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Só um estúpido fecha o Espaço das Idades
Eduardo Alves · quarta, 19 de junho de 2013 · Um dos momentos mais quentes da política covilhanense tem sido promovido pela polémica em torno do Espaço das Idades. O coordenador da estrutura foi afastado seguindo-se uma lista de acontecimentos absurdos. No meio de polémicas, os utentes e a utilização de dinheiros públicos. |
O "Espaço das Idades" vai agora abrir com novas valências, diz a câmara |
21969 visitas As velhas letras de um verde gasto pelo tempo amontoam-se agora no parque de estacionamento do pavilhão da associação de desenvolvimento local RUDE. Se por agora representam um monte de plástico, outrora, alinhadas no topo do edifício, davam nome e forma ao “Mercado Popular”. Foi aqui que durante alguns anos se instalou o “Espaço das Idades”. Uma estrutura de apoio às atividades promovidas e pagas pela Câmara da Covilhã para os portadores do Cartão Municipal do Idoso. Nesta última semana, este mesmo pavilhão, localizado nas traseiras da estação de caminho-de-ferro, transformou-se no espaço mais vigiado de todo o património municipal. Os responsáveis pela edilidade entraram no recinto, alteraram as fechaduras e colocaram uma empresa de segurança privada, 24 horas a zelar pelas instalações. Estava consumado o “ataque final” de uma guerra que se vem arrastando há cerca de um mês. Mas se autarca e vereadores em funções pensaram ter ganho a batalha, os antigos inquilinos do Espaço das Idades, fintaram as voltas ao grupo e encontraram novo lugar. Casualidades do destino, o antigo edifício utilizado pela autarquia como sede da assembleia municipal e da divisão de obras é agora a “Fábrica dos Afetos”. As águas têm estado muito agitadas entre os protagonistas desta verdadeira “novela”. Mas para além da espuma dos dias importa contabilizar o custo de todos estes azedumes e as responsabilidades políticas dos vários intervenientes. Isto porque, segundo um comunicado da autarquia foram gastos cerca de 135 mil euros em funcionamento do espaço, a que se juntou um salário de mais de dois mil euros a António Rebordão, chamado para assessor de Carlos Pinto. A utilização média do espaço rondava os 800 idosos, num concelho onde existem 17 mil portadores do cartão municipal. Juntam-se também acusações referentes a situações menos claras relativamente à gestão do espaço. Perante estes factos, Fausto Batista, deputado municipal, acaba por colocar a questão que muitos munícipes colocam. “Porquê só agora defenderem o Espaço das Idades na cidade, e os idosos das aldeias do concelho, e as políticas e verbas de apoio às suas atividades?”. A interrogação encaixa quer na maioria que governa os destinos do concelho, quer na oposição que se tem reunido para apoiar António Rebordão. Carlos Pinto explica a sua versão dos factos na mesma reunião e aproveita para conquistar um aplauso do público. Diz o edil que “o povo da Covilhã sabe bem que só um estúpido está 20 anos na câmara e a quatro meses de se ir embora fecha um espaço que é o orgulho da cidade. É preciso ser-se muito estúpido para ter o presidente da câmara como estúpido. É preciso ser-se muito estúpido para acreditar que os outros são estúpidos assim”. Apesar da intervenção acalorada, uma semana depois, o “Espaço das Idades” é fechado. Alega a autarquia, que paga agora a uma empresa privada por um serviço de segurança 24 horas, que a estrutura irá reabrir com novas valências. António Rebordão é figura central em todo este processo. O presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria puxa para si toda a ideia que deu suporte a este movimento de apoio à população idosa. Rebordão lembra que grande parte da política social de proximidade para com os mais velhos “começou com a junta de Santa Maria que todos os meses fazia uma festa de aniversário aos seus moradores”. Esta e outras atividades depressa o levaram a apresentar uma proposta de ampliação do território de abrangência, a Carlos Pinto, presidente da autarquia. O social-democrata concordou e no dia 16 de fevereiro de 2009 “celebrámos um protocolo tripartido entre e RUDE, a câmara e a junta”, explica Rebordão. A autarquia pagaria a renda, a junta desenvolvia o projeto. Em junho desse mesmo ano o presidente visitou o espaço e verificou que estavam ali 58 ateliers e todos os espaços ocupados. “Tudo isto foi sempre feito na maior das cordialidades e honestamente”, acrescenta. Por tudo isto parece também ter surgido a recompensa para o presidente da junta que acabou por ser convidado como assessor, precisamente “para coordenar o Espaço das Idades”. A relação entre Rebordão e a maioria parece ter perdido a cordialidade, com o apoximar das eleições. O presidente de junta diz ter sido convidado por Pedro Farromba, vice-presidente da autarquia e candidato independente, apoiado pelo CDS, para integrar a lista às eleições do próximo dia 29 de setembro e recusou. Diz que passou então a conhecer melhor Carlos Pinto. Autarca que “sempre apoiei e ao lado de quem sempre estive”. Passou a conhecer “um presidente prepotente, um ditador que gasta fortunas sem ouvir ninguém com dinheiro do povo esbanjado em causas inúteis. Aquilo que o senhor presidente está a fazer é uma figura ridícula de quem nunca soube ter uma postura humana. E onde é que há orçamento financeiro para tudo o que agora está a ser prometido, viagens para o estrangeiro para os idosos, duplicação do apoio nas faturas da água e luz, vigilância privada a um espaço municipal, entre outras”, interroga. Mas uma questão central é também a da quebra de relações, passados todos estes anos de trabalho conjunto. Rebordão diz que tal não foi imediato, “como se quer fazer parecer” e que “há já algum tempo que se estava a instalar um mal estar”. acrescenta que “não são as pessoas que estão a colocar-se contra o presidente que têm culpa de só agora isto se revelar. A minha explicação passa pela retirada de confiança das pessoas que ele pensa não lhe serem totalmente subservientes. Neste momento, o presidente quer sair da câmara e deixar no seu lugar alguém que lhe permita continuar a gerir os dossiês que lhe interessam. Estará aqui em causa a seriedade de algumas questões? Deixo a interrogação no ar”, remata. Atesta que tinha vindo a ser colocado à margem, por diversas vezes, em variados assuntos. “Há algum tempo a esta parte, quando as eleições estavam a aproximar-se, tudo começou a mudar. Isto já vem de há muito tempo, quando me proíbem de falar à comunicação social, quando me proíbem de instalar uma farmácia social, a recolha de sangue para análise, junto dos utentes, a custo zero, a instalação de novos serviços de oftalmologia, entre outros. Apercebi-me que era o alvo a abater, sem saber bem porquê, até porque, nunca fui de apoiar nenhum candidato”. Por agora a “Fábrica dos Afetos” vai transformar a antiga sala de reuniões da assembleia municipal, num salão de baile. As danças políticas parecem continuar em vários ritmos e locais, com a reabertura do “Espaço das Idades”. A troca de palavras e propostas tem sido farta, e parece não abrandar até setembro. |