Urbi@Orbi - Como é que viu o convite para integrar o Conselho Geral da UBI?
Paquete de Oliveira - Confesso que foi uma surpresa e estranhei um pouco, porque apesar de estar no mundo universitário há muito tempo, e grande parte da minha vida nestes últimos 40 anos foi ligada à universidade. Mas já estava a assumir a minha condição de jubilado. Ultrapassei todo aquele período que desempenhei as funções provedor, na RTP, e apesar de me manter ligado ao mundo académico, estava mais tranquilo. Quando alguns colegas me abordaram no sentido de ficar no Conselho Geral da UBI, confessei com alguma graça que já estava ‘fora de combate’. Pensava estar em tempo escrever algumas coisas que nunca fiz, até porque a minha vida tem sido algo trepidante, e tenho muitos apontamentos para acabar.
O convite partiu de colegas de longa data a quem no podia dizer não e então acabei por pedir alguns para pensar. Julgava que acabavam por se esquecer e terminar por ali esta aventura, mas nada disso, e então tive muito gosto em aceitar.
Urbi@Orbi - Já tem alguma experiência neste tipo de organismos, de que maneira avalia o trabalho dos conselhos?
Paquete de Oliveira - Já participei em dois conselhos. Na Universidade da Madeira, onde fui também cooptado e tive um mandato de quatro anos. Ainda antes destes experiência no Conselho Geral da Universidade da Madeira também fiz parte do Conselho Estratégico da Universidade do Minho. O reitor daquela instituição tinha constituído uma espécie de conselho geral, onde estavam membros externos, como é o meu caso.
Quando vim para cá, sempre foi com a perspetiva de ter um papel semelhante ao que desempenhei na Madeira, como um membro cooptado do conselho, aproveitando o conhecimento que tinha das universidades portuguesas. Estava muito longe de pensar que seria eleito para presidente, mas perante a votação acabei por aceitar.
Urbi@Orbi - E qual é a visão que tinha da UBI e como tem visto a nossa universidade?
Paquete de Oliveira - Como não sou estranho ao mundo universitário, tendo sempre desempenhado cargo de direção ou representação, nomeadamente no ISCTE, participei em diversas reuniões, algumas delas até do próprio Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP), e tinha conhecimento do espectro das universidades portuguesas. Por outro lado, como nunca pertenci a uma universidade grande isso levava a uma maior aproximação dos problemas das universidades ditas de média dimensão, como é o caso da UBI.
Tenho de dizer que sempre nutri admiração pela UBI, pelo que lia, pelo que via e ouvia da UBI. Isto porque, sempre fica uma admiração ao trabalho de uma instituição que está localizada neste território, vista a partir de quem vive no cosmopolitismo de Lisboa e dos grandes centros, e olha para uma universidade de média dimensão, no interior, que tem subsistido e afirmado e que está plenamente presente no panorama nacional.
Se já tinha uma boa imagem da UBI, agora como presidente do Conselho Geral, com o meu contacto mais próximo com a comunidade académica é uma universidade com muito interesse e até curiosa, porque sendo de média dimensão tem valências muito interessantes relativamente à pesquisa, à internacionalização, à relação com a comunidade envolvente. Tem também coisas curiosas como o único curso de cinema, a Biblioteca Online de Ciências da Comunicação (BOCC), cujo sucesso conheci através da Sociedade Portuguesa de Comunicação (SOPCOM) e da LusoCom, organismo que presidi durante dois mandatos e nos quais lidei com muitos colegas nacionais e estrangeiros que trabalhavam com estas áreas da investigação e do ensino no espaço lusófono e que apreciavam muito o trabalho que era desenvolvido na UBI.
Urbi@Orbi - Como vê a composição do Conselho Geral na sua capacidade de trabalho?
Paquete de Oliveira - Os primeiros Conselhos Gerais começaram há cerca de cinco anos e resultam da nova arquitetura de governança das universidades portuguesas. Estas estruturas são vistas como um grupo de apoio, mas também de vigilância, à conduta das universidades, conduta essa que continua a ter o seu eixo forte no reitor. Estes conselhos desempenham mais o papel de poder efetivamente garantir, por parte de colegas eleitos dentro da universidade e dos ditos externos, um conjunto de processos decisórios para a vida da academia.
Das informações que temos tido, o ministro da tutela está em processo de revisão do Regulamento Jurídico das Instituições de Ensino Superior (RJIES) e não sei se não estará em planos a alteração de mudanças dos conselhos gerais, na lógica das funções que estes órgãos desempenham. Estamos perante um conselho que é aglutinador de um espaço universitário composto por milhares de alunos, centenas de docentes e funcionários, e como conselho aglutinador pode muitas vezes não desempenhar as suas funções na direta correspondência dos pensamentos dominantes da universidade.
