Urbi@Orbi - É candidato à Câmara da Covilhã pela primeira vez. O que o move nesta empreitada?
José Pinto - É um desafio que surge na sequência daquilo que foi sempre a minha vida. Sempre estive integrado em projetos relacionados com a comunidade. Já de jovem, na minha terra natal – Caria – ajudei na criação da rádio local, na direção da União Desportiva Cariense, fiz parte de equipas de futebol, entre outras atividades. Também profissionalmente estive envolvido desde cedo em órgãos sindicais. Com a minha vinda para a Boidobra surgiu a oportunidade de liderar uma equipa autárquica e assim tem acontecido nas últimas décadas.
Por outro lado, em termos profissionais, como estou prestes a ficar aposentado achei que teria mais tempo para me dedicar à câmara municipal.
Urbi@Orbi - Como é que viu a sua escolha para encabeçar a lista apoiada pelo PCP à autarquia serrana?
José Pinto - De certa forma foi uma surpresa para mim. Não sou uma pessoa de ficar muito acomodado, mas também não tenho ambições políticas significativas, nomeadamente no reivindicar de qualquer cargo ou lugar, mas quando as pessoas me disseram que podia dar o meu contributo, para além daquilo que tenho feito na minha freguesia, acabei por aceitar esse mesmo convite.
Urbi@Orbi - Quais as áreas prioritárias para o seu programa de ação?
José Pinto - A vida dos portugueses não está nada fácil, como todos sabem. Condições que se agravam com a existência de duas troikas, uma a nível nacional e outra a nível concelhio, com uma série de impostos e taxas que estão a ser aplicadas às pessoas que residem no município da Covilhã, o prioritário e trabalhar para abolir o número de impostos que existem, baixar o custo da água a todas as pessoas, as taxas de saneamento, bem como os transportes públicos e o Imposto Municipal sobreImóveis.
Há que sublinhar que muito poucos conhecem a situação financeira real da câmara e isso vai obrigar a fazer um balanço de toda a dívida. Mas penso que, apesar de tudo, é sempre possível trabalhar a área social e de apoio às pessoas. Encontrar também respostas ao nível das famílias, nomeadamente no pagamento dos livros escolares que é uma obrigação da câmara. Aqui penso trazer para todo o concelho aquilo que tenho feito na Junta de Freguesia da Boidobra, onde as famílias já não pagam os livros escolares do 1º Ciclo há alguns anos. A isto junta-se um pagamento mais equitativo dos almoços escolares.
Estas são medidas que podem não ser muito significativas para o orçamento camarário, mas revelem-se de grande importância nas despesas das famílias e é por este tipo de medidas, entre outros, que a autarquia pode agir e facilitar as pessoas.
Urbi@Orbi - Depois de 20 anos de câmara social democrata são muitas as áreas que têm merecido a desaprovação dos candidatos à autarquia. Dívida, tarifas, entre outras. Como vai ser gerir todo este cenário?
José Pinto - Tenho que reconhecer que é muito difícil gerir uma dívida de 75 milhões, isto a fazer fé no valor mais baixo que se fala. Mas penso que com forma que nós pretendemos gerir a câmara que é numa abertura clara e transparente com a comunidade, sejam empresários, sejam trabalhadores, haverá sempre formas de o fazer. Haverá, obviamente, momento mais desafogados e outros menos, mas pelo menos pretendemos encontrar forma de financiar alguns projetos, nomeadamente através de fundos comunitários.
Nesta matéria há a registar a experiência que fui adquirindo ao longo dos últimos anos a este nível. Durante 15 anos fui presidente da direção e mais anos como membro da direção e essa experiência existe. Sabemos que é possível promover essas parcerias, mas por vezes conseguimos com dez, 20, 30 ou 40 por cento do valor fazer candidaturas que possam vir a ser financiadas por fundos estatais. Aqui programas como o PRODER e o QREN são exemplos disso. Através desta solução, estou em crer que vamos conseguir fazer algumas coisas.
Não vai ser uma tarefa fácil, mas terá de ser feita. Não pode também existir a duplicação de obras e infraestruturas. Vejo aqui um caso muito caricato e exemplar, perto da praça do município. Há alguns tempos, junto à antiga praça de táxis foram feitas obras, passados poucos anos estamos novamente a verificar uma intervenção naquela área. Isto só demonstra alguma falta de planeamento e má utilização de fundos, num concelho onde ainda falta tanto para fazer e onde ainda existem muito munícipes que não têm acessos condignos às suas casas, como é caso do Ferro, de Peraboa e de tantos outros.
