Urbi@Orbi - Como é que recebeu o convite para integrar o Conselho Geral da UBI?
Henrique Monteiro - Com surpresa. Soube deste convite através do professor Queiroz que me informou que o meu nome fazia parte de um conjunto de personalidades que tinham sido cooptadas para este órgão. Um contacto que para além desta informação serviu também para me questionar sobre a minha disponibilidade em aceitar tal convite ou não. Claro que perante os factos não poderia deixar de integrar este conjunto de personalidades.
Conhecia a UBI de várias visitas que aqui tinha feito para integrar palestras sobre a minha área, Comunicação Social e estive também na cerimónia de atribuição do doutoramento honoris causa a Francisco Pinto Balsemão. Para além disso tinha algum conhecimento da instituição sobretudo pelo facto de conhecer esta região por motivos familiares. Tenho algumas ligações a Viseu e vou acompanhamento alguns dos desenvolvimentos de toda esta zona. Apesar de já ter nascido em lisboa sinto-me beirão, mais da parte da Beira Alta, mas sinto que tenho as minhas raízes aqui. Esta é a única universidade que existe aqui em toda a região pelo que tenho mais alguma atenção.
Acho que esta é, por isso, uma universidade interessante e que se deveria desenvolver. Ainda bem que se chama Universidade da Beira Interior, e não Universidade da Covilhã, ou Universidade do Distrito de Castelo Branco. Em Portugal temos de ter uma política universidade muito mais abrangente e não enveredar pelos erros que se cometeram noutras estruturas onde cada cidade teria de ter a sua universidade. A Covilhã, não sendo uma capital de distrito é uma cidade histórica com a sua importância e que merece ter uma universidade do interior, de todo o interior de Portugal e acho interessante que fosse possível estabelecer polos noutras cidades.
Urbi@Orbi - Poderá ser isso uma solução para a redefinição da rede de ensino superior?
Henrique Monteiro - Penso que si, não tenho uma posição fechada sobre a matéria, mas tenho a certeza de duas coisas; a primeira é a de que, estamos errados quando pensamos que cada cidade tem de ter a sua universidade e aquela é melhor que a da cidade vizinha. Veja-se o caso de uma unidade hospitalar, não vamos pensar que uma cidade é melhor por ter um hospital central, em detrimento de outra que não o tem e depois, com as vias de comunicação que temos, tudo deverá ser aproveitado e por isso devem ser mantidos acordos efetivos sobre que tipos de equipamentos públicos e serviços devem estar presentes em cada cidade, para não repetir erros do passado.
Urbi@Orbi – E a abertura das universidades a pessoas do exterior, que lhe parece?
Henrique Monteiro - Penso que é muito positivo. Pode-se discutir se esta é a melhor forma de governar uma universidade, mas julgo que o modelo está bem. Será que a melhor forma de governança deste tipo de instituições é o próprio reitor ser o gestor da universidade ou deve separar-se o arco de gestão da reitoria? Modelos para governar universidades há muitos. O que me parece é que, sendo qualquer estabelecimento de ensino, de qualquer nível, ele tem de ter alguma ligação à sociedade civil. Essa ligação é importante porque assim têm alguém de fora que lhes diga que algumas coisas vão mal ou vão bem, quem vem de fora tem esse olhar mais distanciado.
Urbi@Orbi - Falando um pouco mais em termos profissionais, um dos pontos altos da sua carreira de jornalista foi a passagem pelo lugar de diretor do “Expresso”. De que forma descreve essa experiência?
Henrique Monteiro - É uma experiência interessante, mas tal como noutras áreas, no jornalismo há uma carreira mais de direção e outra mais de escrita e de reportagem, fui sempre mais por esta última. Na altura foi uma passagem importante e fiquei até querer e o Ricardo Costa que estava como diretor adjunto acabou por assumir o meu lugar e manter todas as outras pessoas. Escrevo muito mais do que escrevia e acabei a coordenar mais a área das novas tecnologias.
A experiência de ser diretor de um jornal é quase como ser um maestro, porque se tem de dirigir um conjunto de pessoas que, de forma isolada, pensam ser solistas e os seus papéis são os mais importantes. Juntar todos estes egos e estes trabalhos é a função do diretor.
Urbi@Orbi - E nessa área onde se tem destacado, como assiste à evolução do jornalismo em Portugal?
Henrique Monteiro - O jornalismo hoje tem coisas piores do que já teve, mas também há que dizê-lo, tem coisas melhores do que tinha. O balanço é positivo. A exigência dos leitores aumentou brutalmente, no tempo em que comecei nestas lides mais de metade da população era analfabeta, e da que não era, grande parte não lia jornais, portanto os jornais eram feitos para uma pequena elite, hoje as coisas são diferentes.
Havia pessoas muito boas, mas também havia muito pouca ética. Agora estamos num mundo muito mais profissional, não querendo dizer que não existem coisas menos éticas, mas no global estamos muito melhor. O que falta aos jornalistas é humildade de perceber que o seu papel é o de mediadores que não lhes compete fabricarem nada, nem acrescentar nada ao que verdadeiramente acontece, nem têm de classificar tanto como classificam. No geral, os jornalistas são mediadores que devem estar entre os que têm a informação e os que a procuram e devem procurar e explicar essa informação de forma percetível. Isso é fundamental para a democracia, não só na área política, mas cívica e cultural, entre outras.
Urbi@Orbi – E o ensino do jornalismo, que lhe apraz dizer?
Henrique Monteiro - A maior parte do que hoje se ensina é comunicação social e não jornalismo, ou seja, as escolas de comunicação tanto formam jornalistas como quase todas as profissões que são incompatíveis com jornalistas como os relações públicas, publicidade, entre outros. Isto é mais ou menos como uma faculdade de medicina formar também ao mesmo tempo “cangalheiros”. O jornalismo em si é uma técnica e claro, que como todas as técnicas, se pode refletir teoricamente sobre ela, mas isto já numa fase pós jornalística. O que não faz sentido é uma pessoa começar por refletir pela comunicação e depois ensinar coisas como “o jornalismo é uma mensagem com alto teor de verdade”. Isto é a mesma coisa que dar um tiro na cabeça de um profissional. Um jornalista que esteja a dar apenas um alto teor de verdade e não toda a verdade deveria ser despedido. Podemos estar a discutir teoricamente se a verdade existe, mas o jornalismo não, se um carro bateu noutro, é porque debateu.
Tive um professor que fazia o seguinte exercício, imaginar que um país sofria dez revoluções no mesmo dia, nesse caso, quantas edições de jornais se deveriam fazer, dez, para se estar sempre atualizado. Mas nessas dez edições, quantas páginas se mudam? Talvez cinco ou seis em 40, e as outras, com os cinemas, farmácias de serviço, palavras cruzadas, etc. essas devem manter, não mudam. Isto para dizer que o ensino do jornalismo deveria ser completamente técnico.