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Gabriel Tarde e a Sociologia
Marco António Antunes · quarta, 24 de julho de 2013 · @@y8Xxv
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21993 visitas Gabriel Tarde (1843-1904) é considerado o “Pai” da comunicação em sociedade. Tarde define a Sociologia como uma interpsicologia, psicologia intermental ou psicologia social, que se rege pelas leis sociais da imitação, adaptação e oposição. A comunicação em sociedade realiza-se a partir de laços sociais. Tarde insiste na invenção dos indivíduos, mas qualquer descoberta consiste num encontro mental de conhecimentos já antigos e a maior parte das vezes transmitidos por outro num contágio imitativo. Neste encontro mental, pode existir uma oposição psicológica e social. O nominalismo de Tarde valoriza a importância do indivíduo na comunicação. A sociedade é o conjunto dos indivíduos e das suas relações interpsicológicas. No público existe a valorização da comunicação unilateral. O público é a colectividade social que permite aos publicistas e jornalistas as maiores facilidades de se imporem e às opiniões originais as maiores facilidades para se difundirem, assim as interacções entre os indivíduos pertencentes a um público são fracas. Mas a transformação de qualquer classe de grupos sociais em públicos explica-se por uma necessidade inevitável de sociabilidade, que torna possível a comunicação regular de informações e excitações comuns. (O público é um espaço de coesão mental entre indivíduos fisicamente separados). Na multidão existe a valorização da comunicação recíproca, logo a acção do líder inspirador aparece sempre contrabalançada pelos outros indivíduos. (A multidão é um espaço de coesão perante interesses materiais, étnicos e de nacionalidade entre indivíduos fisicamente unidos). Tarde não esclarece totalmente em A Opinião e a Multidão (1901) se a troca comunicacional que se verifica no decurso da actividade intermental recíproca permite a subsistência do pensamento individual independente. Esta aparente ambiguidade é, na verdade, resolvida em As leis da Imitação, através de uma posição dialéctica que configura a sociedade como um conjunto de leis lógicas e extra-lógicas e um facto social de imitação em que o laço unilateral precede o laço recíproco, embora exista a influência do meio social. A comunicação unilateral e a comunicação recíproca podem ser enquadradas na relação entre a interpsicologia e a temática da subjectividade e intersubjectividade. A interpsicologia tem a especificidade do pensamento nominalista de Tarde. No entanto, podemos comparar esta teoria à luz da temática da subjectividade e intersubjectividade, por exemplo no quadro da fenomenologia social. Por um lado, a invenção e a subjectividade correspondem a uma comunicação unilateral; por outro lado, a imitação (associada à oposição social e invenção) implicam uma comunicação recíproca ou intersubjectividade. Tarde assume-se como o primeiro sociólogo que se ocupa dos conceitos «público» e «opinião» enquanto domínios de uma psicologia do público (ou em linhas gerais de uma psicologia social). O público constitui, para Tarde, um modelo de sociabilidade destinado a substituir o modelo de descrição das relações sociais fundado na psicologia das multidões. Logo, o público, apesar de emergir das multidões, pressupõe "uma evolução mental e social muito mais avançada que a formação de uma multidão" (Tarde, 1986: 46). A ideia de que o público emerge das multidões é reforçada pela possibilidade de se poder pertencer a vários públicos num mesmo tempo, sem, contudo, ser possível pertencer a várias multidões num mesmo contexto temporal (Tarde, 1986: 50). Tarde propõe uma definição simplificada de público: "uma colectividade puramente espiritual, como uma dispersão de indivíduos fisicamente separados e entre os quais existe uma coesão somente mental" (Tarde, 1986: 43). A relação que se estabelece num público consiste, assim, numa relação social e espiritual. Para Tarde, o público, que alimenta a imprensa, está imbuído de um sentido de actualidade - "tudo o que inspira actualmente um interesse geral e inclusivamente ainda que se trate de um facto antigo" (Tarde, 1986: 45). Este autor considera como actualidade o caso Dreyfus. Por outro lado, para que o público partilhe a actualidade à distância da imprensa é necessário que exista uma sugestão de proximidade, a qual resulta do "hábito da vida social intensa" (Tarde, 1986: 45). |