Urbi@Orbi - Tem sido o único candidato do PC a ganhar as eleições. Como foi governar uma junta de freguesia num universo de juntas e câmara do PSD?
José Pinto - Isso só foi possível por uma questão de coerência. As pessoas habituaram-se a ver no José Pinto alguém que estava para lá dos interesses partidários. Ainda agora, quando muitos se mostram “independentes”, mas toda a vida foram militantes de partidos políticos e andam a rasgar cartões de filiação, volto a recordar que toda a vida fui independente, concorri com o apoio de partidos, e volto a fazê-lo nesta eleição, mas sou um candidato independente, e com isso tenho a capacidade de dizer, com frontalidade, o que interessa, sempre na defesa das causas, e isso não foi fácil, houve que recorrer muitas vezes a estratégias que podendo parecer uma brincadeira se tornavam coisas sérias. A exemplo disso, quando tive problemas de iluminação na Boidobra, juntou alguns candeeiros a gás e vim oferecê-los, em gesto de brincadeira, à autarquia.
A câmara, sempre com muitos boicotes, lá foi sendo obrigada a fazer algumas, ainda que pouca, coisa. Mas sempre com protesto, como foi o caso do parque de lazer, uma estrutura que junta muita gente, sobretudo na época de verão, e onde a câmara, por diversas vezes, cortava o fornecimento da eletricidade. Também o caso das placas de identificação da freguesia que foram arrancadas pela autarquia por duas ou três vezes, entre outros episódios. Eram maldades que só se faziam porque nós nunca nos vendemos a interesses partidários, a interesses económicos. E tem sido essa transparência e ligação às pessoas que permitiu a mesma equipa ser eleita por seis mandatos consecutivos para a junta de freguesia. Vitórias que espero agora conseguir também na câmara.
Urbi@Orbi - Com um cenário de vários candidatos torna-se cada vez mais difícil conseguir uma maioria. Caso venha a ser eleito, mas sem essa vantagem, com quem se pretende juntar para a conseguir?
José Pinto - Vamos ver o que os eleitores do concelho vão ditar. São eles que têm de fazer essa opção. O que vier a seguir será, seguramente, o que levar ao melhor funcionamento do câmara, e aí estamos abertos a consensos. Ainda não são conhecidos os programas eleitorais e se algum partido nos propuser uma coligação, era terá de ser analisada pela equipa de então e analisar se essa é ou não a melhor solução para o concelho. Continuaremos sempre a trabalhar para o concelho num papel de oposição construtiva.
Urbi@Orbi - Seria mais fácil trabalhar em coligação com partidos mais à esquerda, ou é-lhe indiferente?
José Pinto - Será mais fácil trabalhar com partidos que não nos façam aquilo que têm feito que é olhar para a sua cor política. Se o partido que nos fizer propostas não tiver subentendidos interesses partidários, tudo bem. Penso que existem alguns que se escondem agora numa fase de independência, mas todos sabemos que temos apenas três forças a concorrer à câmara, que são, o Partido Socialista, o Partido Social Democrata, dividido e um dos candidatos com o apoio do CDS e o conjunto formado pela CDU. Estamos sempre prontos a colaborar em prol dos interesses do concelho.
Urbi@Orbi - Já tem a sua equipa definida?
José Pinto - Ainda não temos toda a gente, mas posso já adiantar que em segundo lugar na lista à câmara vai estar a deputada municipal Mónica Ramôa e para número três, Carlos Gil, também já deputado municipal. Penso que são pessoas que são uma mais valia em termos de equipa. Para a junta de freguesia da cidade temos o sociólogo, Jorge Fael, para a junta do Tortosendo voltamos a ter Ondina Gonçalves, e para a junta da Boidobra vamos ter a encabeçar a lista João Francisco Simão, atual secretário da junta. São já alguns cabeças de listas que nos permitem estar confiante num grande resultado. As pessoas têm feito chegar até nós um descontentamento pela política nacional e local, e esse descontentamento tem levado as pessoas a pensar e se estas fizerem uma avaliação no nosso trabalho e nas nossas propostas verificam que há alternativas.