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Max Weber e a Sociologia
Marco António Antunes · quarta, 21 de agosto de 2013 · @@y8Xxv
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21954 visitas Para Max Weber (1864-1920), a Sociologia é a ciência que estuda a acção social, a acção dos homens em sociedade. A acção social é uma conduta humana que se orienta para a acção ou para a abstenção. Esta conduta é acção quando um actor age segundo uma certa significação. A acção é social quando o actor se relaciona intencionalmente com outros indivíduos. Na acção social existe sempre uma reciprocidade de relações, de tal modo que cada actor social orienta a sua acção em função do outro, numa perfeita interacção social. Para o conhecimento da acção social a Sociologia apreende as características mais significativas da realidade (ciência compreensiva), organiza em conceitos o sentido subjectivo dessas significações (ciência interpretativa) e demonstra as regularidades da conduta social (ciência explicativa). O conceito de tipo ideal define-se pela apreensão das características mais significativas de uma dada realidade e a sua correlação num sistema lógico, de modo a obter um conhecimento mais profundo dessa mesma realidade. A noção de tipo ideal aplica-se a realidades históricas concretas, através da definição de um conjunto real e singular (capitalismo ocidental), através da definição de um aspecto genérico, que se converge com as instituições políticas (burocracia) e a reconstruções racionais de condutas particulares, através da idealização de modelos aplicáveis a sujeitos económicos puros (teoria económica). O tipo ideal do capitalismo ocidental é a reconstrução inteligível de uma realidade histórica global (regime económico capitalista) e singular (fenómeno único das sociedades ocidentais). O tipo ideal de burocracia é a reconstrução inteligível de uma estrutura permanentemente organizada, na qual se manifesta uma cooperação e complementaridade de funções hierarquicamente estabelecidas. A organização burocrática caracteriza-se fundamentalmente pela impessoalidade e separação entre família e instituição burocrática. O tipo ideal de teoria económica é a reconstrução inteligível de um corpus doutrinário, que possa servir de base para uma melhor política económica. Por vezes, as teorias económicas não se coadunam com a realidade socioeconómica fornecendo meras utopias somente aplicáveis a uma economia pura, sem crises cíclicas. Para o desenvolvimento do capitalismo ocidental contribuíram decisivamente: a separação entre família e empresa e a contabilidade racional. O surgimento da Revolução Industrial motivou o declínio das explorações artesanais familiares orientadas para a satisfação de um mercado local pouco competitivo. No capitalismo ocidental, a cobertura das necessidades colectivas realiza-se por meio de uma economia de produção, orientada para o mercado e na qual se manifesta uma forte organização empresarial. A empresa capitalista racional procura obter o máximo lucro na exploração das possibilidades de troca, metodicamente organizadas, com o objectivo de que no final de um período de actividade relativamente longo, o valor da produção possa ultrapassar o valor do investimento. Desde a Antiguidade que as relações económicas são impulsionadas pela expectativa do lucro, todavia nem sempre se desenvolveram segundo uma perspectiva racional de cunho ético. A génese da ética do protestantismo está patente no protestantismo ascético (calvinismo, pietismo e metodismo) que se desenvolveu a partir dos sécs. XVI-XVII condicionando fortemente o espírito do capitalismo ocidental. As crenças religiosas são determinantes para a transformação económica das sociedades, deste modo, a singularidade do capitalismo ocidental reside na existência de uma Ética protestante, que originou o aparecimento de uma burguesia empreendedora e apostada num sistema económico racionalista. De facto, a ética do protestantismo defendia a poupança e o reinvestimento do capital, na dinamização das actividades económicas; nos países protestantes, a Ética funcionava como um factor de regulação socioeconómica: o lucro era um objectivo de vida rigorosamente delineado, o dever profissional e o benefício comum da comunidade orientavam a actividade laboral. Contrariamente, nos países católicos do sul da Europa assistiu-se a um atraso económico, em virtude do despesismo, da mentalidade irracional do “lucro fácil” e de certos princípios religiosos (condenação da usura) favoráveis ao proteccionismo económico. |
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