. Há cada vez mais a possibilidade do próximo presidente não reunir uma maioria na autarquia. Caso seja este o cenário que vai encontrar depois de 29 de setembro, como pensa governar o município?
Pedro Farromba – Ao contrário do que muitos têm dito, esta diminuição de vereadores não significa a diminuição nas receitas transferidas do Orçamento de Estado para a Câmara da Covilhã. A diminuição no número de vereadores é um sinal claro da diminuição de pessoas nestas regiões fruto das políticas impostas por PS e PSD. Houve também uma atualização do cartão do cidadão que leva as pessoas a votarem no seu local de residência. Quanto ao desenho do executivo, penso que é prematura estar a falar nisso. Ainda não existe nenhum resultado, daí que não faça esse tipo de juízo.
Urbi@Orbi – Um dos pontos que todos os candidatos apresentam é a ligação à Universidade da Beira Interior. Contudo, o atual executivo marcou este mandato sobretudo pela saída do projeto intermunicipal denominado “UBImedical”. Que explicações tem para isso?
Pedro Farromba – esse foi um dos processos pelos quais podemos constatar de que a política dos partidos está em fim de vida. Todo esse projeto nasceu como “Parkurbis Medical” e fazia parte da estratégia inicial do nosso parque de ciência e tecnologia. A forma de financiamento para este projeto acabou por ser encontrada em fundos europeus que estavam disponíveis para iniciativas conjuntas entre universidades e autarquias e assim nasceu a parceria com a UBI. A equipa do Parkurbis e da universidade fez o projeto e começamos a analisá-lo com a Comissão de Coordenador da Região Centro (CCDR). Foi-nos primeiramente aconselhado a desistir desse mesmo projeto em prol de iniciativas semelhantes quer de Coimbra, quer de Aveiro, mas negamos completamente. Fomos depois obrigados a incluir na candidatura uma área de Castelo Branco, pertencente ao instituto politécnico, mas tal não representaria um acréscimo de verbas.
Uma outra fase é tida aquando da realização de uma reunião de trabalho, na Figueira da Foz, com a presença de vários autarcas da região centro. Quando se apresentou esse projeto, a autarca de Abrantes lembrou que também nessa localidade existe um parque de ciência e tecnologia e também essa estrutura deveria ser contemplada com essa verba. Fruto de pressões partidárias teríamos de incluir Abrantes sem ter mais verbas. Quando fomos obrigados a fazer isso, a autarquia entendeu que isso seria a gota de água. Todo o projeto começou com um fundamento e com um orçamento previsto e estava a tomar um caminho completamente diferente e a verba estava igual. A nossa forma de mostrar o descontentamento era sair deste projeto.
Foi apresentada esta decisão ao professor João Queiroz e entendemos perfeitamente a posição assumida pela universidade em se manter no projeto, mas a Câmara da Covilhã teve de mostrar o seu descontentamento perante um projeto que andou a ser dirigido por pressões de duas câmaras socialistas, a de Castelo Branco e a de Abrantes. Mas penso que nunca isso beliscou qualquer relação entre a UBI e a Câmara da Covilhã.