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Émile Durkheim e a Sociologia
Marco António Antunes · quarta, 28 de agosto de 2013 · @@y8Xxv
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21998 visitas Émile Durkheim (1858-1917) é considerado o “Pai” da Sociologia. Para Durkheim a Sociologia é o “estudo dos factos essencialmente sociais e a explicação desses factos de maneira sociológica“. A Sociologia deve procurar a objectividade científica através da análise dos factos sociais. Todo o facto social é motivado por outro facto social e nunca por factores individuais. A teoria do facto social centra-se em duas proposições: os factos sociais são exteriores e colectivos, pois não dependem de comportamentos individuais, mas sim de realidades sociais (colectivas), apenas perceptíveis através de uma análise estatística das instituições; os factos sociais são coercivos, pois impõem-se a cada indivíduo condicionando o seu próprio comportamento. A metodologia de análise dos factos sociais desenvolve-se ao longo de três etapas: definir um dado fenómeno; refutar as interpretações anteriormente conferidas; propor uma explicação sociológica desse mesmo fenómeno. O suicídio é um fenómeno social motivado por problemas sociais (desconfiança na legalidade das instituições, infidelidade social, anomia...) e não em simples comportamentos individuais. A evolução do número de suicídios é cíclica e varia inversamente, face ao nível de integração social dos indivíduos. O suicídio é um fenómeno cíclico, que se desenvolve ao logo de três etapas: arranque, desenvolvimento e declínio. O número de suicídios diminui quanto maior for o nível de integração social e inversamente. Durkheim distingue claramente três tipos de suicídio: suicídio egoísta, suicídio altruísta e suicídio anómico. No suicídio egoísta o indivíduo é motivado pela valorização do seu ego em detrimento da integração social. Este tipo de suicídio analisa-se através da correlação entre o número de suicídios e os quadros sociais integradores, nomeadamente a família e a religião. O suicídio egoísta varia com a religião (os suicídios são mais frequentes em protestantes do que em católicos), idade (o crescimento do suicídio acompanha a evolução etária) e sexo (maior número de suicídios nos homens do que nas mulheres). No suicídio altruísta o indivíduo é motivado por uma ligação demasiado excessiva ao grupo social e a imperativos sociais, sem sequer pensar no seu direito à vida. A análise estatística do suicídio altruísta correlaciona-se com os grupos e instituições. A disciplina das instituições pode motivar o suicídio altruísta (numa situação de guerra, um militar graduado capturado pelo inimigo suicida-se por lealdade à instituição a que pertence). O suicídio anómico é o mais característico das sociedades modernas e é motivado pelo processo de anomia: descoordenação de valores morais entre o indivíduo e a sociedade. Este tipo de suicídio é analisado na correlação entre o número de suicídios e os ciclos económicos. Em geral, o suicídio anómico aumenta não só em períodos de crise económica, nos quais se verifica uma descoordenação de valores entre o trabalhador e a empresa, mas também de forma inesperada, em momentos de prosperidade económica e quando se verifica um crescente número de divórcios. Por outro lado, assiste-se a uma tendência para a diminuição do número de suicídios em períodos de intensa actividade política (durante a guerra os suicídios diminuem). A família, o Estado e a religião são insuficientes para impedirem o suicídio anómico. O único grupo social capaz de integrar totalmente os indivíduos em sociedade é a instituição corporativa, que realiza uma reestruturação das funções laborais. A divisão do trabalho é um fenómeno, no qual se manifesta uma forte regularidade social a dois níveis: solidariedade mecânica e solidariedade orgânica. A sociedade da solidariedade mecânica caracteriza-se por uma menor densidade populacional, que contribuiu para uma menor diferenciação sócio-laboral e consequentemente para uma forte consciência colectiva, capaz de integrar todos os indivíduos na vida social da comunidade. A solidariedade gera-se a partir da semelhança, factor de unidade na consciência colectiva das mesmas funções laborais (sociedades tradicionais pré-industriais). A sociedade da solidariedade orgânica caracteriza-se por uma maior densidade populacional, que conduz a um aumento da diferenciação sócio-laboral, favorecendo a diminuição da consciência colectiva e a afirmação da liberdade individual na interpretação dos imperativos sociais. A solidariedade gera-se a partir da diferença, factor de unidade na emancipação sócio-laboral do trabalho livre. A especificidade da sociedade industrial e do capitalismo ocidental reside no aumento da divisão das funções laborais, que conduzem inevitavelmente à decadência da sociedade da solidariedade mecânica e ao crescimento da solidariedade orgânica. A divisão do trabalho pode constituir um meio profícuo à complementaridade e coordenação sócio-laboral dos indivíduos. Porém, o aumento demográfico e a consequente competição na função laboral geram frequentemente crises socioeconómicas que se caracterizam, entre outros aspectos, pela anomia. |
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