De uma forma geral, o conceito é interessante e desde há muito que vinha sendo aplicado em algumas instituições. No caso do ISCTE, que conheço há mais tempo, sempre tive o cuidado de trazer para os organismos de gestão, pessoas do exterior, para construir e manter ligações à sociedade. Penso que nenhuma universidade funciona bem se não tiver uma forte ligação com o exterior e se não conseguir ir buscar à sociedade envolvente pessoas para o seu projeto e trazer para dentro da academia, pessoas da sociedade civil.
Urbi@Orbi - Essa relação tem funcionado bem, na sua perspetiva, sobretudo com a presença de externos nos conselhos gerais?
Paquete de Oliveira - Penso que o balanço é positivo. Nesta primeira fase este organismo desempenhou apenas atividades relacionadas com a eleição do novo reitor, um processo que tem o seu calendário próprio e que contempla a análise de vários documentos e a realização de vários encontros.
Portanto, ainda não houve tempo do conselho entrar numa fase normalizada de atividade que é aquela que mais útil é aos órgãos da universidade e aos seus vários corpos, acompanhando a dinâmica da instituição tanto ele tem competência.
Urbi@Orbi - Pela já longa carreira universitária e também de ligação aos meios académicos como olha para a possível alteração à rede de ensino superior e o impacto que esta possa ter nos territórios onde estão implantadas algumas estruturas de ensino?
Paquete de Oliveira - Hoje todos sabemos que tem de existir uma forte discussão a rede de ensino superior. Há um conjunto de fatores que vão juntar-se à pura discussão desta rede, onde estou a incluir universidades e politécnicos. Mas isso é uma discussão que vai ter de acontecer e vamos ter de deixar de ver pequeno.
Portugal é um País pequeno em relação a tantos outros países, mas tem condições extraordinárias de mobilidade. Evidentemente que as instituições de ensino, quer politécnico, quer universitário, foram ciadas e dimensionadas para uma menor mobilidade no País e estão muito ligadas às problemáticas locais, das suas áreas restritas de influência. Daí que não pretendiam ser só resposta para as finalidades do que é o ensino superior, mas também aos anseios dos seus territórios. Essa discussão vai ser assim muito marcada pela problemática regional.
É natural que a componente política das autarquias, a componente política das regiões, a componente política dos institutos ou universidades, que têm todo o direito de tratar da sua sobrevivência, terá de ser muito bem conduzida. À universidades, como o UBI, que estão sólidas e afirmadas, por tudo o que conseguiu criar até aqui, não vão mudar, mas penso que para não desaparecermos todos, vão ter de existir articulações e vejo mais perspectivas de discussão da rede, neste âmbito.
Aqui terão de existir dois grandes objetivos. Por um lado, que subsistam as universidades que podem concorrer para o desenvolvimento do ensino superior e para o do próprio País e por outro lado, existir uma harmonização que possa dar resposta a outras situações como seja a valorização das regiões, a universidade não ser apenas um polo de casa de saber, mas também da dimensão da valorização das comunidades. Esta discussão vai ter de ser feita e vai ter de incluir todos estes fatores.
Urbi@Orbi - Foi durante vários anos provedor do telespectador na Rádio Televisão Portuguesa (RTP). De que moda analisa essa experiência?
Paquete de Oliveira - Durante muito tempo trabalhei em jornais e estive de alguma forma ligado à imprensa, fui chefe de redação e diretor de vários títulos e cheguei ao ensino superior já tarde. Por todo este trajeto talvez tenha sido o primeiro a integrar essas funções.
De facto, no panorama nacional, a figura dos provedores começa nos jornais e não nas televisões. O jornal Record, curiosamente, foi o primeiro a ter um provedor do leitor, depois seguiram-se-lhe outros, só mais tarde a televisão. A experiência não podia ter sido melhor. Os jornalistas e todos os funcionários da casa aceitaram-me muito bem e foram colaborando com todo o meu trabalho. O provedor teve grande aceitação pública com os telespectadores a enviarem muitas mensagens, mas foi uma experiência muito positiva e no final de dois mandatos pedi para sair porque julgava que era necessário uma renovação no lugar, no trabalho feito. Tenho dito muita vez que a televisão é capaz de dar muita notoriedade, mas também mata, sobretudo quanto à figura, quanto ao que se faz. Mas tudo foi no sentido de pensar uma forma de olhar para o que se fazia na RTP como sendo serviço público e julho que o resultado foi positivo.